É verdade que tenho abandonado muitas coisas importantes outras nem tanto, é verdade o valor que dou levando uma vida agitada 24 horas por dia é sincero. Larguei meus livros empoeirados na estante, vinis espalhados, minhas garrafas de cachaça cheias, larguei meus amores, meus sonhos e decidi fazer aquilo que realmente se vale a pena: pescar. A sensação que me dá quando subo o rio acima, pescando, escutando o cantar dos passáros, reparando nos caranguejos no mangue nenhum dinheiro compra. Por isso, tenho andado tão ausente deste espaço. Deixarei aqui um poema que remente o tenho vivido e o valor que tenho dado para certas coisas.
Pesco porque amo pescar.
Porque amo os locais onde os peixes são
encontrados, que são invariavelmente belos,
e odeio os locais invariavelmente feios
onde se encontram as multidões.
Pesco porque, assim, fujo dos comerciais
de TV, de reuniões sociais e falsas
atitudes que a comunidade nos impõe.
Porque, em um mundo onde a maioria
dos homenns parece passar a vida fazendo
coisas que detestam, minha pesca é uma
fonte inesgotável de prazer e um pequeno
ato de rebeldia. Porque os peixes não mentem
ou enganam nem podem ser comprados,
subornados ou impressionados pela força do poder,
respondendo sempre à quietude, à humildade
e a uma infinita paciência.
Pesco porque suspeito que os homens
percorrem este caminho somente uma vez
e não quero desperdiçar minha viagem.
Porque não existem telefones nos rios em
que pescamos. Porque somente na natureza
posso encontrar solidão sem abandono.
Porque o whisky que se bebe em uma velha
caneca à beira de um rio é sempre mais
saboroso. Porque talvez um dia, eu capture
uma sereia. E, finalmente, não porque eu
considere pescar algo tão terrivelmente
importante, mas porque suspeito que tantas
outras preocupações dos homens sejam
igualmente sem importância.............
.......e nem de longe tão divertidas.
Poema do Livro A truta mágica de Robert Traver