domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quando nas minhas noites vazias, me perco no horizonte do passado, vejo tudo que fui, e o que me tornei. Sinto uma tremenda saudade dos tempos de outrora, da minha meninice, das meninas que passou pela minha vida, que levaram um pouco de mim. É um desconsolo que não sei explicar. Tantos tombos, tantas alegrias e momentos que não mais voltam - se deixa guardado em alguma gaveta da lembrança. O silêncio que me perco lembrando de tudo isso, da pessoa que fui, da pessoa que me tornei. Como se fosse um espelho pois sinto que o meu pai já vivenciou tudo isso também, numa das nossas conversas falando do passado dele, ele me disse que era um ser saudoso, que sempre se perdeu no passado, que procurava no passado o caminho que levava ele até o presente e o futuro. Tenho muita coisa parecida com o meu (veio), isso me deixa orgulhoso. Pois o malandro é uma das pessoas  mais simples que conheço, das mais belas e queridas que tive o prazer de conviver. Poucas horas atrás numa das nossas conversas telefônicas, senti uma puta saudade dos tempos que ele vivia conosco, comigo, com o meu irmão e minha mãe. Mas como sempre o rumo que a vida dá, nem sempre podemos mudar, o malandro se foi, mas sua presença continua forte, continua me iluminando nos caminhos que trilho e nos que sonho. E assim é a vida. A escrita aqui que sempre faço neste humilde espaço, tentando focar o cotidiano, focar aquilo que vivo seja nos bares, nos lares. Nem sempre também tudo que escrevo aqui foi vivido por mim, pois inúmeras vezes escrevi coisas imaginando o sofrimento e a vivencia dos meus semelhantes. Querendo entender o vazio que somos, as carência, os sofrimentos, as alegrias e tristezas. Hoje misturando tudo aqui, resolvi sem nem imaginar, talvez seja a chuva que cai la fora, pois sempre que chove algo muda aqui dentro. Uma espécie de solidão e vazio. Sempre erraremos, mesmo que por tantas vezes tentamos o caminho bom, o caminho do amor, o caminho de doar-se para preencher aqueles que estão ao nosso redor, claro que nem sempre é possível. Me baseando nisso tudo, resolvi escrever, claro que não é a escrita mais bonita do mundo, que contém inúmeros erros, mas escrevo como quem chora, com quem lamenta os males do mundo, que vive a mercê da esperança de ver tudo isso mudar algum dia, de querer e fazer para que mude, pois toda a mudança começa dentro de cada ser ao amanhecer. E por fim, tudo isso que escrevi foi querendo dizer do passado, da vida, da enorme presença do meu pai dentro de mim, pois o meu misto de saudosismo com emoção, me faz assim e por fim como costume dizer com os olhos marejados termino por aqui.
Quando em ti me achei,
em ti me perdi.

Quando do mundo me enchi,
deitei minha cabeça no teu ventre e dormi.

Quando nos sonhos mais triste, morri,
vi a luz nascer nos olhos teus.

Neles encontrei os meus tão perdidos.

Assim enxerguei a luz, que é vida,
assim espantei de vez a escuridão que é a morte.

POEMA PARA UM DOMINGO CHUVOSO

Os Astros Íntimos
Thiago de Mello.

Consulto a luz dos meus astros,
cada qual de cada vez.
Primeiro olho o do meu peito:
um sol turvo é o meu defeito.
A minha amada adormece
desgostosa do que sou:
a estrela da minha fronte
de descuidos se apagou.

Ela sonha mal do rumo
que minha galáxia tomou.
Não sabe que uma esmeralda
se esconde na dor que dou.

A cara consigo ver,
sem tremor e sem temor,
da treva engolindo a flor.
Percorre a mata um espanto.

A constelação que outrora
ardente cruzava o campo
da vida, hoje mal demora
no fulgor de um pirilampo.

Mas vale ver que perdura
serena em seu resplendor,
mesmo de luz esgarçada,
a nebulosa do amor.

WALTER ALFAIATE


Morreu mais um ícone da música brasileira. Perante a dor prefiro me calar. Então meu caro, vai na fé, vai deixar saudade, mas tua música nos consolara neste triste mundo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

VIDA NOTURNA

Em homenagem ao meu caro amigo, companheiro de boemia, parceiro de conversas intermináveis, aqui deixo uma música, uma garrafa, um maço de cigarros e meus sinceros agradecimentos. Viva meu caro, a vida noturna sem ela não sei o que seria da gente, amante dos butecos vagabundos, das mulheres, do samba, da vida.

OXOSSI

 
 
Oxossi, Osòsi ou Odé. Orixá cultuado no candomble e Umbanda tido com um dos mais caçadores dos orixas.Oxossi é filho de Iemonjá com Orunmila. É a divinização da floresta, reinando sobre o verde, sobre os animais selvagens, dos quais é considerado o dono e dos quais tem todas as virtudes. Oxossi é sagaz como o leopardo, forte como o leão, leve como o pássaro, silencioso como o tigre, observador como a coruja. Sabe se esconder como um tatu, é vaidoso como um pavão, corre como os coelhos, sobe em árvores como macacos, conhece os animais profundamente e com eles partilha o conhecimento da natureza.Dizem os mitos que aprendeu a caçar com seu irmão Ogun, quando este lhe deu as pontas de flechas e, mais tarde, a espingarda. A essência de Oxossi é “atingir um objetivo”. Fixar o alvo e atingi-lo. Alimentar a família. Oxossi sempre foi o responsável por alimentar a família. É considerado o orixá que dá de comer às pessoas, pois sob seus domínios estão os animais e os vegetais. Assim, invoca-se a energia de Oxossi quando se quer encontrar algo ou atingir algum objetivo e para prover sustento (moral ou físico) durante as jornadas.Invoca-se Oxossi, o patrono da natureza, quando se quer encontrar remédios para certos males, embora seja necessário pedir para Ossain que o remédio faça efeito. Ogum assim o fez, mas como Oxossi relutasse em voltar ao lar, e ao voltar desfeiteasse sua mãe, esta o proibiu de viver dentro da casa, deixando-o ao relento. Como havia prometido ao irmão ser sempre seu companheiro, Ogum foi viver também do lado de fora da casa.Oxossi tornou-se o melhor dos caçadores e diz o mito que foi ele quem livrou Araketu, sua cidade, de um grande feitiço das perigosíssimas ajés (feiticeiras africanas) Iyami Osorongá, que se transformam em pássaros e atacam as pessoas e cidades com doença e miséria.Tendo uma das feiticeiras pousado sobre o palácio do rei do Ketu e os demais caçadores do reino perdido todas as suas flechas tentando mata-la, Oxossi, com apenas uma, deu cabo do perigoso pássaro, tendo sido conclamado o rei do Ketu. Pede-se a Oxossi, portanto que destrua feitiços ou energias maléficas.Um dia, enquanto caçava elefantes para retirar-lhe as presas, Oxossi encontrou e apaixonou-se por Osun, a deusa das águas doces e do ouro que repousa em seus leitos, e com ela teve um filho, Logun-Edé. Filho da floresta com as águas dos rios, Logun-Edé é considerado o orixá da riqueza e da fartura, que ambos os domínios apresentam e dos quais compartilha.
Dia da semana: terça-feira
Cores: azul e verde (azul pela relação com o ar – no lançamento das flechas – e verde pelas matas).
Símbolo: Ofá (arco e flecha)
Elemento: ar e terra
Número: 3
Comida: milho e coco
Saudação: Okê Aro, Oxossi!
Folhas: espinho cheiroso, alecrin, folha da jaqueira
Odu regente: obará
 

60 ANOS DE VIDA - PAULO CESAR PINHEIRO



Tenho para mim na minha modesta opinião que Paulo César Pinheiro é o maior letrista da música brasileira de todos os tempos. Compositor incansável, escritor, poeta. Paulinho como é chamado para os mais intimo, tem cerca de 1500 músicas gravadas, parceiro de inúmeros compositores. Conheci tua obra, através de alguns sambas dele feito em parceria com Baden Powell, como o maravilhoso Lapinha. Estará fazendo neste fim de semana, o show em comemoração aos 60 anos de vida, o palco será o Sesc Pompéia. Deixo aqui a dica.

Paulo César Pinheiro está associado ao que de melhor a música brasileira produziu nos últimos 40 anos. Letrista com mais de 2 mil músicas, Paulo César Pinheiro atravessou quatro gerações de parcerias, de Pixinguinha a Lenine, passando por Radamés Gnattali, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, Sivuca, Edu Lobo, Francis Hime, Dori Caymmi, João Nogueira e Raphael Rabello. Suas composições podem ser ouvidas nas vozes de intérpretes como Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Elis Regina, Nélson Gonçalves, MPB-4, Paulinho da Viola, Nana Caymmi e Sarah Vaughn, entre muitos outros. No repertório, canções como “Lapinha”, “Refém da Solidão” e “Quaquaraquaquá” (com Baden); Matita Perê (com Tom Jobim), Ingênuo (Pixinguinha), “Viagem” (João de Aquino), “Vento Bravo” (Edu Lobo). 

Deixo aqui um dos inúmeros sambas maravilhosos que compôs - Lamento do Samba.

Futebol sendo a desculpa para dar um pulo no buteco, porque não a desculpa para o porre, para o vômito, para a ressaca do dia seguinte? Ontem não se sabe como consegui chegar em casa - confesso que o meu coração pedia um pouco de emoção e porre, foi o que dei a ele. Noite por sinal de fortes emoções posso dizer - meu reencontro com minha espelunca querida, marcada por uma alegria intensa, rever alguns amigos bebuns que há tempos não via, sentar naquele velho banco, sentir os olhos se perderem, se encontrarem. Papear com os amigos, gritar bem alto o gol, lamentar as chances perdidas. Ontem como há tempos não fazia, bebi os mares, bebi os rios, minha boca parecia uma chaminé saia mais fumaça que escapamento de caminhão. Tosse seca, peito quase estourando. Perdi a conta de quantas ampolas bebi, quantas doses de conhaque, enfim. Vim embora caminhando lentamente como sempre faço reparando nas casas, no silêncio que a madrugada me dá, na paz, no choro, em tudo que a vida tem me dado. Mas nem tudo é maravilha, depois do porre, vem a desgraça, porque toda embriaguez será e deve ser castigada, passei mal pra cacete, tremedeira, suor frio, vomito, dor de cabeça. Pensei que morreria, mas pra minha sorte os deuses assim não quiseram me deram mais um dia, não lamento que tudo que fiz, joguei a desculpa no futebol, prometendo cautela na próxima ida até a espelunca, prometendo me cuidar num futuro breve. Apenas prometendo. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

HOJE, HOJE

Tempos atrás numa das imensas e variadas conversas de butequins, disse ( ainda me lembro, mesmo de porre), que a vida não é vida sem futebol. Que o futebol era a desculpa para o encontro nos bares, para tirar o tormento da semana, papear com os amigos, esquecer as dores do cotidiano e beber algumas ampolas. Sempre fui ao buteco em dias de futebol seja torcendo pelo o meu time, ou acompanhando os amigos na busca de uma vitória de seus times para espantar os males e ter uma noite tranqüila. Hoje não será diferente, escrevendo este mini-relato, essa mínima crônica me vem na cabeça cenas marcantes, momentos históricos se que passaram nos botequins. Meus olhos marejados se perdem no passado, ainda dói quando lembro da queda do meu time para segunda divisão, na qual meus amigos me consolava naquela triste tarde de domingo. Ou na vitória quando se consagrou campeão naquela quarta-feira alegre, aonde a rua era preta e branca. Hoje para mim e para milhares começa o ano, claro que o Brasil anda apenas depois do carnaval todos já devem saber disso. Para mim, hoje é uma noite importante, estarei naquela esquina, naquele bar, sentado naquela cadeira olhos colados na televisão, copos e cigarros em mãos ( mesmo sendo proibido fumar dentro de lugares fechados, lá pode, lá pode tudo), rodeado com os amigos do peito, torcendo para a vitória do meu time. Tendo toda a certeza do mundo, que o que vale é isso, é a simplicidade cada vez mais perdida muito a muito, pelo os ignorantes de plantão, que se trancam dentro da suas residências se tornando cada vez mais egoístas no sentido maior da palavra.Tendo a certeza que o futebol ainda é o esporte favorito capaz de unificar o mundo, capaz de fazer amigos sentarem numa mesa e papear, rindo das desgraças, chorando em cada gol marcado, lamentando cada gol perdido. Hoje estarei naquela arquibancada, mesmo que espiritualmente falando torcendo como os milhares ali presentes, na busca de mais uma vitória, para enfim, poder sorrir, poder dormir em paz, enquanto existir na face da terra: amigos, cerveja, futebol, boteco, tenho a certeza de que vale a pena viver, mesmo tendo dias que não preferia existir.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Wilson das Neves

Quando nada mais faz sentindo, quando se perde nos horizontes da vida, o jeito é silenciar, beber um trago. É nessa hora que entra o samba, entra numa espécie de alento, para enfim nos colocar de volta na vida. Deixo aqui mais um dos sambas que aprendi a gostar, samba do mestre Wilson das Neves - Ensinamento. Abrir a primeira ampola do dia, curtir este maravilhoso samba.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

PAULINHO DA VIOLA - PRA QUE MENTIR


Todos que lêem essas mal-traçadas, já devem estar cansados de saber da minha paixão pela música de Paulinho da Viola. Nada melhor para começar uma semana, abrindo uma cerveja gelada, saboreando a chuva que cai lá fora molhando aqui dentro na alma. Deixo para vocês leitores, uma canção, desejando boa semana para todos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nessa madrugada,
o tempo passa,
arrasta tudo com teu laço.

Minha visão embaça,
depois de algumas doses de conhaque.

Ali creio, que a vida é o que faço.

Porta de boteco, sentado na calçada,
penso em tudo que faço - e o que queria.

Me desfaço na busca de achar,
e achando vou me perdendo.

Vou batucando na caixinha de fósforos,
vou fazendo meu samba.

Penso em ti, me perco de mim,
aonde me acho nesta busca intensa,
de lhe achar perdido no espaço.

Aonde faço nada brota,
nada me alimenta,
nada cura.

Tudo desfaço, tudo se encaixe.

Assim mais uma madrugada me mato,
no tormento devasto da saudade.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sei lá que horas são, pra mim não importa. Meu caro amigo, valeu pelo o papo e pelo o porre. Valeu pelo samba, valeu pelo sarro. Valeu meu caro amigo. Meus dedos se perdem no teclado, como lhe  disse tenho vontade de dizer para ela, que amo ela, mas não adiantaria. Será que ela ainda lê este blogue? Chico Buarque me deixando ainda mais solitário nessa noite, querida se você ainda perde tempo lendo tudo isso, sabe que mesmo embriagado, te amo!!!!!
Posso dizer que minha sorte é grande - tenho grandes amigos, sei eles não saberia viver. Dos muitos amigos que perdi, dos muitos que se foi, aqueles que virão, e todos os outros. Como sempre falo - minha alma é velha, apesar do corpo de menino, sou um velho. Apesar dos vinte e poucos anos, tenho amizades com pessoas bem mais velhas do que eu, e isso me dá um orgulho danado. Hoje repensando nos valores de minha vida, depois de um longo porre na noite de ontem, no qual até poucos minutos atrás recuperava energia perdida na noite anterior. Mas como nem tudo é descanso, pois nem tudo é calmaria, voltei a beber. Estava a poucos minutos atrás passeando com minha cachorra na praça - quando de longe vejo um aceno na minha direção, meu querido e saudoso amigo seu Leonso, me convidando para uma cerveja, quem me conhece sabe que não descarto essa idéia. Seu Leonso, tremendo malandro, tremendo boemio, aprecia-dor da boa música brasileira, boa pessoa, honesta, humilde. Com ele aprendi a gostar da música da época de ouro do rádio, conheci grandes cantores, grandes músicas. Virei uma espécie de saudoso também. Disse a ele que não estava recuperado da noite anterior, mas que aceitava um trago e um copo. Mesmo minha tosse de tuberculoso não me deixando de lado, consegui ficar ali durante duas horas bebendo e fumando, ouvindo as estórias do malandro, conhecendo um pouco mais, já que é um tanto mais vivido do que eu. É prazer, meu caro dividir a mesa com você, sempre aprendo muito, sempre rio muito. Deixa eu recuperar minha saúde, que voltaremos a beber e muito por sinal.
O que posso dizer depois da perda - o silêncio é o que digo. Silencio pois quando me silencio, me escuto, me olho para dentro e me perco. Quando falo, nada escuto, minha dor se perde nos labirintos de minha fala. Quando silêncio é o meu peito que pede, quando nada falo, quando tudo que calo arde na madrugada vazia, escuto o samba que me acalanta. Quando sozinho sou mais forte, quando sozinho me encontro, lamento tudo que perdi, lamento que cada um leve meu pedaço. Quando não mas restar pedaços de mim - dentro de mim, é hora de sair para me procurar. Até quando nas entrelinhas das minhas linhas errantes restar meu pranto, até quando me levanto, até quando me encontro, até quando desejo a morte de mim pelos cantos. Quando me perco talvez me encontro, quanto pedaços levaram de mim, não sei dizer, talvez junte um dia, para jogar na vala. Quando o barquinho de Iemanjá levar minhas cinzas e meu canto, talvez alguém possa surgir e lamentar a perca do meu canto. Quando tudo permanecer assim, não posso dizer, nada além do meu pranto. Quando as linhas se perdem, nos oceanos, e lá restar nada mais que o meu desgosto, canto.

VALSA DO MARACANÃ

Quando eu ficar assim
morrendo após o porre
Maracanã, meu rio,
ai corre e me socorre
Injeta em minhas veias
teu soro poluído
de pilha e folha morta,
de aborto criminoso
de caco de garrafa
de prego enferrujado
dos versos do poeta
pneu de bicicleta
Ai, rio do meu Rio,
Ai, lixo da cidade
de lâmpada queimada
de carretel de linha
chapinha premiada
e lata de sardinha
o castigo e o perdão
o modess e a camisinha
o castigo e o perdão
o modess e a camisinha
Ai, só dói quando eu rio,
Maracanã, meu rio
Maracanã, meu rio
Ai, só dói quando eu rio

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

NADA

O que posso dizer dessa noite, meu caro amigo. Digo que valeu pelo o nosso porre simples e sincero. Valeu por nossa conversa simples e sincera. Sei que você ser humanos exemplar já deve estar sonhando com as mulheres, pois malandro que és, deve estar conquistando elas no sonho. É verdade meu caro, quando lhe diz, que o meu destino é sofrer pelas madrugadas vazias, você me disse, que o meu coração não vai agüentar tanto sofrimento. Você tinha razão ela não aguentou - nessa noite vazia e solitária deixei um pedaço dele nas ruas, deixei um pedaço dele com os cachorros que me acompanharam na minha vinda do bar até em casa. Meu caro, acredito que partirei hoje de madrugada, o samba esta rolando na vitrola, o cigarro no cinzeiro, mas permita-me um favor? Quando no meu velório for, peça para tocar aquela música do Aldir Blanc e estender a bandeira do meu time do coração em cima do caixão. Jogue também, meu caro, um copo americano pois você deve saber que lá no céu - é tudo correto e eles não devem usar copos vagabundos como eu gosto. E também lhe deixei o número de minha menina, liga para ela, e diga que sempre amei-a, quando for jogar terra em cima de mim - jogue aquele livro do Guimarães Rosa, o disco do Cartola e meu chapéu Panamá, pois quero estar acompanhado no paraíso.
É madrugada, é vazio, é silêncio. A casa vazia, silêncio interrompido pelo samba que sai da vitrola. Minha voz pigarreada cantando samba - esquecendo minhas dores. Não vou mais brigar com o criador e nem buscar em tudo uma razão, deixar o tempo me ensinar, que cada dia é uma lição. É minhas noites não tem como ser esquecidas. É papo, é conhaque, é amor. Dentro de mim me perco, dentro de mim me acho. Digo sempre que não quero viver muito - sinta-se a vontade Deus de me levar nessa noite, pois eu já bebi muito, vamos acertar as contas, pois covarde sou, não quero te encarar são. Vai me diz, porque me fizesse um ser tão infeliz? Me diga porque tirou de mim minhas alegrias, me deixando assim sozinho nas esquinas. Vou beber é claro que vou, não me importo o que farei aqui na terra, e nem o que levarei ai, para aonde eu vá. Quero que tudo se (phoda), inclusive minha vida. Quero é chorar meu querido Deus, isso, chorar nessa madrugada vazia, quero lembrar dos sambas, quero chorar a saudade da minha menina, que tu roubou de mim, quero aqui como meus cigarros apagados no cinzeiro, meu coração solitário a lamentar tudo que tu roubaste de mim. Quero neste texto embaralhado feito minha visão, desejar que nessa noite eu parta para ao longe, aonde não exista dores, quero descansar, pois o meu coração é fraco, pois o meu pulmão parará também, e assim meu Deus, permita que parto hoje, permita morrer de porre ouvindo samba - batucando na mesa. Permita meu Deus você que é o criador e me mandou para essa terra cheia de dor, me leve hoje, por favor.
Para menina do sertão

Querida, lhe peço apenas,
me diga como é março no teu sertão.

Querida me diga apenas como faço,
para entrar no teu coração.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

TENHO VISTO

Minha imaginação percorre caminhos que não percorremos juntos, se perde neles. Tenho te visto aonde nunca fomos, tenho te amado como nunca antes. Tenho te visto ali naquela cama, nua, despida dos valores imposto pela sociedade - despida de tudo, despida de amores de outrora, despida de mim. Tenho te visto até quando não lhe conhecia. Tenho te visto nos meus sonhos, nos meus amores por outra qualquer, tenho te visto aonde me perdi, tenho te visto ao longe, tenho te visto nos meus sabores, nos meus cigarros apagados. Tenho te visto nos lugares improváveis, tenho te visto assim simples como você sempre foi, tenho te visto nas entrelinhas dos livros que leio, nas entrelinhas daquelas linhas que tento aqui escrever sem êxito, tenho te visto no fundo dos copos que bebo. Nos butecos mais vagabundos, tenho te visto na batida do samba que escuto, tenho te visto no amuleto que outra menina usa. Tenho te visto aonde meus olhos enxergam, tenho te visto no voo dos pássaros pela manha. Tenho te visto nos cantos aonde me perco e aonde me encontro. Te te visto sentada no banco da praça, tenho te visto caminhando com teu cão de raça. Tenho te visto distante do que faço, tenho te visto no cansaço, e no descanso. Tenho te visto do remanso, nas marés. Tenho te visto no pano das jangadas, nos saveiros. Tenho te visto nas ondas que o mar deixa na areia. Tenho te visto, tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Tenho te visto quando eu apareço você some, tenho te visto aonde você nunca se encontra. Tenho te visto nas noites sem sono. Tenho te visto em tudo que me consome, tenho te visto no calor daquela noite insone. Tenho te visto, até mesmo quando você some, sem deixar nada além de teu nome.
Horizonte imenso horizonte. Campos verdes, montanhas imensas, precipícios, serras, curvas, buracos, beleza, paixão, horror, saudade, estrada longa pela frente. Estrada imensa aonde tu me levará? Estrada que tantas vezes - percorri, que tantas vezes senti, que tantas vezes me curvei, que tantas vezes parei, que tantas vezes chorei, que tantas vezes parei, continuei. Estrada aonde tu me levarás? Aonde tu me levará, seja no sertão, seja no oeste, seja no norte, leva-me junto com os meus desnortes. Trás junto o tempo com tuas cinzas e brisas e porres. Leva ao longe minha querida estrada essa saudade que nessa noite me arrasa, leva minha amada estrada, no clarão dos seus faróis ilumina o caminho dela. Trás junto aqui nessa alma errante e vadia, os rumos que juntos sentado naquela escuridão vazia traçamos - trás lá de longe quem sempre quis por perto, trás os trilhos minha amada estrada, no silêncio daqueles que você guia, a solidão prazerosa de nunca saber aonde iremos parar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Era madrugada caminhava lentamente pelas ruas que me viram nascer. No céu algumas poucas estrelas e a lua prateada iluminando o carnaval dos tristes e solitários. O silêncio era tamanho, apesar da data, que exige barulho, festa, o que se via era o contrário, silêncio. Silêncio que se estendem até o buteco pé-sujo cravado ali naquela esquina, poucos presentes para meu eterno delírio que só pensava em beber uma dose para espantar o vazio. Vazio que é consolidado em épocas festivas, troço que não sei o que acontece, pois em época de festas prefiro o silêncio, o afastamento de quase todos. Me refugio assim posso dizer. Misto de emoção e tristeza, invadindo meu ser, dominando minha alma padecida de outrora, rabiscando versos em papel guardanapo, assim passei madrugada a dentro. Madrugada que foi estendida até o raiar do dia, quando não mas foi possível continuar em pé, os cigarros acabados, conta paga, hora de voltar para o lar. Cambaleava pelas ruas - num zigue-zague, reparando no raiar do sol, invadido de luz de paz. Cantarolei alguns sambas, como sempre faço, depois de longas bebedeiras. Dei risada, ri de mim, ri da minha vida, ri como nunca ri antes da minha desgraça, do meu jeito de ser. O dia anunciava que mas uma vez meus passos se perdiam, que era hora de repousar para quem sabe, mas uma noite de boemia, mas uma noite de amor vadio. Quem sabe, jamais deixar este meu bairro, essas minhas ruas, nunca jamais apagar do meu imaginário, os traços do passado, os traços que virão no rabiscar do sol sobre a folha de papel em cada novo amanhecer, morrer e renascer nessas ruas que viram crescer, e provavelmente verá morrer, desfalecer naquela madrugada, depois de um longo porre.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

É verdade que somos aquilo que vivemos e acreditamos ser. É verdade que amo bar, e minha sina não será outra. Apesar dos pesares ali naquela esquina ainda continua sendo meu posto, minha parada, meu bar. Cravado ali naquela esquina suburbana - será sempre o meu bar. Mesmo muitas vezes questionando o lugar, questionando a amizade ali existente, ali será o lugar. É carnaval e minha emoção não deveria na verdade estar ausente, por isso devidamente embriagado, depois de alguns dias ausente sem beber, procurando o motivo para tudo isso, encontrei. Amigos. Penso que posso perder tudo na vida, mas não os amigos que tenho, sem eles à vida seria um erro. Sem eles a vida seria um vazio no qual não sei se aguentaria viver. Com esse medo que tenho de partir cedo, tento de certa forma viver o máximo possível. Vamos levando, vamos chorando, vamos indo até o dia que for nos concedido, vamos sambando, vamos pensando, vamos indo. De porre ou na paz, o que importa é se fazer viver, é acreditar na paz, é acreditar no amor, é buscar ser em vez de querer ter. É querer estar presente mesmo estando ausente. É querer beber os mares, é querer acreditar duvidando, é quer mais sem poder, é querer sem querer esquecer aquilo tudo que passou, é acender um novo amor com a bituca do amor passado. É querer se perder para poder se encontrar, é querer sem querer, é querer me doar sem se entregar, é perder no seu ventre, é querer brotar ali no seu ventre, uma nova semente, um novo ser. É querer se doar, mesmo não querendo. É se perder no horizonte dos olhos teus. Peito dilacerado, coração nas mãos, poesia errante, coração vádio, muita saudade, leve impressão que tudo se foi, que a esperança se perder, que no amanha tudo virá como antes, sem a certeza do que escreve e pra quem escreve. Tudo assim misturado perdido, tudo embaçado, tudo esquisito.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VILA ISABEL

Posso dizer que tive o orgulho e prazer de conhecer o mundo da música brasileira, especialmente o samba, e devo tudo a ele, meu velho amigo e boemio, Clayton. Que indicou o mundo vasto da música brasileira. Estudioso do riscado permitiu que navegasse neste mundo. Hoje numa das nossas imensas conversas ao telefone, lhe disse que estava emocionado, com o samba enredo da Vila Isabel. Que homenageia Noel Rosa. Lhe agradeci naquele instante, pois mudou os rumos culturais de minha vida. Daqui a pouco Vila Isabel entrará na Sapucai - como disse minha torcida é pra ela, pois na minha modesta opinião está homenageando o maior compositor da música brasileira, Noel Rosa. Então copos na mesa, cigarros nos dedos, e muito axé para a Vila, que não quer abafar ninguém só quer mostrar que faz também.
Saudade de amar, é o que sinto. Saudade de ver minhas noites mal dormidas à pensar numa menina. Saudade de meu peito arder na febre da saudade, na cólera da busca pelo corpo nú da menina cheia de perfume. Saudade de esquecer as dores pequenas do meu peito vadio, me entregar no mar dos teus olhos pacíficos. Acalentar minha alma no balanço do teu ventre. Vontade de cantar sambas ao pé do ouvido. No olhar da minha amada quando retornar da boemia - lhe querendo ainda mais. Apenas saudade, apenas delírio. Pois tudo isso na verdade é história antiga, pois em noite enluarada ainda lembro de ti. Quando tudo se perde no meio do vazio é hora de se entregar sair do quarto vazio, buscar a luz no olhar da pessoa amada.

VILA ISABEL 2010