segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A TARDE CAIA

A tarde caia, no céu um crepúsculo que fazia tempo que não via. Resolvo sair um pouco, passear, caminhar. Distrair a mente tão fustigada nos últimos tempos. Apesar de ser começo de semana, mas precisamente segunda-feira, era pra estar tudo bem, final de semana aproveitado ao máximo, reunião com os amigos, pescaria, buteco - tudo era pra estar bem, mas não esta. A mesma agonia de outrora que me persegue, que não me deixa um instante. Um turbilhão de pensamentos, me toma o tempo, me pego pensando em coisas que não tem cabimento, que já passou, que não voltará. Um refúgio é o que preciso, longe desta metrópole cinza - longe do caos, um silêncio profundo aonde eu possa me encontrar com "eu" perdido numa esquina qualquer. Caminho lentamente, sem direção, sem rumo. Reparo no meu bairro em sua transformação, o tanto que ele mudou de alguns anos pra cá. Passo em frente de alguns botecos que meu pai freqüentava, me recordo das tardes passadas ali em sua companhia - tomando tubaína, comendo doce de amendoim. Meus olhos ficam marejados, me emociono. Essa lembrança que me trás tanta felicidade, reparo que os bares não mudaram nada - a transformação aconteceu apenas comigo. O movimento dos carros aumentam, pessoas passam apressadas, em direção aos seus lares, querendo o lar, a tranquilidade que apenas o lar dá. Decido caminhar mais um pouco, a escola que estudei é a mesma, o silêncio ali é catedral, revelando que as crianças já se foram, deixando aquilo tudo quieto. Caminho, apenas caminho, o calor é incessante, não sei bem qual é a temperatura atual - mas acredito que passa dos 30. Vou em direção a praça, que foi feita recentemente, para ali naquela esquina debaixo de uma imensa árvore, que recordo dela, acedo um cigarro, continuo a caminhada. Começo a cantarolar algumas canções que tranqüilizam minha alma, me recordo do Chico Buarque dizendo que a caminhada para ele, é estar consigo mesmo, colocando os pensamentos em dia. A praça para meu espanto, devido ao intenso calor que faz neste começo de noite, encontra-se lotada, centenas de crianças ali brincam, se diverte. Alguns adultos fazem caminhada em torno da praça - em busca de saúde e bem estar, algo que não tenho ultima-mente. Alguns idosos jogam bocha, reparo nos palpites que uns dão para o outro. Me sento no banco, para descansar um pouco, reparo naquela cena, crianças, jovens, idosos, todos convivendo pacificamente, querendo apenas o bem estar. Penso porque o mundo não pode ser melhor - pois nele existe crianças, para alegrar, para nos mostrar o quanto a vida é simples, e quanto um sorriso é belo. Mas uma vez a música se faz presente, me lembro da canção de Gil, domingo no parque - cantarolo alguns versos. Me perco ali, a multidão ao meu redor parece ausente, me perco em pensamentos, sem me dar conta, o céu lindo vai embora, se torna escuro, prenuncio de chuva. Algumas mães mais preocupadas recolhem seus filhos, dizendo que vai chover, que é hora de jantar e tomar banho. Reparo nas crianças com cara de choro, indo embora, de mãos dadas com os pais. Lembranças vem à tona, me recordo das poucas vezes que sai com o meu pai, das poucas vezes que ele me via na praça, sempre muito ausente, não me via brincar de jogar bola, não me ensinou a andar de bicicleta, coisas que geralmente os pais fazem. Gotas de chuva começa a cair, junto com um vento forte, a praça começa esvaziar rapidamente, os idosos param o jogo se despedem e rumam para seus lares, o pessoal da caminhada também. Apenas alguns casais de jovens ali namoram e paqueram parece não se importar, parece que a paixão é o que vale no momento. Continuo ali sentado, sem vontade de ir para lugar nenhum, apenas a contemplar ao meu redor - como tudo muda, e como mudamos com o passar do tempo. A chuva aumenta, junto com o vento, todos ali saem correndo atrás de alguma cobertura para se esconderem da chuva, me levanto, calmamente, a chuva encharca minha roupa, meu óculos parece um para brisa de carro, me impossibilitando de ver alguma coisa. O maço de cigarro molhado no meu bolso, meu par de sandálias deslizando nas ruas de minha infância, ruas sem passado, ruas sem glória. Caminho em direção ao meu lar, molhado de chuva até os ossos, em busca da purificação e da paz, que talvez eu encontrarei quem saiba quando eu chegar em casa, quem sabe, quem sabe...

VIDA NOTURNA

Você acorda as 6 da tarde com aquele gosto de ferrugem na boca e com a impressão de que seu travesseiro não foi feito com penas de ganso, mas sim com cinzas de cigarro. Olha pro lado e tenta lembrar o nome da mulher que dorme ao seu lado. Levanta e começa a lembrar da noite passada. O nome se apagou com solvente na memória e ela dorme feito um defunto na sua cama. Imóvel! Será que está respirando? Chega bem perto dela e a surpresa é grande ao ver seu rosto, não parece a mesma pessoa com quem deitou quando o dia raiava. Verifica que há uma respiração de conhaque em suas narinas...Ela está viva! Prepara um sanduíche, dá uma mordida, pega o pacote que tinha deixado em cima da mesa antes de sair ontem a noite, abre a encomenda com o cd cheirando a novo, coloca no aparelho para tocar e se encosta no sofá. Pensa no que vai dizer para aquela mulher quando despertar. A música maravilhosa se mistura com seus pensamentos, você levanta bruscamente e escreve um bilhete para a tal mulher - Tive que sair por motivo de emergência, pode trancar a porta e colocar a chave dentro da caixa postal 203, que fica logo após a entrada do edifício.
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Tranca a sala onde guarda os livros e discos, com passos de pluma sai sem fazer barulho. Pensa que se roubar o resto da casa não tem problema. Vai direto pro primeiro botequim que fica a duas quadras do apartamento, pede um café bem forte e logo mais uma cerveja. Depois de três goles o grau etílico das 5 da manhã parece retornar a sua cabeça e as pessoas parecem ter um balanço todo especial. Bate um papo com o Juvenal (dono do boteco) e conta a respeito da noite passada.
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Depois de fazer um tempo, vai ao encontro do parceiro que havia lhe convidado no meio da semana pra ir em uma boate, segundo ele, muito 10. A garoa começa a cair e vocês param debaixo de uma marquise para terminar de fumar os cigarros que estão ficando encharcados. Esperam um pouco, a chuva cessa e seguem caminhada. Se aproximam da boate, a fachada parece uma construção inacabada com a luz de néon formando as palavras BAR LUPICÍNICA. Na entrada um negro enorme te entrega a comanda depois de te dar boa noite com cara de amigo de infância.
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O lugar não é muito grande , poucas mesas e em cada uma delas um pequenino abajur. No teto três luminárias em formato de concha que jogam a luz no teto, formando uma luz indireta e agradável para os olhos de quem bebeu até de manhã na noitada anterior.
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A cerveja vem em um balde com seis garrafinhas afogadas no gelo, estão estupidamente geladas e o vinho é servido em taças de vidro alemão, um vidro que parece cristal de tão fino. A música é o que tem de melhor. De repente você agarra o cardápio com ar de suspense, pensando no limite do cartão de crédito. Ao fitá-lo verifica que o preço cabe em seu orçamento. Que alívio!
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As palavras vão sendo molhadas lentamente, o assunto flui sabendo que não tem hora pra chegar em casa. Penetrando a madrugada, a música se espalha no ambiente através da voz direta e agradável do senhor de barba longa. O duo de piano e violão que o acompanha é de primeira estirpe, músicos sofisticados, dá pra ver na expressão de cada face e no tanger de cada acorde. Calmamente os lábios envoltos por pelos brancos ao microfone cantam...”acendo um cigarro, molhado de chuva até os ossos...”
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No decorrer das canções o cantor vai chamando seus parceiros para darem uma palhinha. É tudo muito emocionante naquele ambiente escuro e enfumaçado, belíssimas canções. As 4 da manhã ele diz – essa fiz em parceria com esse aqui ao meu lado, debruçado em seu piano. Seguem no compasso: – “Batidas na porta da frente: é o tempo, eu bebo um pouquinho pra ter, argumento, mas fico sem jeito calado, ele ri, ele zomba do quanto eu chorei, por que sabe passar e eu não sei, num dia azul de verão, sinto o vento, há folhas no meu coração, é o tempo, recordo o amor que perdi, ele ri, diz que somos iguais, se eu notei, pois não sabe ficar, e eu também não sei, e gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos, que amores terminam no escuro, sozinhos, respondo que ele aprisiona, eu liberto, que ele adormece as paixões, eu desperto, e o tempo se rói com inveja de mim, me vigia querendo aprender, como eu morro de amor, pra tentar reviver, no fundo é uma eterna criança, que não soube amadurecer, eu posso e ele não vai poder, me esquecer...”
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Todos aplaudem de pé ao final da última canção, quando alguém cutuca seu ombro bruscamente, você abre os olhos e vê a mulher com quem dormiu. Qual o nome dela mesmo? Levanta preguiçosamente do sofá do quarto dos discos e livros, olha em cima da mesa o sanduíche com apenas uma mordida, o embrulho da encomenda rasgado e a capa do cd “Vida Noturna” do Aldir que acabou de tocar no aparelho.
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Roubado descaradamente do blog do Diogo Fonseca que, assim como eu, teve esta sensação ao ouvir pela primeira vez o CD do Aldir.

domingo, 29 de novembro de 2009

Para uma certa menina, com uma flor.

Terceto
Eucanaã Ferraz

Não há matéria para se fazer a tristeza
nessa manhã, manhã perfeita
se a mão que me deu maio fosse a tua.
Estive ausente hoje não pude acompanhar os jogos da décima oitava rodada pelo o campeonato brasileiro. Todos devem saber por aqui ou não, que sou corinthiano que nutro por este time uma paixão eterna. Mas não quero aqui - falar sobre minha paixão e sim, alguns pitacos sobre os jogos.

Não torci contra o Corinthians, jamais, na partida contra o Flamego, acredito eu que o Flamengo será campeão. E troço que me deixará feliz, não é pelo o Adriano e sim pela massa rubro negra, que vem mostrando teu amor incondicional pelo o time. E pelo o que vem jogando o Flamego.

Outro jogo que fiquei sabendo o resultado e me deixou frustrado é Atlético Mineiro. Confesso que achei que ele levaria a melhor sobre o Palmeiras e que conquistaria alguns pontos importantes, para quem sabe brigar por uma vaga na libertadores. Depois de um ótimo começo, tropeçou no final, mostrando incapacidade.

Fato isso eu posso dizer, que quase todos os meus amigos são São Paulinos, que contavam com à vitória contra o Góias, para sacrificar aqui em São Paulo, o campeão do campeonato brasileiro. Ficou com um nó engasgado na garganta, e o grito silenciado pelo o Góias. Para a tristeza dos meus amigos. Mas futebol é assim mesmo,
tem chances, apenas ficou mais difícil.

Mas como futebol é uma caixinha de surpresa, o meu Fluminense, ganhou do Vitória,
e tem grandes chances de escapar da vergonha de ser rebaixado mais uma vez. O que me deixou muito feliz. E como sempre continuo na torcida para que não caia.


É isso, estou na torcida, para que vença o melhor.



sábado, 28 de novembro de 2009

Sei que você por sorte do destino não lê estas mal traçadas. Mas o próprio destino e o tempo, quer que eu cá escreva algo para você. Noite de sábado, eu como sempre, preste a sair para mais uma noite de boêmia e beberagem. Mas antes que isso ocorra, e o meu peito desfalece de saudades de você escreverei algo para ti. A saudade não me deu tempo, desde do momento em que lhe vi, lhe amei. Como se você já estivesse passado na minha vida - sinto o cheiro de tua pele macia e branca, feito a neve, escuto teus risos e gemidos, sinto que deliro de vez em quando, minha lembrança volta a tona a todo momento. Sinto o cheiro de seu apartamento e o gosto na tua bebida nos meus lábios, a música que fez trilha para nossa noite de amor ainda toca aqui dentro. Sinto a poesia que você escolheu naquele livro que te entreguei naquela tarde cinza na praça, quando você levemente de porre, declamou pra mim. O destino quis assim você longe de mim, mas durou o tempo para entrar pra eternidade. Não lhe vejo há tempos, mas jamais deixei de lembrar de você. Percorri aquelas ruas que caminhamos juntos naquela madrugada vazia e silenciosa. O samba que escutamos juntos, a cachaça que bebemos, o cheiro do teu sexo pelas minhas narinas. O odor que exala teu ventre, o cheiro de rosa que vem da tua pele, tudo isso me entristece nessa noite vazia. A solidão é tremenda entro em conflito quando lembro de ti, não sei por aonde andas nessa cidade enorme e cinza. Mas sei que aqui dentro, levo os caminhos que juntos percorremos, levo aqui comigo como se fosse uma espécie de amuleto, o teu nome, a me guiar, a me poetizar, a me amar.

A rotina era intensa, o desespero rondava tua vida. Muitas foram as vezes que pensou no pior, pensou em acabar de vez com o desespero e a angústia que sentia. Lamentava que os planos não tinham dado certo - que errou mais que acertou. Foram tantas as vezes que ali o encontrei sentado naquele cadeira no silêncio absoluto em volto da fumaça de seus inúmeros cigarros. Dizia que o alento era a bebida que sem ela, não saberia viver. Que o bar era teu lar, os freqüentadores tua família. Já que a família não aguentou seus inúmeros porres homéricos, e foi embora, deixando ele ali naquela vida, a delirar no abismo da solidão. Poucas vezes tive a oportunidade de conversar com ele, alguns poucos e impertinentes diálogos. Apesar do pouco estudo, assim ele dizia, ele entendia muito sobre a vida, se dizia um filósofo. Na noite de ontem, quando por lá estive, naquele buteco imundo, lá estava ele, trancado na solidão, cercado por garrafas e bitucas. Fiz um aceno com as mãos para ele, que retribui com um singelo balanço com a cabeça. Aquele ambiente sempre me causou uma espécie de curiosidade, sempre que posso, procuro saber dos poucos mais fiéis freqüentadores seus dramas particulares. O que me deixa um tanto comovido com tudo isso - é o drama humano. Todos sofrem pelas as mesmas coisas, os mesmos sentimentos, as mesmas saudades, as mesma alucinações. Procuram ali naquele ambiente a cura para o tédio, enxerga no fundo do copo, o paraíso, uma vida menos sofrida. Quando este alento parece ser a cura, lá vem a calçada e a sarjeta para impor-se novamente. Ontem com a barulheira toda, milhares falando ao mesmo tempo, pude reparar que todos ali, de alguma maneira queria esquecer de algum jeito os sofrimentos - causados pela a vida. Confesso que eu não sei se é o certo ou o errado à fazer no momento. Mas que um olhar embriagado, um papo cabeça, alivia o tormento, e devolve de volta aqueles seres que por um único momento esqueceu que ainda pode viver, que ainda pode acreditar e ter de certa forma uma maneira de viver, mesmo ela sendo para muitos a maneira errada de conduzir à vida. Como mero aprendiz disso tudo, sentado ali, conforme escrevi, faço o mesmo - silêncio o meu pranto, rasgo o peito, enxugo minhas lágrimas e toco a minha vida em frente, até o dia do suspiro final.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Balcão de bar,
quando lá eu te encontrar,

me acalme, me anime, me segure.

Permita meu balcão que não caia no chão,
depois da décima quinta,
permita meu caro amigo: balcão

encostar na tua, e lhe dizer minhas mágoas,
balcão de bar

não me afaste tanto assim da vida,

permita que no meu peito reste uma esperança,

um desejo, um único sentimento.

Balcão de bar, hoje lá estarei, naquele canto esquerdo,
permita meu caro, que eu chore, isso mesmo, chore, meu balcão de bar,
chore de saudade, quando lá tocar aquele samba, que me lembre daquela menina.

Permita meu caro, permita eu chorar, para quem sabe, secar tudo aqui por dentro.

Permita meu balcão olhar no meio daquelas garrafas, e vê no fundo delas, o olhar alegre daquela menina a me acalentar, dizendo que tudo isso não passa de um sonho.

Espera meu balcão, logo logo, chego ai, é apenas duas quadras.

Estou indo, meu balcão.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

BELA COMPANHIA

BILHETE, SOPHIA!

O que tenho para lhe dizer apenas é um pedido de desculpas. Não tive a oportunidade de lhe ver, nem por 5 minutos o que lastimo profundamente. Confesso que aguardei tua chegada, a todo momento eu virava em direção a porta de entrada para ver se você aparecia. Lhe agradeço imensamente, entendo tua ira, tua tristeza, mas aconteceu. Não sei bem o que aconteceu, não tive como me explicar. Espero que um dia você possa entender e quem saiba compreender tudo que ali passou.
É verdade que ter te conhecido, foi uma das coisas mais prazerosas deste ano que se encerra há poucos dias. É verdade que busquei no teu sorriso a cura para minha solidão, é verdade que reparei na tua roupa, no teu cheiro na tua fala. É verdade também que sai dali com uma sensação estranha misturada ao meu sono, ao meu cheiro de cigarro. É verdade que percorri aquelas quadras, aquelas ruas, com uma sensação de estranheza. É verdade que te queria para te devorar e buscar no fundo da sua alma, algo que me faço melhor. É verdade que queria que brotasse do teu ventre uma flor, para florir neste mundo tão cinza. É verdade que estrada percorrida, foi dura, cansativa, emotiva, saudosista. Tudo isso é verdade, os rumos tomados talvez é que tenha sido na direção contrária. É verdade que sinto tua ausência, é verdade que sinto o silêncio das tuas palavras, é verdade que sinto tua alma cinza grudada na minha. É verdade que gostaria de cantarolar alguns sambas ao pé do teu ouvido, para que sentisse o cheiro da minha bebida. É verdade que gostaria de sentir o gosto dos teus lábios sem batom, é verdade que jamais pensaria que estaria ai um dia, é verdade que eu não sou parecido com que ando escrevendo, é verdade que essa ausência nos pertuba, é verdade que minha insignificância lhe cansa, é verdade que não acrescento nada na tua vida, na tua rotina, nos teus gestos. É verdade que fui, é verdade que te encontrei, é verdade que caminhei pelas ruas do teu bairro, é verdade que ali na madrugada vazia e silenciosa, eu pensava em ti, enquanto você dormia. É verdade que vi ali naquele amanhecer na sacada daquele prédio algo estranho nascendo junto com o sol. É verdade que aquela brisa que batia no meu peito refrescando o mesmo, que dificultava o acendimento dos meus cigarros, que bagunçava os meus cabelos, tudo isso é verdade, não é mentira. Tudo isso acredito que não foi sonho, e talvez não precise ser lembrado, ou até mesmo levado adiante. Pois tudo isso eu te fiz, pois tudo isso eu te sonhei, não o sonho mais lindo, talvez um sonho mais simples, assim como eu acho que a vida deve ser, assim como eu gostaria que minha alma fosse simples, embora acredite que este meu coração vagabundo acabará morrendo numa tarde qualquer a procura de ti, Talita.
Eu poderia colocar aqui o teu nome, para que você ao ler este relato se identificasse com ele, mas creio que não seja o caso para tal. Acredito que você saberá logo nas primeiras linhas que se trata de nós dois. É chegada a hora do termino do ano, hora de colocar em cheque o que valeu a pena, e o que não valeu a pena. Hoje ao te re-ver depois de longos meses de ausência, senti na pele que já não somos mais os mesmos de outrora. Já não vejo mais a nossa união como houve num determinado tempo. Já não somos mais os mesmos, não sei bem definir o que aconteceu, e qual foi a transformação que houve. Mas não somos. Mas pude perceber que o teu olhar continua o mesmo, pude sentir o cheiro de tua pele, e perceber que é o mesmo cheiro de outrora. Pude ouvir por alguns momentos tua voz macia e pausada, pude ver que você emagreceu um pouco, e talvez um tanto abatida, cansada. Pelo o contrário eu vou na mesma direção, me acabando aos poucos, na certeza de partir o quanto antes dessa vida, partir para não mas voltar. Não posso dizer que tivemos uma conversa, nem que ele foi franca, pois o tempo que durou foi e será sempre insignificante perante ao passado, a duração das nossas conversas que rompia a madrugada, que ia no cinema, que ocorria pelos os bares, que ocorria no teu carro. Lamento que tudo isso se perdeu, ou permaneceu guardado no nosso imaginário ou até mesmo na lembrança. Eu fui nada mais e nada menos que a companhia para tua solidão, o ouvinte para teu tédio e dores do mundo, fui a luz que chegava antes da escuridão, fui apenas um aprendiz, fui nada além do que sempre serei, um eterno aprendiz perto de você.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Estive hoje como nos velhos tempos, perdendo o meu tempo, ou melhor aproveitando meu tempo, naquele buteco. Já era noite quando cheguei, algumas estrelas no céu, a lua mostrando as caras, se fazendo minha companheira para mais uma noite de boêmia. A saudade me matando, essa ânsia de querer sempre estar ao teu lado diminuindo o teu padecer e você não querendo perceber, se importando com coisas miúdas, tão pequenas. A emoção de estar ali sempre é verdadeira, sempre que entro ali, é como se estivesse pisando dentro de casa - a emoção de rever alguns amigos, de beber, conversar, dar risada da vida, trocar informações e hoje não foi diferente. Tenho abusado da saúde nestes últimos tempos - minha sede é do tamanho de Itaipu, como diria Aldir Blanc ( minhas sede é dos rios), não foi diferente. Bebi algumas ampolas, acompanhada de uma cachaça mineira, escolhida a dedo por mim, e posso garantir vendida apenas para mim, troço que me deixa emocionado pra cacete. Mas como sempre buteco é o lugar do imprevisto, do improvável, rolou uma janta - sem ao menos combinar. O troço foi o seguinte: Bebida abre o apetite, e nada melhor que um bom prato de arroz com feijão e um bom bife de fígado acompanhado com um salada de tomate e alface. Detalhe a janta ficou pronta em alguns minutos, sem que o o Baixo assim chamado cobrasse nenhum tostão pelo o prato farto ali servido. Como sempre falo aqui, ou aonde quer que vá, é ali, meus caros que me sinto bem, é ali que me sinto humano, que me emociono, é ali naquela esquina, que quero cair um dia e morrer, é ali que me arranca lágrimas dos olhos, é ali bem ali, que me sinto feliz, é ali que sinto o que é a vida, e quanto vale a pena viver.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A correria é tamanha, a saúde anda abalada, com tudo isso acontecendo me impede de beber, de ir até a minha espelunca. Hoje depois de duas longas semanas, apareci, como um cristão na santa missa, apareci por lá. A espelunca estava vazia, como deveras sempre és. A chuva caia fina, molhando as árvores, molhado o rosto daqueles que ali passavam apresados. Uma imensa saudade, fazia se presente aqui dentro, uma vontade de sentar ali, pedir uma cerveja gelada, uma boa cachaça mineira para acompanhar - e ver a noite cair lentamente, adormecendo o peito vazio, enxugando o meu pranto, aliviando a dor da despedida naquela tarde solitária. Ali do outro lado do balcão o seu Ademar, com seu velho avental verde, com o riso estampado no rosto, alegre de ver, ali presente. Me perguntando por onde andei, e porque sem ao menos dar um alô, desapareci, assim como milhares partiram nos tempos de chumbo. Como sempre a minha velha e podre poesia é a minha companheira, nesta noite chuvosa, pude dizer para ele o quanto lamentava essa ausência do seu bar, que tanto me acolheu, e que tanto me deu felicidade. Mas como ando triste, e andei perambulando pelo meu Brasil, que tanto amo, em busca da paz para a minha alma, que voltei como quem volta do mar agitado, como a morena que espera no cais em busca do teu nego e do teu saveiro, eu voltei. Mas quero aqui neste meu humilde e simples espaço lhe dizer, meu bar: aonde quer que vá, aonde quer que eu beberei, é em você que pensarei, é neste balcão que tanto me acolheu, que tanto, dispensou a minha dor, como quem despacha uma oferenda para os orixás, é você que tem o lugar cravado no meu peito, é você, e essa aldeia que levarei aonde quer que eu vá. Apesar de muitas idas minhas, sentir que nem sempre é possível a volta.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

É verdade e não nego: o balcão do velho botequim, é o meu guerreiro, é a minha fé, é o meu esplendor. Com isso, coloco aqui, um poema que diz o que eu gostaria de escrever um dia.

Balcão de Bar,
Espelho de tristes rostos
Em que a tarde põe desgostos
E a noite vai agravar.
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Balcão de Bar,
Porto de gente sofrida
A esconder o que a bebida
Aos poucos vai revelar.
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Balcão de Bar,
É o inferno e o paraíso
A depender do sorriso
Da mulher que vai entrar.
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Balcão de Bar
Confessionário paciente
Do bêbado inconseqüente
Que em ti vai se apoiar.

Balcão de Bar
Ao apagar de tuas luzes
Levantam-se negras cruzes
Que nos vão crucificar.
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Madrugada,
Lá fora a vida começa
Mas tu me esperas sem pressa
Pois sabe que eu vou voltar.
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Balcão de meu velho Bar....
Noite de segunda-feira, garoa fina cai lentamente. Vejo pelo o vidro da janela o desenho da tua face, vejo o teu zombar alegre de mim. Melancolia, tristeza, e uma vontade incessante de beber, de esquecer, de sofrer, de viver. Todos os sentimentos que existem aqui dentro de mim se confundem quando vejo o teu rosto ali, desenhado pelos pingos de chuva no vidro de minha janela. A música é a mesma, a saudade é a mesma, e essa vontade de lhe esquecer apenas por um momento. Apenas um momento é o que repito. Mais não direi, pois palavras neste momento não adiantaram para diminuir o imenso abismo que separa nós. Então o que fazer, é o que me pergunto a todo momento, uma voz de um diabo me diz, o que fazer, é beber, é sentar na minha espelunca querida, naquele canto que tanto gosto, pedi o velho conhaque acompanhado de uma cerveja mofada de gelo, e sentir aos poucos, meus olhos se perderem na imensidão do horizonte a procura dos teus, a percorrer estes tantos quilômetros que me leva até você.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O conheci numa tarde de segunda-feira, uma tarde simples, dessas qualquer. Tarde de calor, com uma leve brisa soprando, seu Antonio, estava sentado no banco da praça, esperando seu velho companheiro para o jogo de damas. Sentado embaixo da árvore, dizia, que não gostava do calor, que sua preferência sempre foi pelo o tempo frio, que fazia se recordar de sua infância em Porto Alegre. Seu Antonio, para minha surpresa me foi apresentado naquele dia, quando passava apresado para mas um dia de trabalho. Devido a um escorregão, torci o pé, com muita dor no tornozelo, seu Antonio, me puxou para o banco, disse para eu aguardar um pouco ali, que iria até a casa simples que morava para apanhar um pouco de gelo e um copo d'água. A dor aumentava, por um único instante cogitei a idéia de ir embora, mas a dor me fez re-pensar. Avistei do outro lado da rua seu Antonio apressado vindo com uma garrafinha de água e uma compressa de gelo, pediu para eu não me mexer, colocou a compressa de gelo sobre o meu tornozelo. Sentindo um pouco menos de dor, lhe agradeci, lamentando o ocorrido, ele ainda com um sorriso singelo estampado no rosto, disse que era assim mesmo, ainda brincou, dizendo que eu andava com os pensamentos nas nuvens, ou até mesmo, pensando em alguma mulher. Dei um risada, dizendo que não andava com essa bola toda. Tivemos um cinco minutos de papo, quando lhe perguntei o que fazia naquele banco. Foi quando ele me respondeu, que a velhice, não nos resta nada, além de sentar num banco e pensar na vida, no passado em busca de lembranças. Mas que também esperava um grande amigo, que por sinal estava atrasado para algumas partidas de damas. Por um breve instante fiquei a pensar no que foi dito, mas a dor me impedia de filosofar. Disse para ele que precisava ir para casa, que não precisava mais de ajuda, que alguns minutos apenas estaria em casa, que procuraria um médico, para quem sabe a gravidade da torção enfaixar o tornozelo e ganhar alguns dias de descanso do trabalho. Levantei calmamente, procurando não apoiar o corpo sobre o tornozelo torcido, lhe agradecendo pela ajuda, prometendo voltar assim que me recuperasse para um partida de damas, e quem sabe talvez, uma conversa sobre as coisas do mundo e da vida.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

LISTA

Aproveitando que o fim de 2009 se aproxima, e com a chegada desta data é hora de fazer o balanço, colocar na balança o que realmente valeu a pena. Colocarei aqui uma lista simples, nada sofisticado, nada crítico ou melhor olhando pelo o lado crítico da coisa. Segue alguns livros, CDs e filmes que gostei, segue abaixo:

CDs

Aldir Blanc - Vida Noturna
Moacyr Luz - Batucando
Nana Caymmi - Quem inventou o amor
Maria Bethânia - Tua
Maria Bethânia - Encanteria
Nação Zumbi - Fome de Tudo
Paulo Cesár Pinheiro - Lamento do Samba

LIVROS

Joana a contra gosto - Marcelo Mirisola
Aldir Blanc - Rua dos Artistas
Fausto Wolff - O lobo Atrás do Espelho
Nelson Rodrigues - Cabra Vadia
Orfãos do Eldorado - Milton Hatuom

Coloquei aqui, uma lista de livros e discos que tive a oportunidade de ler e escutar este ano, não necessariamente foram lançados em 2009.


sábado, 14 de novembro de 2009

Tarde quente, vejo da minha varanda o vai e vem das meninas, com seus corpos à mostra, sinto uma leve nostalgia assim como a brisa que vem do mar. Me vem na lembrança o teu corpo nu, o cheiro de tua pele e gosto adocicado dos teus beijos. Sinto uma tristeza profunda, me pego a recordar momentos que não voltaram acontecer. O calor abafa os meus pensamentos, minha garganta seca, pede uma boa quantidade de cerveja, para amortecer as dores do peito. Avisto as velhas ruas do meu bairro, que me assistiram de perto o meu crescimento, a minha liberdade. Ruas que tanto percorri e corri, ruas que tanto cai e outras tanto levantei. Neste instante começo a lembrar das mulheres que passaram na minha curta vida, sinto uma imensa saudade de todas, vontade de revê-las, de ver o rumo que tomaram, ver como andas. E dizer para as mesmas, o quanto lembro delas. Sei que algumas me xingaram de canalha, de cachorro. Outras acredito que ficaram felizes em me re-ver. E ver o quanto eu sou triste, o quanto envelheci em pouco tempo. Mas deixarei isso de lado, não vale a pena, ficarei aqui sentado numa cadeira, avistando o vai e vem das garotas, a delirar, a embriagar-me, de tua face, de tu menina, que não esqueço, e talvez espero que passe aqui na frente, com a um leve toque na bozina, acene para este pobre coitado, que escrevi aqui essas mal-traçadas, nesta tarde calorenta de novembro, a recordar de você.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quando eu nasci, não veio um anjo torto conforme disse o poeta,
quando eu nasci, me veio um Deus, que me disse: vai o teu destino é sofrer.

Derramado o sangue sujo do ventre imaculado de minha mãe, que não é maria, e sim Rosa.

Carregado durante meses no colo de minha mãe, mamando nos seus seios acolhedores,
bebi o cálice santo do amor materno.

Engatinhando pelos cantos e gritando aos prantos, tudo o que minha alma necessitava além desta cruz que cansei de carregar.

Deus ainda disse: teu destino tu que fará, fará teus próprios caminhos, mas eu guiarei os teus passos aonde quer que vá.

Ergui com o meu suor cada tijolo, na esperança de quem sabe um dia ter uma parede. que me cerca dos males destes filhos, que se dizem filhos de Deus.

Caminhei por trevas, caminhos tortuosos, mas também caminhos belos. Senti o orvalho da manha. senti o perfume das rosas, senti o cheiro do teu sexo, senti o teu ventre, a gerar um filho meu.

Senti nos lábios a chama do amor, neles senti o perfume, na minha pele ainda resta as marcas deles.

Senti como sentia antigamente quando a minha mãe beijava a minha face, me acalmando, dizendo que tudo ia passar.

Senti um deus, senti, que tudo isso não vale a pena.

Carrego desde de então um fardo, uma esperança, e uma flor.

Nesta minha alma inocente, deste menino que saiu daquele ventre. de uma mulher que não se chama Maria e sim Rosa.

Sai com a alma inocente, com muitos caminhos para seguir, mas sem nunca esquecer, que foi tu e não Maria, que me guiou e me mostrou os caminhos que deveria seguir.

E assim, seguirei os teus passos, os teus caminhos, como muitos aqui na terra, seguem Deus os
caminhos escritos naquele livro, que seguem o teu filho Jesus.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Certa vez, me disseram que o meu destino era amar todas as mulheres, que jamais eu amaria apenas uma. Confesso que eles tinham razão, os poetas amam todas, ou deveras fingi que as amam. Mas confesso aqui também a verdade é que amo sim, minha alma imunda que caminha torta pelo cantos deste mundo, ama a todos. No momento apenas posso dizer, que amo apenas uma, uma apenas manda nos meus passos, nos meus dias, nos meus sonhos. Todo passo que dou,sinceramente não são poucos é em tua direção. Todos os textos que aqui rascunho, que apelidei de mal-traçadas são para ti. Todos os meus porres nas noites solitárias são para ti. Todos os acordes que dedilho no meu violão são para ti. Todos os meus dias quando acordo, a primeira coisa que penso é em ti, todo ser humano que tento ser é por causa de ti, é por causa de ti, que me inspiro, é por causa de ti, que vejo a natureza, que escuto o cantar dos pássaros, é por você, que tento diminuir o meu pranto, é por causo de ti que canto o meu canto, é por causa de ti, que lamento essa minha ausência, é por causa de ti, que vejo no sorriso de uma criança a luz da esperança, é por causa de ti que vive assim tão longe, que vivo a mercê do amanhecer, que trás no clarear a nova semente, para um novo brotar. É simples assim, desde que nasci sou assim, um eterno aprendiz, da luz que inrradia dos olhos teus, é mesmo assim, quando não se consegue dizer um adeus, é mesmo assim quando na noite de calor, não consegue dormir o sonho. É mesmo por causa de mim que tu vives assim tão longe, é por causa de eu ser assim, um menino, que vê o mundo, apenas como gostaria que fosse, é por eu ser assim, que orvalho da manha molha a minha alma, é por eu ser assim, que buscarei nos caminhos mais tortuosos a luz que me levará até você, é por eu ser assim, que buscarei até o cansar. os teus passos, o teu cheiro, o teu sabor, e por falar assim, aonde anda você?

domingo, 8 de novembro de 2009

É por isso que a amo ainda mais, para ser sincero te amarei eternamente. Noite de calor, janelas abertas, você nua, andando pela casa descalça, tracejando a rota para uma noite de amor. Teu corpo nu, tua pele suave e macia, tuas pintas espalhadas pelo o corpo. Tua voz suave e simples, me dizendo o quanto aquilo tudo significava. Avistava tua face alegre, depois de algumas taças de vinho. Ria um riso descontraído, prenuncio de uma noite maravilhosa. Não foi diferente, meu corpo entrelaçado no seu, esparramados pelo o chão, teu suor misturado ao meu, gemidos ao pé da orelha, juras e mais juras de amor eterno. Passo minha mãos pelo o teu corpo até chegar ao teu sexo, você geme na ânsia do gozo, naquele instante e o tempo parou, ficamos ali, apenas dois amantes numa noite de verão, celebrando o amor, contemplando a natureza do ser humano, descoberto de pudores, e te digo: ao nosso amor maior.

sábado, 7 de novembro de 2009

Já era noite, quando o telefone tocou. No outro lado da linha, sua voz triste, como quem acabou de chorar, me dizia o quanto lamentava, o quanto se arrependera do termino precoce da nossa união. Dizia que lamentava o que tinha acontecido, que não era pra ser assim, que o tempo havia mudado tudo. Um triste silêncio, se fez presente a ligação ficou muda, você chorava, pedindo desculpas, antes de eu falar alguma coisa, você disse adeus e desligou o telefone. Fiquei a contemplar o silêncio do adeus, o silêncio das palavras não ditas, lamentando o que poderia ter sido, se tivesse deixado eu mostrar o que guardo para ti aqui dentro. O velho cigarro no cinzeiro, o velho disco, a mesma voz do poeta, me dizendo que as coisas tinha que ser assim. A noite linda lá fora, os amantes se amando nos bancos da praça, fazendo eterna juras, de amor para toda vida. Um triste sorriso brotou de minha face, triste e pálida, dei risada, chorei, lamentei, mas não havia tempo para mudar o que o mesmo tempo determinou. Ficamos ali juntos na solidão, a lamentar no escuro da noite na presença das estrelas, mas um romance que chegou ao fim, mas uma jura desmentida, mas um poema rasgado na lixeira do banheiro, mas uma palavra calada, mas uma veia que estoura aqui dentro, e mas uma vez, mas uma vez....

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Noite de calor absurdo, como bom sábio que sei que sou, nada melhor que uma cerveja antes do sono para dormir melhor. Pernilongos para todos os gostos, noite linda lá fora, casais namorando nas praças, botequins um belo palco para uma abrideira e um bom papo. Na vitrola uma canção me acolhe nada menos que Dorival Caymmi, o mestre, e que falta me faz. Tremenda emoção, não deixando de ser romântico digamos, que saudade que sinto de você menina. O quanto me faz falta tua fala, teu riso, teu pranto. Enfim, será uma noite longa, porém não mais belas.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sei que você passa por aqui, que no meio do turbilhão que você vive, você dedica alguns minutos a ler essas mal-traçadas linhas. Sei também que tem um novo amor, que te faz um tanto feliz, lhe desejo apenas felicidades. Sei também que já fiz de tudo, ou posso acreditar que fiz, para ter você um pouco mais perto de mim, ou para ser preciso, o teu amor. Eu pra você fui mais um, e você foi tudo para mim. O meu céu era você, a minha razão, o meu tudo. Não sei em que ponto eu fracassei, não sei em qual ponto, não fui capaz de lhe fazer entender o tanto que te amo, e o tanto que queria te fazer feliz. O teu rosto eu quase não lembro, o som da sua voz, some aos poucos, o teu sorriso, já não possui o mesmo brilho de antigamente, a tua fala suave na madrugada vazia, enquanto tentavamos achar uma simples razão para se viver. Hoje depois de um certo tempo, que estou longe de você, procuro sempre entender, o porque não deu certo como queria. Prometo que não me estenderei por aqui, prometo, também que não quero que se lamente, ou se possível espero que você não leia, essa declaração brega e inocente, de um jovem que não sabe porque, ainda vive e pulsa aqui dentro, toda vez que eu vejo você, e você fingi não me ver.

PAPO DE BUTECO

- Tio me dá, 1 real?

- Pra que, você que 1 real?

- Pra inteirar pra comprar cigarro pro meu tio.

- Pra que?

- Pra mim comprar bala, tio.

- Não, não....

- Tio comprei a bala, só deu para 3 balas.

- Tudo bem, afinal você só tem uma boca, não é?

Até.
É sabido por todos, a minha paixão pela querida Minas Gerais. Entre tantos cantos e encantos, entre suas montanhas, seus vales, suas cachaças, seus escritores, e porque não pelas suas mulheres que na minha opinião modesta, são as mais belas. Hoje sentado aqui, nesta pequena cadeira, olhando uma fotografia, tirada por mim, das Gerais, me derreto em saudade, que não passa, que não cala. Uma cachaça, acompanhada por uma cerveja estupidamente gelada, me comovo. Lágrimas escorrem, molham meu triste e sofrido rosto, um verso me consola, uma canção me apaixona. Deixo aqui poema de Drummond, que retrata o que digo.

O SOTAQUE DAS MINEIRAS

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.
Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis
efeitos colaterais,
como é
que o falar, sensual e lindo ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!

Mineira devia nascer com tarja preta avisando:
ouvi-la faz mal à saúde.
Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para
assinar um contrato
doando
tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso?
Assino achando que ela
me
faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que
me ligou por engano,

pelo sotaque.
Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.
Preferem,
sabe-se lá
por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem:
pode parar, dizem:
"pó
parar").

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas,
supõem, precipitada e
levianamente, que os mineiros vivem -
lingüisticamente falando - apenas
de
uais, trens e sôs.
Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é
competente em tal
ou
qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço.

Pouco importa que seja um juiz de direito,
um jogador de futebol ou um
ator
de filme pornô.
Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de
serviço.

Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem.
Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas
há de perguntar pra
outra:
"cê tá boa?"
Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma
mineira se ela tá boa é
desnecessário.

Vamos supor que você esteja tendo um caso com
uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:
Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).
O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais
amplos significados.
Quer
dizer, por exemplo, trabalhar.
Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido.
Querem saber
o seu
ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir.
Aqui ninguém consegue
nada. Você não dá conta.
Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo,
você liga e diz:
Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não,sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui.
É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública,
de qualquer
frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar
e não estão lhe
dando muita atenção: é uma forma de dizer, "olá,
me escutem, por
favor".
É a última instância antes de jogar um pão de queijo
na cabeça do
interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por".
Dizem, sabe-se lá por que, "pêxonado com".
Soa engraçado aos ouvidos
forasteiros.
Ouve-se a toda hora: "Ah, eu pêxonei com ele...".
Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você,
um carro, um
cachorro).
Elas vivem apaixonadas "com" alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras,
todo mundo sabe. É um tal de
"bonitim", "fechadim", e por aí vai.
Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo:
"E aí, vamos?".

Não caia na besteira de esperar um "vamos"
completo de uma mineira. Não
ouvirá nunca.
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela,
mas
prefiro, com
todo respeito, a mineira. Nada pessoal.
Aqui certas regras não entram. São barradas
pelas montanhas.

No supermercado, não faz muitas compras, ele compra
"um tanto de côsa".
O supermercado não estará lotado, ele terá
"um tanto de gente".
Se a fila do caixa não anda, é porque está
"agarrando" [aliás,
"garrando"] lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir
um mendigo e ficar com
pena,
suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que
a essa altura o leitor já
esteja apaixonado pelas mineiras.

Não vem caçar confusão pro meu lado.
Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro
"caça confusão".
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro,
é melhor falar, para
se
fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual,
ou dizer que algo é
muitíssimo bom vai dizer: "Ô, é sem noção".
Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora,
idéia do "tanto
de
bom" que é.
Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo,
porque sem ele não dá para
dar
noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Capaz... Se você propõe algo e ela diz: capaz!!!
Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo.
Quer dizer o quê? Sei lá, quer
dizer
"ce acha que eu faço isso"? com algumas
toneladas de ironia...
Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen,
ela dirá: "Ô dó dôcê".
Entendeu? Não? Deixa para lá.

É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."?
Completo ele fica:- Ah, nem...
O que significa? Significa, amigo leitor,
que a mineira que o
pronunciou não
fará o que você propôs de jeito nenhum.
Mas de jeito nenhum.

Você diz: "Meu amor, cê anima de comer
um tropeiro no Mineirão?".
Resposta: "Nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.

Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?
A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?".
A pergunta, mineiramente falando, seria:
"cê não anima de ir"?
Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.

É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...
Falando em "ei...".
As mineiras falam assim, usando, curiosamente,
o "ei" no lugar do "oi".
Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!",
com muitos pontos de
exclamação, a depender da saudade...
Tem tantos outros...

O plural, então, é um problema. Um lindo problema,
mas um problema.
Sou, não nego, suspeito.
Minha inclinação é para perdoar, com louvor,
os deslizes vocabulares
das
mineiras.

Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer
que a oficial esteja
com a
razão.
Se você, em conversa, falar: Ah, fui lá
comprar umas coisas..
Ques côsa? - ela retrucará.
O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade",
no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela,
chorosa, confidenciará:
Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus
mistérios em Minas...
Ontem, uma senhora docemente me consolou:
"prôcupa não, bobo!".
E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas
conjugações mineiras, nem se
espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um:
"não se preocupe", ou
algo
assim.

A fórmula mineira é sintética. E diz tudo.
Até o "tchau" em Minas é personalizado.
Ninguém diz tchau pura e simplesmente.
Aqui se diz: "tchau procê", "tchau procês".
É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Então..."

Um abraço bem apertado procê