quarta-feira, 31 de março de 2010

MEU CARO PAI

Meu caro Pai, 

Tu que andas ausente deste teu pobre filho. Que tu colocaste neste mundo para sofrer um tanto. Pai aonde tu andas meu caro pai? Em qual buteco tu se perde, em qual quebrada tu vive, apareça meu caro pai. Teu filho que anda um tanto ausente se perdendo nos bares da vila - bares que tu cansaste de entrar e se perder ali, meu caro pai aonde tu se meteste nessa noite, aonde tu parasse que não lhe encontro. Meu caro pai a saudade de tu me imunda, meus olhos marejam ouvindo essa moda de viola que sempre amou. Tu que sempre foste um músico na tua maneira, sem ligar para modas, tu que sempre carregaste a minha querida Gerais. Hoje este pobre ser que tu colocaste ao mundo naquela manhã cinza de abril no ano de 1984 de lá pra cá a vida meu caro pai foi um tanto dolorida, meu caro pai tu que sempre foste alegre, malandro, apareça. Venha diminuir meu pranto com tua presença, venha meu caro pai. Deixo aqui uma música que tu cantaste naquelas tardes de domingo, para que tu sempre saiba o tanto que lhe amo. 

terça-feira, 30 de março de 2010

UMA TARDE QUALQUER

Tu que andava perdida pelos os bares, pelas praças, pelos teatros. Um tanto perdida de si. Te encontrei naquela tarde, pois haveria de ser o nosso primeiro encontro - uma tarde cinza, a metrópole passando apressada. Uma praça, uma pausa para compra de cigarros, uma cadeira, uma mesa, algumas garrafas e você do outro lado da mesa a me contemplar. Percebia teu olhar  perdido em mim, prestando atenção na minha fala simples, nos meus poucos adjetivos, percebia algo de sublime em você. Por ser o nosso primeiro encontro quase nada esperava, além de te conhecer. Conversas variadas, diversos temas, diversos copos, diversos olhares. A noite se aproximava, as horas passavam rapidamente. Falávamos de tudo, cantávamos sambas que um como o outro adorava, falava da vida, do desespero de viver, do desespero que é entender certas coisas. De lá pra cá andamos um tanto ausente um do outro, você tomou caminhos desconhecidos por mim, assim como eu tomei caminhos desconhecidos, mas ambas de doando, vivendo, se entregando. Boemia comendo solto, nos estragando a nossas maneiras, jogamos fora a vida numa bebedeira. Você como sempre foi mais longe, você se perdeu um tanto a mais que eu, numa dessa bebedeira tu quase morreu. Um susto enorme para aqueles que a amam, um susto danado tu me deste menina. Pois não imagino o mundo sem sua presença, sem o teu olhar fraterno, sem sua poesia. Sei que nada sei da vida, nem dou conselhos pois desconheço eles, não sei o rumo que a nossa vida tomará, não sei. Além do que eu nada sou, eu nada sei. Mas espero que tu possa ver as primaveras que virão, que tu possa escutar o som dos passarinhos a cantar numa manha de domingo. Que tu possa viver, que tu possa ser um tanto amada, que tu pode ser um tanto mais desejada inclusive por este que escreve essas linhas errantes. Pois a vida nada vale sem ter você por perto. Portanto minha querida menina, tome cuidado, não se desfaz tanto, reconstrua teu caminho assim como fez diversas vezes, reconstrua teus sonhos, teus amores, quando der lembre deste pobre que escreve essas mal-traçadas.    

segunda-feira, 29 de março de 2010

Nessa noite em que o glorioso São Pedro castiga minha querida terra da garoa ( agora virou das chuvas), nessa noite aonde apelo para todos os santos, todos os orixás, todas as rezas e mandigas, para que a chuva diminua, e que possa dormir sossegado. Nessa noite aonde minha embriaguez me falta - nessa noite em que a bebida se faz ausente, aonde a escassez de bebida me deixa um tanto sem graça, nessa noite na qual me lembro do buteco, daquela esquina, dos meus amigos, nessa noite aonde meu tempo de infância me atormenta, me rouba o juízo, nessa noite em que nada faz sentido, nessa noite que se aproxima o mês de abril ( tenho medo do mês de abril), nessa noite na qual me perco em pensamentos, em lembranças, nessa noite nada faz sentido, nessa noite nem a chuva que cai lá fora alivia os tormentos, nessa noite sem nada para dizer ou até mesmo escrever, nessa noite que dá saudade de tua voz ( você sabe que é da tua), nessa noite que meu choro é compulsivo, nessa noite que desejo teu corpo, nessa noite que desejo tua fala simples e carinhosa, nessa noite apenas nessa noite, me perco na esperança do meu encontro, nessa noite na qual sonho acordado, ando me desfaço e me faço, nessa noite na qual a poesia me falta, nessa noite que tudo se mistura, nessa noite que nada faz sentido, nessa noite que a minha escrita vacila, te ver seria o encanto maior, seria o prazer maior apenas nessa noite venha ao meu encontro, venha.

domingo, 28 de março de 2010

DUO ABANÃ - CANTO LÍRICO DE ORIXÁS



Amante que sou da música, pesquisador, aprecia-dor, vivo intensamente à procura de novos artistas, novos compositores, novas bandas. Sei que o nosso país é rico, que a nossa música na minha modesta opinião é a melhor do mundo, na riqueza de ritmos, na diversidade.  Aqui vai uma dica, um disco que acabei de receber em mãos, um belíssimo trabalho. Estou emocionado por isso, escreverei pouco a respeito, deixo que vocês próprios que aqui lê essas mal traçadas se emocionem. Duo Abanã - Canto lírico de Orixás, fica a dica. É só dar play abaixo, para se emocionar.

O Duo Abanã é formado pelo Violonista Giovanni Di ganzá e pela Cantora Lírica Vanessa Teixeira, músicos de formação erudita que pesquisam autores e composições da nossa música raiz popular e também da nossa musica afro-brasileira.

Em 2004, ainda no conservatório, aconteceram os primeiros ensaios nos quais experimentava-se a sonoridade de transcrições para violão e voz de obras originalmente escritas para piano e voz. A partir dessa vivência em música de câmara e prática de conjunto, montou-se o repertório “EM CANTOS DO BRASIL” que trouxe composições de importantes músicos eruditos como Heitor Villa Lobos, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe, entre outros.

Desde 2007, o trabalho do Duo investiga a musicalidade afro-brasileira, baseando-se principalmente nos pesquisadores Mário de Andrade e Oneyda Alvarenga que foram os primeiros musicólogos-folcloristas do Brasil. Nesta pesquisa intitulada “Canto lírico de Orixás”, o Duo realizou seu trabalho de campo praticando aulas de percursão em centros de cultura popular, estudando batuques de terreiros de candomblé e também de festejos culturais afro-brasileiros.

Duo abana tem se apresentado em diversos eventos e saraus pela cidade de São Paulo.


Abanã em Tupi-Guarani significa “Cabelos Fortes”.

sábado, 27 de março de 2010

É tarde, no céu algumas estrelas se fazem presentes. Essa solidão que me entreguei, esse vazio que mergulhei, sem querer estar presente. Butecos que de uns tempos pra cá foram os meus lares, o meu reduto, a minha paz. O suspiro derradeiro. O estar emocionado, o se alegrar mesmo estando triste. Se foi. Hoje entregue as turbilhões que a vida me trouxe, me entreguei. Não quero sair, evito lugares tumultuados, quero a paz, quero a solidão, quero a mim mesmo. O meu silêncio o meu vazio.  Tudo isso, essa fase, essa solidão boa, esse estar  ausente, vem acompanhado de uma sensação de entrega, o tanto que já me entreguei, o tanto que me dividi, o quase nada que somei. Os caminhos que percorri, os que desisti no meio, os que sonhei, os corpos que sonhei nos quais jamais tocarei, nas mulheres que tanto amei e elas se foram. Deixaram muitas coisas, e um tanto levaram de mim, essa troca, essa doação, sinto imensas saudades delas nessa noite, sentado neste quarto escuto. O velho cinzeiro de vidro, um amontoado de guimbas apagadas, o velho copo americano, a velha vitrola tocando um disco triste, é a minha melhor companhia. Silêncio o meu pranto, conforme o suspiro derradeiro, espero como quem espera no leito de morte, a vida passa, já não faz tanto sentido assim, se ela passa ou se ela fica, se ela me leva ou se ela me deixa. Pois este eterno vagar que me encontro, não tem dia, nem hora pra acabar, e viver ou morrer já não faz tanta diferença assim.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Menina que anda ausente,
me mostra tua tatuagem,
cobre minha pele com teu amor.

Menina que não sei chamar de mulher,
que carrega dentro si, o dom de multiplicar,
que corre atrás dos sonhos, que se perde, que se encontra.

Menina me diga que poesia posso te escrever

Menina que anda ausente, me diga qual música tu ouve
neste momento.

O que fazes menina nessa cidade tão estranha,
em que bares tu entra menina.

Menina me diga qual é a marca do teu cigarro,
qual é teu signo.

Menina me diga se tua pele ainda é aquela pele bronzeada,
me diga, qual é o cheiro do sertão neste mês de março.

Menina, aonde tu se desfaz, aonde tu se encontra,
talvez tu venha ao meu encontro,
para enfim acabar como meu desencontro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

SAMBA PARA UMA NOITE TRISTE

Essa noite, esse eterno vagar por ai,
lua no céu, cidade que tanto conheço,
distância que tanto sofro.

Saudade queima no peito,
tanto para viver, tanto para apreender,
tanto para esquecer.

Amigos meus, por onde anda vocês?
Aonde vocês foram parar,
aonde posso te encontrar meus caros amigos.

Para desfrutar junto a mim, essa dor, essa agonia.
Compartilhar meus prantos, lamentar as dores,
beber uma cerveja gelada, em tua companhia, meus caros amigos.

Essa cidade não é a mesma que aquela,
sinto as ruas vazias, sinto que o céu tem menos estrela que o meu sertão.

Aqui não tem açude, aqui não tem piquenique.

Não tem pescaria, meus caros amigos.

Me diga como posso viver assim, sem aquilo que tanto amo,
sem desfrutar de tuas companhias ilustres amigos.

Aqui a coisa esta feia, é um tanto de compromissos,
essa noite, esses cigarros que me falta,
pouco dinheiro, pouca companhia.

Meus amigos, sei que um tanto longe estou, sei
que não despedi de vocês, mas carrego aqui dentro todos vocês.

E quem sabe num futuro que espero que seja um tanto breve,
nos encontramos meus amigos, para enfim poder viver e contar o que
aconteceu comigo, nesses tempos de ausência, nesses tempos de eterna solidão.

terça-feira, 23 de março de 2010

SEU ADEMAR

Confesso que ando muito emotivo nos últimos dias. Talvez um tanto saudosista, não sei bem explicar. Acredito que isso se dá ao alto teor alcoólico que vem me acompanhando. Tenho sido remetido ao passado, tem tido sonhos com o meu tempo de menino, tenho chorado ouvindo Dorival Caymmi, tenho me emocionado com saudades das Gerais, de seus vales, de suas igrejas, de seus bares, de suas mulheres e porque não da cachaça. Não sei bem como começou. No último sábado contrariando as estatísticas que sempre se tem que beber acompanhado, fuji dessa idéia e fui sozinho até um bar aqui perto de casa, do meu querido seu Ademar. Seu Ademar é um ser tranqüilo, honesto, corinthiano assim como eu, mineiro assim como meus pais. Queria a solidão como minha companheira, queria pensar na vida, no que tinha vivido nos últimos tempos, uma pausa de mil compassos. E claro, beber minhas cervejas e tomar uma cachaça. Seu Ademar reparando no meu ar desolado, veio na minha direção perguntando se algo de errado havia acontecido, porque no meu semblante a tristeza refletia. Não consegui esconder as dores no peito, fui logo dizendo o que se passava. Seu Ademar, calado, prestando atenção no que ia dizendo, me disse: menino, larga de besteira, a vida é assim. Levante a cabeça, pois tem muitas coisas para viver. Problemas todos tem, inclusive este senhor de cabeça branca aqui. Me disse para esfriar a cabeça, não cometer nenhuma tolice. Ficamos ali conversando até tarde da noite. Me contou causos de nossa Gerais, do seu tempo de menino, do seu tempo de adulto aqui em São Paulo, falamos do mingau de couve feito no fogão à lenha, do frango com quiabo, da nossa música brasileira, do nosso time de futebol, das mulheres. Uma conversa sincera e franca, que passou por tudo. Como ando saudoso para com tudo, comecei a chorar, um choro de alegria, um choro de encanto, um choro de saudade. Seu Ademar, também se emocionou, me disse que eu era um bom menino, sabe-dor das coisas. Prometi para ele que gravaria alguns CD'S de música brasileira para ele, para ouvirmos ali naquele buteco humilde, sentado naquele banquinho em frente. Seu Ademar, como ainda não gravei teus CD'S deixarei aqui uma música em homenagem a você e a nossa saudosa Minas Gerais. 


Até.


sábado, 20 de março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Adeus meu caro amigo

A meu caro amigo, o que lhe dizer neste momento. Sinto uma pena enorme dentro de mim, um sentimento de vazio, um sentimento ruim. Sim meu caro amigo estava ausente quando você mais precisava de mim. Porque tu cometeste este ato de covardia, de lhe tirar a própria vida. Porque tu queria assim meu caro amigo, partir e me deixar sozinho pelos bares. Porque tu meu caro companheiro de boemia, porque meu amigo. Sinto meu caro essa ausência que foi minha vida nestes últimos tempos, não sei meu caro amigo aonde me meti, aonde me perdi. Me desculpe o meu egoísmo de não ser capaz de ser um tanto mais presente, o quanto você mais precisava de mim, o momento que tu precisava aonde eu estava que nem mesmo eu sei. Sinto meu caro amigo, chegar num buteco aqueles que a gente tanto amava, que tantas noites afora passamos juntos, jogando conversa fora, falando das mulheres que amamos, e daquelas que não fomos capazes de entrar no coração dela. Porque meu caro amigo, tu partiste assim, me diga meu caro amigo. Hoje nessa madrugada que tento com o coração partido escrever essa crônica, que os meus olhos marejados se perdem em nossas lembranças. Meu caro amigo, não fui capaz de lhe ver naquele caixão, confesso que não quis ver, pois tua imagem que tenho aqui guardada dentro de mim, são aquelas imagens meu caro amigo, que junto construímos pelos os bares, você sempre calado, sempre tão poeta, eu falador, bocudo, irritado com tudo ao redor. Hoje meu caro amigo, observei o desconsolo de sua mãe, chorando em cima de você, tua pele fria, ela beijando tua face, meu caro amigo não aguentei aquela cena, você que deveria saber que meu coração é um tanto fraco, que não aguenta tantas emoções meu caro amigo. O quanto me doeu aquela cerimônia de despedida, ver você ali trancado naquele caixão, perdendo mais uma noite de boemia, perdendo mais um coração apaixonado de mulher, das tantas que você conquistou. Lamento meu caro, lamento tua companhia que não terei mais, lamento que tu partiu assim, lamento. Hoje estive no buteco, pois você deve saber que lá é o meu lugar, todos meu caro amigo, perguntaram por você. Todos se questionavam, não fui capaz de lhes responder. Fiquei naquele canto que sempre ficávamos, pedi uma Brahma e dois copos, deixei o teu cheio em tua homenagem, pois sei que de algum jeito você dará um jeito de bebê-lo, é meu caro amigo, teu vazio naquele buteco me dói, não sei se conseguirei pisar ali novamente, não sei meu caro amigo, pois sempre que ali estiver lembrarei de ti, isso me machuca. Hoje meu caro amigo para terminar o texto, escrevi um poema que tu gostaria, cantei aquele samba que você gostava. Disse para aquela menina que você sempre amou, mas que nunca teve coragem de lhe dizer o tanto que amava. Me desculpe talvez não deveria ter dito, mas enfim, me despeço meu caro amigo, seja lá aonde tu estiver, saiba que sempre estará comigo pelos botequins mais vagabundos, desfilando nossas poesias vagabundas. Durma em paz meu caro amigo. Me guia aqui nessa terra, pois os meus passos não estão na direção certa, pois bem sei que do jeito que tu é malandro já deve estar numa boa, acompanhado de mulheres lindas, cantando samba. Adeus meu caro amigo, adeus...

Crônica de Rubem Braga

Despedida


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão.
É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações?
Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

CÃO SEM DONO

Sendo um fiel amante da sétima arte, mesmo tendo deixado um pouco o cinema de lado e me entregado a fio para literatura não abandonei o mesmo. Vire e mexe estou revendo algumas películas que tanto gosto. Sempre o cinema brasileiro mais precisamente o cinema contemporâneo brasileiro se fez mais presente na minha vida. Me lembro dos passeios pela rua Augusta nos cinemas alternativos, depois uma leve passada nos butecos para refrescar a mente e absorver mais sobre o que tinha acabado de ver. Confesso que não tenho feito mais estes passeios, mas sempre que posso assisto algum filme em casa. Poderia ficar citando aqui inúmeros filmes que fizeram minha cabeça, que me deixaram um tanto incomodado com seus temas, com suas angústias, com sua arte sobre a vida. Mas pelo o que me lembro o que mais me marcou nos últimos tempos foi dois filmes: Cinema, aspirinas e Urubus e Cão sem dono. Ambos assisti inúmeras vezes, e ainda assisto. Mas falarei um pouco sobre o Cão sem dono. Me lembro quando vi a película no cinema era se não me engano a última sessão, escolhi o filme junto com a minha amiga. Me marcou profundamente. Hoje re-assistindo-o tive a mesma impressão que tive naquela noite. A mesma angústia, o mesmo sofrimento. Naquele momento o filme contava algo que parecia ter sido feito para mim, logo de cara me identifiquei. Senti na pele aquela película, e poderia dizer que aquele era o meu filme e porque não a minha vida, porque naquele instante, tudo que se passava no filme era o que acontecia comigo. Aqui vai uma breve sinopse do filme.

CÃO SEM DONO é uma observação de um relacionamento amoroso, escrita com as cores íntimas de um retrato de geração. Narra o encontro entre Ciro, recém-formado em Literatura, que passa por uma crise existencial marcada pelo ceticismo e pela falta de planos, e Marcela, uma ambiciosa modelo em início de carreira, que se entrega de forma obsessiva ao seu trabalho e, com isso, adia para mais tarde a realização de qualquer sonho.

 Hoje pude perceber que nada mudou, desde de 2007 até o momento. E quem gosta de dizer que homem não chora, esta definitivamente equivocado, pois homem chora. Chorei, chorei, o filme acabou e ainda continuo com os olhos marejados. Pois é o drama da vida, com suas piras existenciais, encontros e desencontros, amor e perda, falta, abandono. Tudo isso, para mim este é um dos melhores filmes brasileiros junto claro na companhia de mais alguns. Não quero aqui é claro, fazer uma espécie de critica ao filme, apenas resolvi escrever o que filme por si só já fala. Me lembro que naquela madrugada de 2007 logo após o filme, como não poderia deixar de citar a ótima trilha sonora da Nação Zumbi, minha amiga virou para mim e disse: 
- Este filme parece que foi feito para você. 

Ela tinha razão e como tinha razão. Pois sou também um cão sem dono, um ser nas suas dúvidas existencialistas, cercado de abandono, perdido nos encontros e desencontros da vida. Mas enfim termino por aqui, pois neste momento na madrugada o que posso dizer é que de fato é um belo filme, quem não viu fica a dica, quem já viu assista novamente, pois com certeza vale a pena ver de novo. 

Até.

domingo, 14 de março de 2010

NOITE DE SÁBADO

Bar do Baixo, noite de sábado. Apesar da noite maravilhosa, os tormentos não me dão descanso. Aliviando a depressão tomando aquela famosa cervejinha ( que diga de passagem só faz mal para quem não é chegado nela), batendo aquele famoso papo, de quem não tem nada para fazer e acaba de deixando levar nos bares mais vagabundos. O bar do Baixo, como sempre falei é um bar simples, de pessoas nem tão simples assim. Digo tem aquelas que são, e outras tantas que também são, mas não querem deixar isso amostra. Se vangloria de seus carros novos - mesmo que em 60 vezes, o carnê maior que a bíblia. Enfim para cada louco a uma nova prestação. Eu que diga de passagem abri mão de comprar carros ( pois sempre que em São Paulo chove a boa mesmo é um barco), e pensando nisso é que afirmo que comprarei um barco em breve. Mas voltando ao assunto, era uma noite agradável, aquela famosa paz que sempre precisamos, mas como bar tudo pode acontecer, aconteceu. Lugar de mulher nem sempre é buteco ( não querendo ser machista), acredito que elas sempre embelezam o lugar, mas nem sempre isso é bom. Explico. Como estava falando de carro, que por sinal é objeto de desejo de quase metade da população brasileira, chegou o Galego. Galego é um daqueles seres, que não me cheiram bem. Metido a esperto, metido a putanheiro, o famoso ( comedor), chegou na companhia de uma bela morena no alto de seus 1,80, lindos olhos, vestido colado ao corpo, uma tremenda belezura. Antes de parar no bar, Galego ficou acelerando seu belo carro, se mostrando para todos ali presentes. Como buteco é buteco, já começou, os palpites sobre o malandro. Na minha como sempre fico, não entrei nos comentários, pois nem gosto de comentar a respeito daquele ser. Quando a morena pisou na espelunca, os olhares embriagados de todos ali presentes se voltaram para aquela beleza. Alguns mais ousados, soltaram comentários, que nem colocarei por aqui, devido audácia dos malandros. Galego sentou na parte de fora do bar, puxou a cadeira para sua morena, e logo gritou:

- Ademar me trás uma cerveja ai! 

Baixo que também não é chegado no malandro, deixou ele esperando um pouco. Pois butequeiro que se preze tem que saber chegar. Baixo olhou na minha direção, deu uma piscada, abriu o freezer pegou uma garrafa de cerveja daquelas mais vagabundas ( que nem de graça desce), levou para o malandro. Ainda soltou um daqueles sorrisos malandro, conquistado há anos por de trás do balcão. Galego ficou uma fera, quando viu a garrafa aberta na tua frente, esbravejou:

- Pedi uma cerveja, porra!

Baixo sem titubear:

- Você não sabe ler? Olha ai o que esta escrito na garrafa.

Como já sabia que o baixo faria isso, comecei a rir. Galego que como disse não me cheira bem, ficou puto. Na dele humilde - disse: 

- Ademar você sabe a cerveja que bebo. 

Baixo:

- Não sei de nada, você pediu uma cerveja, ai esta ela. Na próxima você pede qual é a cerveja que você quer. 

- Me traga uma Brahma, Ademar. 

Baixo que é um tremendo sujeito, voltou dando risada, abriu o freezer, pegou uma garrafa de Brahma levou até a mesa do casal. O ambiente ficou normal, ficava reparando naquela morena. Linda morena por sinal, daquelas que transformam qualquer noite, numa noite maravilhosa. Caminhei até o Baixo lhe dizendo que aquilo tudo terminaria mal. Que aquela morena causaria brigas por ali. 

Quieto no meu canto, perto do banheiro, que por sinal é um belo lugar para se ficar. O casal lá fora, estava digamos num clima especial. Dava para se perceber que a morena estava com um fogo daqueles. Ou que também só queria sugar umas cervejas do otário daquele ser. Em pouco tempo, a mesa deles, parecia uma ceia de natal. Bandeja de frango frito, saquinhos de salgadinhos, copo de caipirinha, garrafas. Os freqüentadores ali presentes começaram a soltar comentários a respeito da morena. Dizendo que era muito gostosa, outros diziam, imagine aquilo lá em casa na minha cama. E davam gargalhadas. Galego que começou a reparar também do que acontecia ao seu redor, viu que todos olhavam para aquela mulher que lhe acompanhava. Quando gritou: 

- Tirem olhos dela, seus merdas, que ela é minha!

Popó que é um sujeito que não vacila, soltou:

- Não estou vendo o teu nome nela, portanto ficarei olhando seu puto!

Galego ficou puto de raíva, esbravejou ir pra cima do malandro, mais ficou quieto.

A morena parecia gostar de ser desejada por todos ali. Levantou para ir no banheiro, o olhar de todos em tua direção, naquela cintura, naqueles peitos, naquele rabo. Ela veio na minha direção sem titubear olhei o corpo dela inteiro, ela passou por mim, com um olhar de malícia, entrou no banheiro. Galego, soltou:

- Ela é a mulher mais gostosa que conheci. 

Todos concordaram sem entender o que uma mulher daquelas fazia com um sujeito daqueles. 

Ela saiu do banheiro, foi em direção da mesa, quando um bêbado falou algo em teu ouvido. Ela soltando um sorriso, sentou. Galego sem titubear, gritou: 

- Seu bêbado filadaputa não vê que ela não é para teu bico.

Bêbado: 

- Nem para o teu seu puto. Fazer o que se ela é gostosa. Gritou em alto e bom som: 

- Morenaaaaaaaa, você é gostosa, fazer o que. 

Galego se levantou agarrou o bêbado, querendo matar o malandro, quando todos foram para cima separar a briga.

Baixo foi em direção a ele, pediu para ele acertar as contas e cair fora dali, pois mulher que é gostosa o buteco não é um bom lugar. Galego pagou a conta, pegou nas mãos da morena, que estava toda sorrisos, ainda gritou:

- Seus merdas, vão todos tomar no cú.

Todos ali presentes, gritaram: 

- Seu corno, seu corno. 

E assim terminou mais uma noite, pois buteco exige respeito. 

Noite, vagueio pela tua pele,
perco-me navegando pelo teu corpo,
exalo o perfume que sai dos teus poros.

Tua paz me acalma,
teu olhar me alivia,
do tédio, do vazio,
do mundo.

Pernas entrelaçadas,
sinto teu ventre,
sinto a noite calma,
sinto sua respiração aliviada.

Contudo, a vida poderia ser assim,
eu me perdendo em você, e você
se deixando assim, a se perder nos meus labirintos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

minhas madrugadas

Ainda sem inspiração, morrendo aos poucos, cada noite um novo sofrer. Por isso que imploro ao samba, que se for para morrer, que morro ouvindo samba, ou morro na boemia. Assim terei a certeza que morri, vivendo. Por isso aqui lá vai mais um samba. 

quinta-feira, 11 de março de 2010

PARTIDA

Era uma noite singular, não existia beleza, tudo era obscuro. Todos já imaginavam a tua partida, todos de algum jeito buscava consolo de algum jeito, uns contavam causos, outros rezavam pedindo ao senhor para que não levasse ele, o que o deixasse ali, que recuperasse tuas forças e voltasse a ser o que sempre foi, um eterno sonhador. Ele agonizava naquele leito, naquele hospital, naquela avenida movimentada da metrópole cinza, carros passavam apressados, rumos diversos, alegria e tristeza se misturava naquele caos. Avistava os arranha-céus da janela do corredor, não tinha coragem de ficar ali dentro, dentro daquele leito obscuro de morte, esperando o suspiro derradeiro. Não pedia para ele ficar, nem partir, pedia para ele voltar a ter paz, seja lá aonde fosse, ele teria que ter a paz que aqui neste lugar que todos chamam de terra não teve. Imaginava o sofrimento das pessoas -  naquela cidade. E na alegria também. Pois a vida sempre há de ser o que é, sofrimento para uns, tristeza para outros, pois a felicidade nunca há de ser plena, pois sempre existirá o medo de perdê-la. As horas passavam devagar, o médico já tinha avisado para a família que ele não resistiria muito, pois a vida dele estava nas mãos dele, que não se podia fazer mais nada. Que o câncer havia se espalhado pelo o corpo. Bastava apenas a espera, pois não deve existir espera tão dolorida, quanto a espera daquele que esta prestes a morrer. Cenas do passado se passava pela minha cabeça, lágrimas escorriam pelo o meu rosto, tentava me pegar no passado, na alegria que ele sempre manteve dentro daquele lar, da pessoa singular e simples que sempre foi. Os conselhos que me dava - que dizia sempre para ser uma pessoa boa, não fazer mal à ninguém, pois essa terra sempre foi regada com ódio e sofrimento, que bastava apenas plantar amor, para num futuro se colher rosas. Pensava nas tardes que passávamos juntos em frente a televisão vendo jogos de futebol, e sua paixão doentia pelo o clube alvi-negro. Me perdia em pensamentos, porque uma pessoa que sempre plantou o bem, que sempre fez a coisa certa, tinha que sofrer tanto na sua despedida desta terra. Rogava praga a Deus, por levar ele assim, por não levar ele numa outra noite qualquer, quando sua alegria era irradiante. Se não podia morrer na cama ao lado da mulher que sempre amor, encostado na tua face ( pois sempre uma face de uma mulher será o consolo para o sofrimento dos homens), porque não podia morrer ali, ou até mesmo num dos bares que tanto passou. Tudo se perdia naquela noite, me perdia de mim, tentava pensar no que seria sem a companhia dele ao meu lado. Não sabia se resistiria viver sem a companhia tão agradável dele. Pensava nas pessoas que ali estavam na mesma situação que a minha, esperando a pessoa que mais amou na vida esperando o relógio badalar para o suspiro de adeus. A cidade me invadia, invadia meu ser, ali que ele tanto viveu, desde o momento que abandonou tua Gerais, que veio atrás de uma vida melhor. Que aquelas avenidas não sentiria mais os passos lentos dele. Que os bares que ele tanto freqüentou sentiria o banco vazio aonde ele costumava sempre sentar. Fiquei ali a devagar sobre a vida, sem entender nada dela, sem entender porque sempre tem que ser assim. A madrugada se aproximava, as horas de vida dele diminua, a minha também. A coragem que me faltava para entrar naquele quarto, me veio. Respirei fundo, enxuguei as lágrimas que escorriam   pelo o meu rosto, pois tenho a certeza que ele não gostaria de ver chorando. Abri a porta, avistei o corpo dele magro coberto pelos lençóis, avistei a paz que ali existia, avistei a solidão noturna naquele leito de morte. Tua respiração era lenta, me aproximei da cama, peguei tuas mãos dei um beijo, segurei firme, chorei como nunca antes havia chorado, lamentei tudo aquilo, lamentei que dentro de algumas horas, ou talvez alguns dias ele não estaria mais ali. Beijei tua face, assim como ele fazia comigo nas noites em que passei no hospital com pneumonia ( na qual quase morri). Me lembrei que hoje era o inverso, que agora era eu que beijava tua face assim como um pai faz com um filho. Fiquei poucos minutos ali, pude perceber que ele não resistiria aquela madrugada, algo me dizia que não, que morreria no amanhecer do dia, assim quando o sol desperta a cada manha, ele despertaria para tua eterna partida deste mundo. Dei novamente um beijo na tua face, sussurrei no teu ouvido, que sempre haveria de estar com ele e ele sempre haveria de estar comigo aonde quer que fosse. Caminhei lentamente, abri a porta, antes de fecha-la lancei um olhar de adeus e de agradecimento por tudo na direção dele, pude perceber que mesmo dormindo sentiu minha presença ali, fechei a porta. Senti o peito doer, contive as lágrimas, prometi nunca mais entrar num leito à espera da morte levar aqueles que amo, de lá pra cá, os dias não foram mais os mesmo, de lá pra cá, as manhas nunca foram tão silenciosas e doloridas para mim, pois o vazio que ele deixou naquela casa, ainda sinto, por longos anos sentirei, até o meu partir daqui.  

SOFRO DENTRO DE BUTECO

Como sofro dentro de buteco, sempre digo isso. Na noite de ontem não foi diferente. Estava lá sentado na minha cadeira de sempre, uma banco ao meu lado dando apoio para garrafa, copo, cinzeiro  ( lá é permitido fumar, principalmente em dias de jogos de futebol), quando um malandro me vem torrar o meu saco.  Fui sozinho para o bar, fiquei ali, esperando o jogo começar, soava como nunca antes, não sei se foi por causa do conhaque ou por causa da ansiedade para o começo do jogo. Este malandro que nunca vi na minha curta carreira dentro de bares, malandro mais chato que aquele. Começou dizendo que aquele bar era um lixo, que o dono era um filadaputa, que a porra do Corinthians tinha que se fuder, que os torcedores do Corinthians era todos vagabundos. Ficou falando um monte de asneira na minha orelha. Como a minha paciência anda curta nos últimos tempos, se tratando de buteco não existe bons modos, mandei ele tomar no cú. Ele silenciou, ficou quieto. O jogo começou, as garrafas foram esvaziando numa espécie de mágica. Quando o mesmo veio em minha direção novamente, me xingando de filadaputa, eu disse para ele calar a boca, que não queria briga, pois minha missão era de paz. Me levantei fui até o Baixo ( dono do buteco), - disse que não agüentaria um xingo novamente. Ele pediu calma para mim, que daríamos uma lição naquele caboclo. O malandro me xingava, me xingava, eu quase explodindo, fui na direção dele, para dar um murro, quando num rápido movimento o baixo meteu o tapo na cara dele. Agarrou pelo pescoço enforcando o mesmo, que começou a chorar, chorava feito uma criança. Pediu desculpas para todos que ali estavam, veio na minha direção com as mãos pedindo perdão. Mandei ele novamente tomar no cú, pois já estava puto, que o malandro fez eu perder o jogo na televisão e o desrespeito comigo, taquei o copo de cerveja no rosto dele, arrastei ele joguei ele na calçada. Mandei ele novamente para a puta que o pariu. Ele ficou parado no portão chorando, pedido perdão, querendo entrar. Quando o Baixo num ato de maestria, abriu o portão, arrastou ele que grudado nas grades não queria sair, arrastou pela rua até a praça dizendo que se ele pisasse novamente naquele chão as coisas não seriam daquele jeito. Foi assim uma noite daquelas, aonde o buteco se mostrou valente e lugar de respeito, tem que pisar devagarinho, senão o bicho pega, e o Corinthians que não jogou merda alguma, foi acima daquele bêbado a decepção maior.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sentado na porta

Perdido nos caminhos e labirintos da vida, a cada dia tentando se achar, se perdendo aos poucos, coração partido, vagando pelos bares e ruas solitárias de minha infância aonde o buteco e o papo é o refúgio imediato para a dor. Ou seja a minha sina é essa, é sofrer, é amar, é lamentar. Como a noite - aonde se aparece os vazios da alma, aonde é difícil esquecer o preto da solidão, como disse é no bar e no papo que busco alento. Hoje depois de uma noite memorável, depois de um longo papo que durou cerca de 6 horas, depois de algumas ampolas geladas, e a saudade doendo aqui dentro, com os olhos marejados deixo aqui uma cena que não sairá da cabeça por o resto de minha vida ( que temo achar que não durará muitos anos). 

Sentado na porta

Sentado na porta do buteco para que todos que ali passassem pudesse ver, que ali vivia mais um bêbado de porta. Aqueles que ficam numa das mãos o cigarro, na outra o copo. Companhia inseparável. A noite linda, lua prateada no céu, algumas poucas estrelas, acalmava o peito meu. Dolorido e cansado de outrora. Relembrando amores que se perderam no escuro num quarto vazio - meu velho amigo, querido, me fazia companhia. Pois nessas horas o amigo, o bar, as garrafas, são as melhores companhias. Alguns carros passavam acelerados na ânsia de chegar ao destino, buteco vazio, alguns freqüentadores, poucos, mas fiéis ao estabelecimento. Quando observo uma mulher, no auge dos seus 50 anos, observando o marido ( assim achei), enxugando uma ampola de Brahma, para ser mais preciso acho que já era a décima. A mulher ficou ali do meu lado, reparei no olhar dela, olhar vazio, olhar triste, perdido naquele ambiente. Falei para o meu amigo, que aquela mulher estava esperando alguém sair de la de dentro. Ele ainda comentou a beleza da mesma. Concordei dizendo que era uma mulher bonita apesar da tristeza que vinha dela. O meu amigo ainda zoando da minha cara, me chamando de poeta, disse que era linda, que amaria ela para o resto da vida. Algo me chamava, algo de curioso vinha daquela mulher, algo que não sei explicar. Ela arremessou a guimba do seu cigarro na guia da calçada, entrou no buteco, pegou nos braços daquele homem, que zanzava, lamentando, querendo terminar a saideira. Ela disse calmamente, vamos embora, vamos embora, pediu a conta, pagou. Todos imaginavam que a mulher faria uma escandalosa, mas não, uma paz saiu daquela mulher, ela venho caminhando em direção a porta, abraçado com teu marido que chamava carinhosamente de nego, dizendo que terminaria a saideira em casa - que tinha cerveja na geladeira, que ela o amava. Sairam os dois de braços dados, ela guiando o marido bêbado pelas ruas de minha infância. Ficamos ali, eu e meu amigo, se perguntando a respeito de tal, ele que é casado, me disse:
- Malandro, essa é a mulher que sempre sonhei para mim...

Sem precisar dizer mais nada, pois a noite veio no brilho daquela cena, a luz da vida vi no olhar daquela mulher, que além dos pesares, além de tudo, o amor  fala e grita dentro dela. 

Depois disso, daquela cena, que ficou e certamente ficará dentro de mim, por longos anos, foram mais algumas ampolas geladissímas que enxugamos com uma sede de ontem, tendo a certeza mais uma vez, que o buteco é o melhor lugar para se ficar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

SAMBA DE FATO

Como andO sem inspiração para escrever ( se é que tive um dia), deixo aqui mais um samba. Já que a maré anda complicada para o meu lado, já que o ano mal começou e esta tudo mudando rapidamente, aonde não consigo acompanhar. O jeito é apelar para o samba, velho companheiro, guerreiro, que espanta os males, que renova a confiança e a esperança, mas não digo, pois o samba é muleque atrevido, malandro. 

Então fique meus poucos leitores com uma obra prima, de uns dos sambistas importais, que viajou antes do combinado ( apud Rolando Boldrin), o mestre Luis Carlos da Vila - Benza, deus. 

Até.

domingo, 7 de março de 2010

Como lhe disse se pudesse escreveria nossa história de um jeito diferente. Arrumaria os erros, acertaria mais, tentaria todas as manhas lhe fazer feliz de algum jeito. Hoje recordando daquilo tudo que foi, e o que ficou que ainda arde aqui dentro, a cama o espaço vazio, um travesseiro apenas me matando por dentro, a falta que o teu cheiro faz nessa cama, teus braços me apertando, teu corpo colado ao meu, tua paz, teu carinho. Tenho tido algumas recaídas à pensar em você. Talvez como escrevi acima, escreveria nossa história de um jeito, não que fosse uma linda história, mas pelo o menos menos dolorida, nessas noites vazias, aonde o velho jazz, o velho copo de conhaque ( sei que você pediu para eu parar de beber), mas não é possível, com o peito do jeito que anda. Talvez se colocasse um pouco mais de poesia, talvez se diminuísse o ciúmes que sentia de você, talvez nossa história tenha sido diferente. Talvez, apenas um talvez, talvez te ligasse agora para lhe dizer o quanto te amo, mas acredito que não é o melhor a fazer, pois você na certa diria, para que eu não ligasse de madrugada e ainda por cima de porre. Talvez é melhor deixar assim como esta, teu fantasma me assombrando nas minhas noites, teu cheiro a me acompanhar, perder-me querendo te achar, talvez siga assim, me matando aos poucos, querendo de fato lhe amar mais uma vez. Talvez eu ainda te vejo, naqueles lugares que nunca entramos, naqueles bares que nunca bebemos, naquele samba que chorávamos juntos, talvez naquele teatro que nunca entramos, talvez te veja assim de algum jeito, talvez te veja mesmo que você não sabendo ou se sabendo duvidando que ainda te amo. Talvez queira ainda ouvir tua voz nem que seja por um único segundo que talvez possa durar um eternidade, talvez minha querida, você venha numa espécie de fada, me acompanhar nessas minhas noites de angústia, nessas noites errantes, talvez, é o que posso ainda dizer. 

SAMBA PARA MEU PAI

Foto: João Nogueira

Depois de uma noite agradável em tua companhia, depois de perceber que tenho muito de você em mim, que o espelho não se quebrou, dedico aqui um samba em tua homenagem Espelho - João Nogueira - Paulo César Pinheiro. Copos em mãos como você faria em outros tempos (tempos que bebia industrialmente), cigarros nos lábios, assim vai meu querido pai, um samba pra você aonde quer que tu esteja.

sábado, 6 de março de 2010

SAMBA PARA UM AMIGO

Neste sábado quando morro aos poucos ( algumas pessoas adorariam ler isso aqui), enfim, depois de mais uma bebedeira, de um porre industrial, ofereço aqui um samba para um grande amigo, companheiro nesses porres imensos que varam a noite afora e manha a dentro.

Mais o samba diz, sempre sabedor, sempre amigo.

Pra que pedir perdão - Moacyr Luz / Aldir Blanc

Sábado chuvoso, ressaca das brabas, tosse de tuberculoso, morrendo aos poucos, tomando uma mistura de boldo com água tônica, dedico um samba para este sábado. Antes morrer aos poucos do que viver em branco.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Jonny Alf



Mais um que se vai em menos de uma semana. Recebo a triste noticia que faleceu um dos percussores da Bossa Nova, o mestre Jonny Alf aos 80 anos. Vitima de um câncer de próstata. Diante da dor mas uma vez prefiro me calar.  

quarta-feira, 3 de março de 2010

Me recordo como se fosse hoje ainda, quando minha sorte foi ter me perdido naquele olhar. Jamais me esquecerei daquele olhar, como lhe disse posso te esquecer, posso te buscar em uma outra qualquer, posso buscar teu sexo, teu amor, teu cheiro em outra, mas jamais buscarei teu olhar em outra qualquer. Pois teu olhar é o olhar da tua alma, neles lhe vi nua por inteira, nele despi tua pele, e lá no fundo vi teu ser.
Tenho te visto ainda, nos bares que nunca entramos, nos lares que nunca conquistamos, tenho te visto no calor daquela tarde caminhando, tenho te visto ruas atravessando com teu vestido cinza com lenços no pescoço, tenho te visto daqui distante, tenho te visto no calor da minha pele ardendo, tenho te visto aonde você nunca foi, tenho te visto no escuro lugar que habita, tenho te visto nos lugares mais cheios e vazios, a brilhar nos palcos, a beber pelos bares, a esquecer os amores. Tenho te visto na cabine do telefone, tenho te visto no olhar da tua pele que me chama, tenho te visto tanto que me canso às vezes de te ver. Tenho te visto saboreando aquela bebida que lhe embriaga, tenho te visto subindo as escadas, tenho te visto dando ar, tenho te visto saboreando os ventos, tenho te visto em lugares distantes e ao mesmo tempo perto. Tenho te visto nos sambas que escuto, tenho te visto nos versos que escrevo, tenho te visto nas viagens que faço, tenho te visto no meu desconsolo de uma noite vaga, tenho te visto na saudade, no presente, no futuro. Tenho te visto carregando tuas compras, tenho te visto me esquecendo, tenho te visto me olhando, tenho te visto ao telefone e até mesmo por engano. Tenho te visto nos rostos das mulheres que passam ao meu redor, tenho te visto nos vazios de minha alma vadia e errante. Tenho te visto me chamando, tenho te visto me acenando o adeus da partida, tenho te visto na manhã quando o sol bate em tua janela e depois da parte da tarde quando  o mesmo bate na varanda. Tenho te visto de todas as formas, te todas as maneiras que o meu peito te chama, e por aonde você anda, que não me diz, por onde andas você menina que sem querer se perde de mim, sem poder ao menos lhe dizer que lhe amo.

terça-feira, 2 de março de 2010

PASSEIO, MULHERES, EDUARDO GALEANO

Num desses meus passeios de inicio de semana, assim quando o tempo me convém sair andando pela cidade, visitando lugares que gosto, perdendo tempo dentro de sebos, livrarias, butecos, em busca da paz para começar uma boa semana, encontrei numa prateleira numa breve pausa dentro de uma banca de jornais para a compra de alguns maços de cigarros, o livro do craque Eduardo Galeano chamado Mulheres. Confesso que o título me atraiu bastante e por isso acabei comprando. Gosto de comprar livros assim, sem querer, sem esperar. O livro é um apanhado de prosas que falam do mesmo assunto: Mulheres. Para quem ainda não sabe, mulheres sempre me atraiu, seja pelo seu lado curioso, seja pelo teu lado atraente, pela sua beleza, pela tua sensibilidade, seja pela sua tristeza, pela a força  que há  dentro delas. Aproximando do dia internacional das mulheres, deixo aqui uma prosa, que fala bem deste meu sentimento por elas, na palavra do craque Eduardo Galeano.

PARA INVENTAR O MUNDO CADA DIA

Conversamos, comemos, fumamos, caminhamos, trabalhamos juntos, maneiras de fazer amor sem entrar-se, e os corpos vão se chamando enquanto viaja o dia rumo à noite.
Escutamos a passagem do último trem. Badaladas no sino da igreja. É meia-noite.
Nosso trenzinho próprio desliza e voa, anda que te anda pelos ares e pelos mundos, e depois vem a manhã e o aroma anuncia o café saboroso, fumegante, recém-feito. De sua cara sai uma luz limpa e seu corpo cheira a molhadezas.
Começa o dia.
Contamos as horas que nos separam da noite que vem. Então, faremos o amor, o tristecídio.

Eduardo Galeano - Mulheres, editora L&PM POCKET

segunda-feira, 1 de março de 2010