quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010

Ano se aproxima do fim, e a única certeza que tenho, é que passarei por mais um, assim espero. Tive posso dizer, um ano maravilhoso, fiz o que quis, gastei dinheiro que não podia gastar, viajei e com viajei este ano. Bebi horrores, passei dias inteiros nos bares, chorei, me emocionei, lastimei. Tudo isso fez com que eu realmente eu aprendesse a malandragem da vida. Desejo aos poucos que aqui perderam seu tempo, lendo essas mal traçadas linhas, um bom ano, regado de axé, que o batuque nos alivia dos tormentos mundanos. Pois tenho certeza que será um novo ano, um ano de esperança que tudo possa melhorar neste meu país querido. E assim meus poucos leitores, termino por aqui, darei um pulo na esquina atrás de uma cerveja gelada, pois serás as penúltimas que tomarei neste ano de 2009.

Há todos um bom 2010, e muito axé.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Época de festas, inspiração me falta. O papo é o mesmo, a dor também. Afago minha lembrança na cachaça, mas a danada não me vem. O que vejo é luzes espalhadas pelos os cantos, todos se perguntando aonde vai passar a virada do ano. Confesso neste humilde espaço que há anos não me empolgo com a data. Este ano para espanto dos amigos próximos, falei que gostaria de passar na companhia deles, bebendo, não me importando com o lugar. E assim espero que seja. Outra coisa que chama atenção - é este lamento que carrego aqui dentro, 2009 foi bacana, fiz novas amizades, fiz uma dezena de viagens. Gastei cerca de 40 por cento da renda adquirida nos butecos, que tanto freqüento. A inspiração me falta, tá vendo? Mas termino o ano, sentindo falta de algo. E esse algo que me incomoda, esse algo que não sei bem o que é. Minha mãe que é um tanto religiosa, me disse que é falta de Deus no coração, já que na opinião dela eu sou ateu. Procuro não discordar pois opinião de mãe é sempre certeira e precisa. Mas confesso que não é isso, é uma eterna busca, sem saber o que seja. Junto com essa busca, vem os tormentos, mas como sempre digo, o importante é manter-se bem, ter esperança, acreditar que num futuro breve teremos um país melhor, mas justo, não importa que seja daqui 500 anos, mas teremos. Enquanto isso, desejo à todos um bom 2010, que tudo se realize na vida de vocês. Pois tenho certeza que 2010 beberei um pouquinho que é para ter argumento.

sábado, 26 de dezembro de 2009

A rotina se repete todos os dias. Cumpro os meus afazeres e desfaleço nas esquinas. A madrugada essa calmaria para o meu ser. Minha alma vadia, vagueia por ai. Escuto daqui que eu não presto, que eu bebo tudo aquilo que ganho. Que arruinei sua vida. Coisas do tipo. Enquanto na vitrola rola um disco no Noel Rosa, me acabo aqui, remoendo as lembranças de outrora, quando perseguia teu corpo cheio de pintas. Enquanto você não esta nem ai para mim. Assim vou vivendo, querendo que se phoda todos, querendo que o politicamente correto vai a merda. Bebo, trago, meu lar é o butequim. Enquanto lastimo tua falta, mas meu último desejo você não pode negar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SOLIDÃO NOTURNA

Sempre que posso, conto aqui algumas histórias que muitas vezes vejo e escuto, ou fruto de minha imaginação. Da aonde vem não importa, são pequenos pedaços, são pequenas metáforas que trago até aqui. Hoje não será diferente. Como disse por aqui algumas vezes, o drama humano é o mesmo, a carência, as riquezas, a pobreza, o caráter, a dignidade, a fraqueza, o silêncio, a solidão. Nesta noite de natal, data excelente para se fazer um levantamento da vida, o que de certo fez, e o que poderia ter feito. É claro, que muitas são às vezes que não acertamos, que erramos, isso faz parte, pois somos humanos. O mais importante é tentar, não importa se erramos, vale tentar. Vale tentar ser melhor, vale a pena ser feliz, vale a pena amar, vale a pena ter esperança, vale a pena manter a chama sempre acessa. Assim temos a certeza de que aqui na terra, faremos um lugar mais digno para se viver. Porque digo isso? Digo ou melhor escrevo, pois muitas vezes estive reparando ao meu redor, vi muitas luzes apagadas, vi muitas pessoas se entregando, vi muitas pessoas se matando. E não é por isso que estamos por aqui. Ontem numa das minhas andanças, depois da ceia natalina junto com a família, caminhando pelas ruas do meu bairro, este lugar esquecido por muitos, reparei nas casas, reparei nas ruas, reparei na solidão, reparei no barulho. Época que todos passam juntos, assim propagado pela mídia, pela televisão. Mas não esquecemos que nem todos são assim, tem família por perto. Ontem, um fato que me chamou bastante atenção, foi um senhor sentado ao fundo do buteco sozinho. A solidão daquele homem me comoveu, não sei explicar, mas algo nele me comoveu. Pedi a minha cerveja, o buteco estava lotado - música no volume alto, todos ali presentes parecia não reparar naquele canto o senhor escondido parecendo não estar ali presente. O tempo que ali estive, fiquei reparando em sua fisionomia. Parecia um tanto solitário, um tanto chateado. Na sua mesa, algumas garrafas vazias, alguns copos. Me pareceu que ele já tinha bebido todas. Quando falava alguma coisa era para pedir outra. Reparei que ele prestava atenção nas músicas, que cantarolava algumas delas. O alento para sua alma ferida. Enquanto no meu canto reparava tudo aquilo, alguns jovens casais bebendo suas bebidas, se beijando, se amassando festejando a arte do encontro, aquele senhor sentado ali, parecia ausente de tudo. Olhei na sua fisionomia tentando reconhecer ele de algum lugar, de algum buteco, mas não apareceu na minha lembrança. Então perguntei para o dono do bar, se ele aquele senhor era do bairro, se freqüentava ali. O bigode disse que sim, que passava todas as noites por ali, mas que não sabia nada sobre ele, nem o nome. Sentava sempre no mesmo lugar, na mesma mesa, suas bebidas era as mesmas. Também não conversava com ninguém, que só saia dali, quando fechava as portas, muitas vezes raiando o dia. Tentei mais me contive, de se aproximar para puxar um papo, para saber algo a respeito do malandro. Me contive, não tive coragem. Fiquei apenas imaginando a solidão daquele homem neste mundo, milhares presente, milhares de conversas ao seu lado, e ele perdido talvez numa lembrança de outrora. Me levantei caminhei em direção da rua, acendi um cigarro, reparei na rua, aquele silêncio interrompido apenas por alguns jovens que caminhavam. Pensei no menino jesus, em Deus, na santa ceia. Nos milhares por ai que vivem no descaso, debaixo de pontes, dormindo debaixo das coberturas. Nas crianças que morrem a todo momento na grande cidade. Por um momento senti que ia chorar, meus olhos marejaram, pedi a saideira, sentei na calçada, e pus-me a repensar nos valores que temos que ter, o ser humano que temos que ser, a luz que jamais pode se apagar, na esperança que temos que ter.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Todos os dias são os mesmos. A mesma agonia, o mesmo ser solitário no meio da multidão. Caminho de volta para o lar, reparando naquela paisagem tão fastigada; tão acabada. Reparo na inutilidade do ser, que andam pelas ruas, aos gritos, querendo ao máximo se aparecer. Péssimas músicas saindo dos potentes sons dos automóveis. Me pego a pensar, nesta certa inutilidade, muitos querendo se divertir, muitos querendo se aparecer, para mim não importa, o ser humano é um tolo. Esse meu delírio, esse meu jeito simples de olhar o mundo, essa minha loucura que é viver, é acordar todos os dias e sentir o mesmo gosto da manha, é sentir um brotar, é sentir o amanhecer. Voltando ao texto, caminhando eu não vejo sentido nisso tudo, para mim isso tudo é vão. Minha alma precisa de mais, precisa de paz, precisa de amor, precisa de poesia. E por falar em poesia, reparo que no meio disso tudo não tinha uma pedra, como escreveu o poeta e sim, tinha um buteco no meio do meu caminho. O lugar cheio, para o meu espanto, esperava todos em volta da mesa dos seus lares, à festejar a noite de natal, mais muitos preferem o profano assim como eu. Avisto sentado ao canto, um amigo, para minha salvação. Damos um comprimento um ao outro, peço uma cerveja e dois copos, sem reparar no barulho incessante que reina naquele lugar. Todos ali disfarçando suas tristezas, esquecendo por um breve momento suas dores, para celebrar a arte do encontro e da felicidade passageira. O mesmo que faço. Caminho em direção a calçada, sento-me na cadeira do lado de fora do bar, meu amigo levemente embriagado, conversa comigo emocionado, dizendo que já tinha passado da conta, que era um prazer terminar a noite tomando uma saideira na minha companhia. O prazer é recíproco, digo o mesmo, que para mim é um honra me afundar num porre nesta noite ao lado dele. Fico ali a bater papo sem ver a noite passar, reparo no vai e vem dos carros, das pessoas, na solidão que a madrugada é, essa solidão que tanto almejo. Aos poucos minha angústia vai passando a medida que vou bebendo, num gesto, num ato, tudo vai passando. Alguns versos de samba vem na minha mente, cantarolo, me emociono, o que torno tudo mais prazeroso. A noite tem sido minha eterna companheira, nela eu tiro o meu alento que me tira deste tormento. Essa saudade que tenho de você, que você finge não acreditar ou que prefere acreditar e jogar fora, naquela imensa bobagem que disse. Me pego a pensar naquela canção que escutamos simultaneamente eu aqui você ai. Sinto tua falta, sinto tua ausência, eu poderia não dizer aqui, poderia guardar, deixar tudo trancado dentro do peito, mas prefiro aqui escrever. Tudo se mistura um turbilhão de pensamentos, começo a me embriagar, garrafas e bitucas espalhadas por todo canto. Queria saber o que você faz neste exato momento, queria estar contigo mais não é possível. Resolvo deixar isso de lado, resolvo apenas beber um pouquinho, argumento com a vida, aos poucos essa saudade que sinto de você se esvai, e tudo talvez voltará a ser como antes, antes quando tinha alegria numa noite natalina.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Conforme disse, meu tempo, o tempo que disponho para beber, experimento lugares diferentes. Tive hoje uma ingrata surpresa, pois fiquei sabendo que o BAR DO ABRAO, não é mais dele. Ele me disse que passou o ponto. Fiquei triste com essa noticia. Quando eu pisava lá dentro ele já sabia e separava meus maços de cigarros. Confesso que troço que me deixa feliz, é o dono da espelunca saber os meus gostos. Nota triste.

Mas como nem tudo é tristeza, sai de lá e fui para outro bar ou melhor uma lancheteria. Isso mesmo, lancheteria. Sempre, confesso que freqüento ali, há poucos dias, e desde que pisei lá, fui bem recebido. Sempre exalto as qualidades do lugar, lanches maravilhosos, cerveja estupidamente gelada, petiscos bacanas. Hoje pela minha surpresa o lugar se preparava para fechar, minha fome tamanha, cheguei para pedir um lanche. O malandro já tinha limpado tudo, fiquei sem graça de pedir o lanche. De quebra o malandro, sem graça eu também, abriu uma cerveja e colou na roda. Fiquei até poucos minutos atrás batendo papo e saboreando umas 3 ou 4 para não perder o paladar.
Enquanto abro a primeira do dia ( para bom entendedor meia palavra basta). Acendo um cigarro para acompanhar, escolho uma música, para acalmar o peito. Mar no maracanã, é a escolhida, minha emoção é tamanha. Feito um rio que navega, que não para, assim sou eu. Mesmo triste, apesar da época ser de festejos, eu apenas lamento. Tenho na verdade muito que agradecer, mas não farei, não agradecerei, feito um filho rebelde não levantarei minhas mãos para o alto, feito em prece. Guardarei aqui dentro o que deu certo e o que lamento não ter podido ter feito. Confesso apenas, este ano foi o ano que fiz do meu boteco o meu lar. Lá eu chorei, lá em me alegrei, e por dias lá permaneci, chorando em prece, acalmando. Enquanto a música rola, enquanto eu bebo um pouquinho, reparo no som que vem das ruas. A loucura dessa cidade, a loucura deste povo, impede que eu me tranquilize. E assim farei, evitarei o contato, secarei as ampolas da geladeira, e neste silêncio, neste refúgio, aqui fico, a escutar canções, à pensar em você ( isso em você). Choro, choro, meus olhos marejados se perdem neste quarto escuro e assim ficarei.
De algum jeito tudo se mistura. Não adianta se mistura. Digo isso porque a desesperança no futuro, misturou com minha tristeza, se fosse poeta faria um samba, mas como é fato não sou ,eu bebo. Como na noite de ontem eu disse: eu bebo um pouquinho para ter argumento. E assim é. Bebo para ter argumento é a minha desculpa. Entende como quiserem, interpretem como queiram. Eu bebo para ter esperança, eu bebo para ter amor, eu bebo porque a bebida me comove, me ampara, nos seus braços caminho rumo ao paraíso, rumo ao divino. Então deixe eu beber, deixe eu viver, deixe de algum jeito me desfalecer todas as noites pensando em você, como aquele trovador do século 19. Deixe-me ir, deixe-me ficar, unir meu corpo no teu, e fazer do futuro ao mais justo e honesto para se viver.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Luzes, para todos os lados que olho vejo luzes. Me entristeço, olho e não consigo enxergar alguma esperança no futuro. Todos desejam feliz natal uns aos outros, mas ninguém se ama. É a mesma hipocrisia de outrora. Minha carteira de cigarros vazia - dou a vida por um cigarro neste instante, mas é vã. Abri mão é certo de comprar no buteco da esquina, preferi tomar um domec em vez de comprar uma carteira de cigarros. Lágrimas escorrem pelo o meu rosto, meu peito arde em chamas, assim como inferno. Deliro, essa embriaguez costumeira, essa vontade de enxergar uma única esperança no fundo do copo. Essa vontade de beber a madrugada, e vomitar esperança. Essa vontade misturada com querer lhe dizer o quanto eu sofro longe de ti. Tudo se mistura não tem jeito, milhares de pessoas viajam, fingindo ser feliz, babaca é aquele que fica, aquele que de algum jeito não foi possível ser diferente. Já disse não abandono minha aldeia é aqui que nasci, é aqui que morrerei. Lembranças de outrora se mistura com o presente, lamento tudo isso, lamento a pobreza brasileira, o que o país pode ser e não é. Meu amor por este povo, por essa terra, tão maltrada pela classe dominante. Lamento a pobreza, lamento a criança estar ali naquele semáforo pedindo esmola, enquanto nós sem sentimento de culpa nisso tudo, enche o carrinho nos supermercados querendo a santa seia. Querendo o que o filho do tal, desça e numa espécie de milagre livre os homens dessa tortura e sofrimento criada por eles. Esse texto é uma espécie de protesto, mesmo sendo escrito de uma forma profana, tem um cunho divino. E se Deus existe quero conversar com ele, o quanto eu lastimo nessa época ver teu filho abandonado por ai, enquanto milhares pensem em partir. A minha luz, a luz que me guia, já foi mais forte, já fui movido pela fé, tão costumeira nos lares brasileiros. Já fui movido pelo o sagrado naquelas tolices que nos fazem acreditar a todo instante - numa espécie de fúria esqueço tudo isso, bebo minha bebida santa, me esqueço de tudo, apenas choro vendo aquela luz brilhando no horizonte como se fosse uma eterna esperança, de que seja por ele, ou pelo filho, alguma coisa mude nessa terra, que para alguns é santa e para outros profana.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Você me diz, que gosta de me ver sofrer, diz que eu preciso sofrer e amar, para que no fundo brote essa poesia vagabunda. Também gosta de imaginar eu andando pelos bares, bebendo, rascunhando versos no horizonte, traçando minhas rimas na imensidão. Tudo que disse é verdade, sou assim, e talvez não mudarei. A única coisa que lamento, é não poder matar essa saudade do teu corpo sereno, dessa tua paz. Longe de ti, sou um barco a navegar nos mares bravios, sou leme que não desce na tempestade - sou um oceano vazio. Minha única companhia é esse desespero que o teu corpo me causa, é perambular pelas madrugadas a rastrear tuas pegadas no asfalto, é lamentar o pode ter sido e não foi. Tenho é verdade muita coisa para escrever, pra dizer, pra soltar para o mundo, mas guardarei o meu pranto, pois o mundo tá cheio, e cheio de amarguras maiores que a minha. O que tenho para o mundo, é esse amor vadio, é essa lamentar longe do teu corpo, é inalar o cheiro dessa cidade cinza, que ficou mais cinza, sem você aqui por perto.

domingo, 20 de dezembro de 2009

TEMPO DE FESTA

É tempo de festa, todos celebram a época, curtem o tempo que virá para farrear, para viajar, para festejar um novo ano que vem pela frente. Confesso que não penso em nada disso, aliás devo e farei uma confissão aqui, neste humilde espaço. Nunca passei um natal e um ano novo fora da minha cidade, nunca joguei flores no mar, nunca pedi nada para o papai noel. Hoje voltando do supermercado fui remetido para o passado - ao meu tempo de menino. Criado com muito esforço pela minha mãe e pelo o meu pai ( embora minha mãe não concorde), meu pai foi importante. Era tempos difíceis, meu pai trabalhava em dois empregos, quase não parava em casa, minha mãe também trabalhava fora. O dinheiro era suado, quase não dava para o orçamento. Tirava alimentação, a prestação do terreno, o material da construção, as roupas minha e do meu irmão, e pronto o dinheiro chegava ao fim. Porque conto isso? Conto porque hoje estive no mercado, estive reparando nos milhares presentes, comprando tudo pela frente, para fazer aquele banquete, que a época pede. Me lembrei do passado - o quanto eu esperava ansioso pelo natal. E conseqüentemente pelo banquete. Mas o banquete era modesto, o de sempre, um velho peru, uma maionese, uma farofa, alguns litros de refrigerante e pronto, a santa ceia estava pronta. Ficava na rua o dia inteiro contando os minutos para sentar na mesa e devorar aquilo tudo, enquanto empinava pipas, corria, girava palha de aço com fogo, me lembrava da ceia. Nunca tive um natal maravilhoso, como disse, era tempo de aflição. Meu pai, era ausente, bebia além da conta, quando chegava em casa, minha mãe quebrava o pau, e logo vinha a brigaria. Vizinhos entrava no meio do fuzuê, enquanto eu e meu irmão chorava no meio deles tentando conter a briga. Por muitas vezes, sai de casa, com o rosto vermelho do choro, para esquecer tudo aquilo e passar um natal maravilhoso, acreditando que o ano que vinha pela frente seria diferente, mas era vã essa idéia. Me refugiava na rua, ia na casa dos vizinhos, mas tudo aquilo era banal. Apesar de ser criança, ter menos de 10 anos de idade, eu me recordo de tudo. Minha mãe tentava, se lamentava que tudo aquilo tivesse acontecido. Muitas vezes, sentávamos a mesa, mal a comida descia. Conforme disse, me lembrei disso. Fui até o mercado para comprar o peru, confesso que o que mais gosto nessa época é o peru. Não levei. Sai do mercado de mãos vazias, não foi pelo o preço, e sim pelas lembranças que me veio na mente. Olhos marejados lamentando tudo que passei na vida, tudo que a minha família passou, a ausência do meu pai ( hoje mais presente). Para mim o natal perdeu o sentido, mesmo com a família reunida em volta da mesa, o banquete, perdeu a graça. Não esqueci o meu tempo de menino, o quanto sofri, sempre almejei paz na minha vida, mas o tempo de sofrimento não me deixa. Prometi para mim mesmo, que se fosse me dado a sorte de constituir uma família, ela não passaria jamais pelo o que passei. Abri uma cerveja reparei da minha varanda o vazio daquela rua e me vi ali naquela lembrança de outrora - correndo, empinando pipa, rodando palha de aço, querendo esquecer os adultos e seus conflitos. Querendo buscar o sentido nisso tudo, querendo entender o que é viver e seu sentido.

sábado, 19 de dezembro de 2009

É verdade, que faço com o meu tempo o que eu quero, e ninguém jamais dirá e fará eu fazer o contrário. Ele é meu, e sei como aproveita-lo. Ando conforme disse num dos textos anteriores, cansado da rotina, cansado da mesmice. Eu que sempre fui um chato maior, sempre procuro sair da rotina, dos lugares de sempre. Tenho lugares, mas precisamente buteco do coração, aquele que o dono sabe o que toma, o que come, e tudo mais. Mas conforme disse, ando cansado. Descobri, uma lancheteria, não é um buteco diga de passagem, mas um belo lugar para beber e conversar. Prova disso, passei a semana inteira bebendo por lá. O lugar tem um atrativo um telão, e para o meu delírio, troço que me fez passar a semana inteira por lá, é que tive a honra de ir contra a regra, contra o gosto alheio, assisti um dvd do Martinho da Vila inteiro, sem que nenhum chato, que torce o nariz para o samba, insistisse em solicitar a troca. O dono sempre atencioso, sempre querendo palpites para ajudar a melhorar sua lancheteria, me pediu alguma dica, do que gosto de comer e beber para que ele colocasse lá. De bate pronto, para ficar ainda melhor, pedi para que ele colocasse umas garrafas de cachaça. Não é o que o malandro atendeu o meu pedido. Ontem chegando por lá, já fui chamado até o balcão, olha, olha... estava lá, três garrafas fechada, da água que o passarinho não bebe. Para alegria do mesmo, ontem já foi meia garrafa e prometi até o fim da semana, voltar lá para acabar com o restante dela.
Noturna, cidade noturna.
Noite, estrelas, lua.

Me embalo nas cantigas, canto o meu pranto,
adormeço em algum banco.

Bebo algumas garrafas, olho no fundo do copo, vejo teu riso.

Cigarros espalhados pelo chão, cinzas espalhadas no meu coração.

Trago o peito, solto a dor, a noite ouvi e nada diz.

Bebo mais um pouco, levanto torto, molho o meu rosto.

Escrevo o teu nome, rabisco e jogo fora os versos.

Lembro da tua face, dou riso, lamento, vou-me embora.

Sento na praça, escuto minha dor, choro, sigo, caio levanto.

Logo me levanto e tudo será não tanto diferente de antes.
Ruas desertas ruas.
Silêncio absoluto, paz, solidão amarga.

Mistura com a dor e me embriaga.
Desfaz a minha alma pecadora, ilumina minha ida, desfalece o meu ser.

Solidão, vazio, angústia, porre, vômito, cigarro.

Me agarro no teu ser, lhe rasgo-lhe a roupa beijo o teu sexo.

Minha porra no meio das tuas pernas, assim que te quero.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Já é tarde, butecos fechados, esse meu lado boêmio que não dispensa uma caída até o buteco, para beber com os amigos colocar o papo em dia, relaxar, tranqüilizar o peito, acalmar as dores de outrora. Meus passos perdidos por ai, você tão ausente de mim. Nas minhas madrugadas vazias, é de você que não esqueço, é de você que lembro. Minha fala rouca cantarola o velho samba que você adora, e você ausente assim. Queria é fato não querer você, queria te esquecer conforme você pediu, mas isso é impossível, não conseguirei te esquecer, farei o possível para te encontrar outra vez, mesmo que você não querendo aparecer, te encontrarei e farei e lhe direi o quanto, nessas minhas madrugadas vazias pensei em você.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O ano esta próximo do fim, Virá um ano novo pela frente e com aquele a esperança de que algo mudará. Minhas preces e agradecimentos se voltam para o céu, para os deuses que assim me guiam me desviam do caminho errado, que me conduzem para o caminho certo. Que me protege, me domina. Com isso eu só tenho agradecer, tive a honra de vivenciar muitas coisas importantes, tive de fato um ano bom. E a honra maior foi ter conhecido ao vivo num buteco aqui em São Paulo, mas conhecido como Pirajá dois mostros da música brasileira: Luis Carlos da Vila e Moacyr Luz. Para mim dois gênios da música, sem eles de fato a minha vida seria um erro. Era noite de autografo do genial livro do Moa - Butequim de bêbado tem dono. Que devo e confesso, li num dia. O livro dispensa comentários, falarei dele outro dia. O que eu quero aqui relatar neste humilde buteco, é a história que deu tudo isso. Vi a nota sobre o lançamento no blog do meu querido amigo, o qual eu não conheço, mas nutro um carinho especial Bruno Ribeiro, cara que sem saber porque, me conduziu para o caminho de ser mais brasileiro de valorizar mais o meu querido Brasil. Era uma noite agradável, atravessei a cidade para ir neste encontro, o qual não podia perder. Era o lançamento do livro que aqui comentei, e teria a honra de conhecer alguns bambas ao vivo tipo: Moacyr Luz, Jaguar, Bruno Ribeiro e outros feras. Cheguei no buteco, prevendo que a minha grana seria pouco para tamanho evento, já que eu sou um suburbano nato. Aqueles que contam as notas na carteira e lamenta a quantidade. Chegando no Pirajá que se diga de passagem é um bar para freqüentadores da classe média, pensei: compro o livro, tomo um chope e vou-me embora para o meu canto. Mas um garçom resolveu mudar este papo, deve ter visto na minha cara, o meu jeito de maloqueiro e me disse: rapaz, fique aqui dentro, que aqui é para convidados, pode beber e comer a vontade, que não pagará nada. Incrédulo com a noticia duvidei do camarada. Mas a medida que os chopes viam, eu bebia. Meu olhar cada vez mais embriagado, cada vez mais distante daquilo tudo, duvidava. Chamei o garçom como quem pediria mais uma, disse: meu caro, se eu tiver que pagar tudo isso, tou phudido. Ele: Alemão não esquenta, beba. E assim foi, fiquei no meu canto tomando alguns chopes, criando coragem para pedir autografo ao Moacyr Luz. Quando de quebra avistei Bruno Ribeiro, velho camarada, sou leitor assíduo do blog do cara. Que foi me conduzindo e me tranqüilizando a caminho do Moacyr Luz. Peguei o autografo do malandro, que parecia ter tomado todos os chopes do bar, olhar meio embriagado. Voltei para a minha mesa, tomei alguns chopes, avistei do meu canto, aquele bar lotado, várias celebridades do mundo da música, quando avisto a entrada do velho malandro, Luis Carlos da Vila. O malandro com um sorriso enorme estampado no rosto, olhando a prateleira de cachaça, tremendamente satisfeito soltou uma risada da qual eu não me esqueço e elogiou aquelas garrafas ali. Eu já tinha passado da conta, já tinha tomado alguns chopes, suficientes para me comover, tamanho evento que fazia parte. Livro debaixo do braço, hora de cruzar toda a cidade de volta para o lar, com a certeza de que tudo aquilo valeu, que não esqueceria jamais. A única nota triste deste acontecimento, depois de alguns meses, me veio a falecer o Luís Carlos da Vila, mas tive a honra de ver o malandro pertinho de mim, e ver um dos sorrisos mais bonitos de todos os tempos, valeu Da Vila, aonde quer que esteja, valeu.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Certa vez você me disse, que não gostava de poeta, que eu era poeta, e poeta ama todas mulheres que vê na frente. Que agarra todas, com desejo fatal, que se entrega, que delira, que ama, que esquece. Confesso que você tinha razão em certa parte daquilo que me disse. Sim, eu ofereço a minha face para as mulheres, que vivo e clamo pelo amor delas. Que boa parte de mim, se desdobra, que se entrega, que se embriaga com o calor delas. Tudo isso é fato. Não discordo de ti, minha querida, e por falar em você, eu já lhe amei, já te poetizei nos meus versos errantes e vagabundos de outrora, você se lembra? Daquela vez que te fiz chorar, com o verso que te fiz, bêbado naquela espelunca? O meu amor é igual ao mar misterioso, revolto, entregue. Hoje eu deliro, me embriago e tudo que vejo é a tua face. Nos meus sonhos você me aparece, no espelho, parece zombar de mim. Eu acordo, levanto, acendo um cigarro e tua imagem não desaparece, parece uma espécie de fada, sei la que porra que é. Na minha bebida sinto o teu gosto, nas mulheres que passam por mim, vejo a tua face. Agora você me diz, o destino é sofrer e amar todas mulheres que passam no meu caminho, minha amiga? Me diz você que sabe mais de mim, do que eu próprio. Me diz se nos meus versos, aparece algo, me diz. Você que é mulher, você que me escuta, me diz. Se o meu destino é buscar alento numa mulher. Me diz, vai, diz....
Ah! essa saudade, essa vontade de lhe acariciar por inteiro. De invadir teu espaço, penetrar no teu corpo, cravar meus lábios nos teus, sentir teu perfume, acariciar seus cabelos, ouvir a tua voz. Cantar-te aquela canção que fica no meu imaginário. Beber teu gosto, sentir tua pele, enroscar meu corpo no teu. A noite chega, com ela trás aquela magia, aquela nostalgia de outrora, que invade meu ser, me domina, me cativa. Toma formas e cores, que não domino, me enrosco nas lembranças, no tempo que pude ter e não tive. No que eu poderia ter dito e não disse. A bebida minha eterna companhia, essa paixão ardente que fere o meu peito, essa poesia vagabunda, essa vontade incessante que não para um só um instante de crescer. Quando magia as noites não me trás. Eu bebo para ter argumento, o tempo zomba de mim, ri da minha desgraça. O peito desfalece, suplica o teu corpo, entristeço, a garoa cai, as ruas molhadas, derramo meu pranto, guardo o meu canto, bebo um trago, rabisco versos num papel. Folheio algumas linhas, busco o teu cheiro nas folhas, procuro na lembrança teu rosto, procuro na minha voz rouca, sinto arder e queimar essa cachaça que me sossega, que me embriaga. Meus olhos navegam pelas ruas - as luzes de natal das janelas das casas, me ilumina, dou riso, lamento tudo isso. Sinto que no fundo eu vivo para morrer de amor, para tentar reviver, no fundo sou uma eterna criança. Tudo se mistura, tudo se apaga, tudo se rabisca, tudo, mas tudo me devora.
É verdade que ando ausente daquela espelunca, mas estórias não me faltam para falar do buteco. Não sei se comentei por aqui, mas o dono da espelunca, se chama Ademar, mas conhecido como Baixo. Baixo é mineiro, de João Molevade, cidade próxima a da minha mãe. Por isso deve ser o meu apreço pela aquela espelunca e com ele. Tenho um carinho enorme pela aquela espelunca, lá passei grandes momentos de alegria e outros tantos de porre. Lá passei a virada de ano de 2008 para 2009, lá comi arroz com farinha, dando graças e louvores, lá já passei mal, lá já chorei escondido, lá aconteceu de tudo. Mas o que eu mais gosto de fazer lá é papear. Lá me sinto no dever de escutar, de duvidar, de questionar. O Baixo veio da roça para São Paulo, veio assim como milhares tentar a sorte na cidade grande; acredito que conseguiu pois de cá não partiu. O Baixo, é um negócio serio o malandro teve pouco estudo, para falar a verdade quase nenhum. Vive errando palavras, algumas escreve errado, outras fala errado, nunca corrigi ,isso é fato, pois também erro e como erro. Mas numa dessas noites que nada fazem sentido, o buteco é o melhor abrigo. Fui até lá para saborear alguma bebida e prozear. A parede da espelunca é cheia de gaiolas de passarinhos, não sou nenhum conhecedor de passarinhos. Certa hora eu com minha curiosidade passageira, perguntei:

- Baixo, qual é o nome daquele passarinho escondido ali no canto?

- Canário.

- Bonito.

- E aquele outro ali Baixo, aquele casal, qual é macho e qual é fêmea, o que difere um do outro?

- O da esquerda é macho, o da direita é fema.

- Como é Baixo, o da direita é o que mesmo?

- O malandro ainda respondeu:

- Fema, fema.

Ainda tentei argumentar alguma coisa, bebi um gole de cerveja, acendi um cigarro, de quebra lembrei de Minas Gerais, lá o pessoal também erra, e tentar corrigir o mineiro, é um erro.
Ando tirando o meu tempo, para beber em outros cantos, descobrir outros lares etílicos. Confesso que ainda não encontrei nada de absurdo, mas descobri uma lancheteria perto de casa, que me agradou. Porque me agradou? Pelo o simples fato de a cerveja ser gelada e o papo ser bacana, e por fim o dono do lugar é bacana. Ontem com alguns amigos, bebemos por lá cerca de 3 horas, as mais variadas marcas de cerveja, e para fechar tudo isso, ganhei uma dose de domec na faixa e uma porção de salame com queijo que jamais comi na minha vida, e fora tudo isso, o fato que mais me apaixonou é que tem sanduiche de mortandela com geléia de morango. Amanha estarei por lá novamente, saboreando a noite, e comendo este sanduba acompanhado de uma boa cerveja gelada, aguardando acabar estes festejos que nem começou mas não agüento mais.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Em algum lugar desta cidade, minha voz eco-a o meu canto, em algum lugar, deve de haver um alento vindo do teu corpo. Em algum lugar, não sei bem qual é, pois nunca lá estive, procuro o teu rosto na imensidão de rostos. Em algum lugar, eu queria estar com você. Em algum lugar queria estar na tua solidão, quieto e calado, para que não notasse a minha presença. Em algum lugar dessa cidade, eu queria estar contigo, nem que fosse um único instante, para que a minha voz ao pé do teu ouvindo falasse do meu pranto. Ao pé do teu ouvido queria falar-te da minha paixão por ti - como eu morro de amor. Em algum lugar dessa cidade eu queria cantar a canção que se faz presente nas nossas vidas. Em algum lugar desta cidade, eu queria apenas estar. Apenas estar contigo, embalar tua presença com o meu canto, solitário e boêmio, talvez fedendo a cachaça, talvez. Talvez eu não lamentasse tanto tua ausência em vida, se algum lugar desta cidade você aqui estivesse. Talvez eu não beberia um pouquinho para ter argumento. Talvez você não zombaria dessas mal traçadas linhas. Talvez, assim, de uma vez, para que dure o tempo que for preciso, penetrar no teu corpo, arrancar gritos e sussurros. Talvez quem sabe, não dá alguma resposta ao tempo, nesta cidade tão desconhecida, talvez nessa cama, talvez neste corpo, talvez eu entrasse e de lá não saísse.
Abrindo à primeira do dia, antes do almoço, pois como diria Chico Science (uma cerveja antes do almoço é muito bom para ficar pensando melhor), desejo a todos um bom domingo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Olhar perdido na imensidão. Sem a certeza do que esperar do amanha - sem esperar que à vida possa mudar algo, assim ele pensava. Avistava da janela do apartamento, a cidade silenciada, nem um barulho aparentemente. As casas e apartamentos apagados, anunciando a calmaria e o descanso para um novo amanhecer. Pensava no que se passava dentro daquelas casas, daqueles apartamentos, gostava de ficar imaginando se ali naquelas moradias, moravam casais, jovens, senhoras aposentadas, familias completas, ou gente igual a ele, só perdido pelo o mundo. No céu algumas estrelas fariam companhia até o sol nascer, ele não tinha nada a perder, apenas lamentar, o erro que causou tudo aquilo. Cervejas e guimbas espalhadas pelo o chão, o olhar embriagado, se perdia no meio daquela cidade, que ele mal conhecia. Enquanto num quanto qualquer ela se encontraria talvez só, ou talvez acompanhada. Preferia acreditar que ela passava por tudo aquilo que ele passava também. Rompeu o silêncio da madrugada e de seus pensamentos impertinentes, colocou o disco que ele tanto gostava, que um velho de barba branca colocava sua melancolia e tristeza para fora - misturado ao sabor da boêmia. Na vitrola ele podia ouvir: eu bebo um pouquinho para ter argumentos... Cantarolava, dizendo, que aquela música nunca seria apagada de seu imaginário, lamentava que as coisas tinha tomado novos rumos, outros olhares. Mas isso não vinha ao caso, queria apagar tudo aquilo da cabeça, mas tudo que ele olhava lá estava ela, zombando do tempo perdido, rindo da profundeza que ele se encontrava e não sairia tão cedo. No fundo acreditava que dores são e serão sempre passageiras. Que a paixão não mata, apenas fere o peito daquele que se entrega em busca do amor. Caminhou pelo o apartamento reparando no espaço vazio, sem brilho, sem o perfume dela. Lembrou de outrora, quando sua presença iluminava aquilo tudo, quando seu perfume deixava um aroma de paz espalhado pela casa. Lembrava quando ela sai nua do banho e caminhava pela casa, deixando suas pegadas no taco de madeira da sala. Reparava no canto dela, o quanto gostava da sua comida, dos seus temperos, agora tudo aquilo perdeu a graça por onde ele olhava, tudo estava vazio e sem alma. Tudo se transformou. Sentou por um instante na velha poltrona envelhecida que comprou num brechó. Seus pensamentos ausentes dele, parecia perdido, parecia esquecido, por um momento olhou para o telefone no canto da sala, decidiu que gostaria de escutar a voz dela, apenas um alô já seria capaz de relembrar tudo que viveu, mas mudou de idéia. Preferiria assim trancado na solidão, trancado na tristeza, na melancolia. Afinal tudo parecia mais vazio que ele naquela cidade, naquele noite, naquela madrugada vazia.

Salve, Noel Rosa

Último desejo
Noel Rosa

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Nunca fui e nem tenho pretensões maiores de se tornar um literato. Sim, leio alguns livros, mais odeio quem pense que apenas os acadêmicos são os melhores. Gosto pra cacete de Jorge Amado, nunca aceito no meio dos intelectuais - com sua literatura simples, popular, sem pretensões maiores. Falando do povo, da Bahia, do Brasil. E assim sou também, canto aquilo que vivo, falo do povo que convivo, falo do buteco, falo daqueles que não tem vez. Canto e falo do imundo, daquela parte odiada pela classe média brasileira, que odeia o povo, que quer fazer de São Paulo, novaiorqui. É por isso que tenho nojo deste povo e dos seus gostos, e viva o Brasil, viva o povo.
Ontem quando saboreava uma cerveja no buteco da minha rua, mas conhecido com BAR DO BIGODE, fui abordado por dois senhores que me reconheceram de outra espelunca. Um breve cumprimento entre a gente, quando um dos dois, falou:

- Você ficou sabendo o que aconteceu?

- Não! O que aconteceu?

- Roubaram o bar do Ademar, na noite de ontem.

Meu coração disparou. Imaginei o pior, mas graças à nossa senhora que intercede, que protege o Baixo e a espelunca dele nada pior aconteceu. Os bandidos sumiram levando alguns reais, o valor diga de passagem não foi divulgado.

Lamentei o ocorrido, pois era pra mim estar por lá. Cheguei à ir até a metade do caminho, mas voltei para casa - não querendo beber naquela noite. A noticia me pegou de surpresa, logo mas passarei por lá, para saber maiores noticias.

Até.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VACILÃO

Isaías era um sujeito que não me descia, vai ver por causa do nome, ninguém pode ser gente boa com este nome, além do mais é bíblico. Isaías fazia questão de papear comigo - puxava assunto, falava do futebol, de política, de mulheres, de religião, eu nem ai, apenas querendo saborear uma cerveja e pensar na vida, aliás devo aqui confessar, que não sou muito de conversa fiada ou o assunto vale à pena ou cale a boca. Isaías dizia que sempre ganhava no bicho, chegava no buteco e pagava uma rodada de cerveja para todos ali presente, alegando que acertou a milhar, e gritava deu viado na cabeça, alguns zombavam dizendo:

- viado?

O assunto continuava, uns querendo puxar o saco, lhe agradecia tamanha gentileza, eu nunca aceitei nada do camarada, meu santo não batia com o dele. Isaías se dizia também, cristão, ou melhor evangélico, vivia pregando uns papos que aqui era o purgatório, que outra vida melhor viria. Nunca cai no papo, alegando que eu tinha minhas crenças, e preferia acreditar num copo de cerveja, no que naquele papo idiota. Por uns tempos o malandro me deixou na minha, quando chegava no buteco com apenas um aceno de mão me cumprimentava, eu lhe retribuia com um balanço de cabeça. Dizia sempre para o Baixo dono da espelunca que não ia com a cara daquele camarada, que era ele chegar e o meu humor mudar, baixo eterno malandro, dizia, que gostava nele, apenas o quanto ele gastava no bar, apenas isso. Se dizia o eterno conquistador da mulherada, que nenhuma mulher passava em branco na sua, que era chavecar e a mulher ir na dele. Para variar nunca acreditei na dele, e imaginei o tipo de mulher que caia no papo dele. Numa noite dessas qualquer, noite de buteco vazio, sem movimento, apenas as moscas para encher o espaço, chegou um traveco, o nome dele era Alexandra, todos ali conhecia a fama do traveco, sentava num canto dele ou dela sei lá, pedia sua cachaça com limão e uma brahma gelada, acendia um cigarro e lá ficava, todos o respeitava, pois malandro que é malandro, não atravessa na de ninguém. Isaías cabra conhecedor da vida, das mulheres, afinal de tudo, se aproximou querendo bater um papo. O pessoal que estava lá presente, olhou de lado, dando um riso singelo. Pediu mais uma cerveja e um copo, e ficou lá de papo com o traveco, por sinal o mais veio que vi na minha vida. O baixo, alertou, vai dar merda! Isaías dava risada, o traveco também, os dois riam, ninguém entendia nada do riso e da alegria deles, mas todos de ouvidos atentos para saber o rumo do papo. Quando num gesto de rebeldia, o traveco se levantou, para o espanto de todos, e falou:

- Fila da puta, você me respeita, seu merda. Olha que eu pico a mão na tua cara.

O buteco ficou silencioso, todos prestando atenção. Quando o traveco, brabo, gritou:

- Põe esta piroca pra fora, põe! Eu quero ver se é grande, ou se é uma minhoca.

Isaías parecia não acreditar, ficou vermelho, todos ali dava risada, gritando:

- Põe a piroca pra fora, Isaías, vamos ver!

O traveco já injuriado, de quebra lançou:

- Você é um merda, devia é enfiar a minha piroca no teu cú, seu fila da puta, tá com cara que você gosta é disso.

O buteco veio abaixo, eu gargalhava, todos começaram à gritar:

- Põe nele, põe nele.

O traveco abriu a carteira colocou uma nota em cima do balcão, e foi rebolando em direção a rua. Isaías um tremendo vacilão, ficou com aquela cara de babaca, parado, olhando todos ali zombando da cara dele.

É meus caros, buteco é assim, vacilou o bicho pega, ou melhor põe a cabeçinha.

Até.
Como sempre defendo, que para mim, Minas Gerais, é o estado que mais gosto. Nasci em São Paulo, aqui fui criado, mas me recordo bem, das minhas idas para Minas Gerais quando criança. Da casa simples, da comida maravilhosa feita pela a minha avó Anita - que por sinal, me ligou hoje, quase me matando de emoção. Fui remetido para Minas Gerais, e uma tremenda saudade, de nossas conversas na cozinha, suas estórias, sentado na beira do fogão de lenha. Ela sempre calma, silenciosa, mas com uma sabedoria divina. Espero e farei para que isso aconteça, que nos próximos dias meu rumo seja Minas Gerais. E tenho certeza, que os deuses assim queira.

Até.
Como sempre falo e canto, para mim o maior letrista da música brasileira seja Aldir Blanc. Como diria o mestre: eu não resisto aos butequins mais vagabundos. É por isso, meus caros leitores, que desperdiço o meu tempo, assim posso dizer, tempo que é fato não me faltará, que não me arrependerei dele, quando na velhice estiver, se é que chegarei lá, e olhar pra trás e dizer: passei a maior parte do tempo, dentro de um buteco. É por isso, minha querida, que não adianta você dizer, para eu parar de perder tempo dentro de buteco, jogando fora à vida em mais uma bebedeira, aplaud Aldir Blanc. É por isso meus 3 ou 4 leitores, que perco meu tempo lá, pois acredito que todos os butecos são lugares sagrados e profanos. Nele reina à magia da sabedoria, a pausa, para os problemas da vida. É la que reina a discussão sobre futebol, é la que chorei que diga de passagem vendo o meu time sendo campeão, é lá que bebo e me emociono todas vezes que lá me sento. Tudo começa lá, à paz para à minha alma imunda. É la, que me esqueço dos amores de outrora, que rabisco alguns versos em papel guardanapo, é lá que me sinto bem, é la que por vezes me perco e por vezes me encontro. É la, minha menina, que por vezes choro por você, e você longe não vê. É lá aonde a saudade é menos doída, é lá depois de um porre, que quero morrer, num infarto fulminante.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CHICO, CORNO

No buteco não se fala noutro assunto, a não ser do corno do Chico. Já havia escutado algumas estórias sobre o caso, mas nunca dei tamanha importância. Sempre escutava pelos quantos, que a mulher dele era uma vaca, que ele saia para trabalhar, e o negão chegava. Do buteco podia ouvir os gritos da cadela, gemendo de prazer. Quando a mesma, entrava no buteco, pedindo uma cerveja gelada para o Chico, todos, paravam para olhar o gingado da nega. Sua bunda era a maior que já havia visto em minha vida, como mulher dentro de buteco é ouro, vacilão é que não admira. Olhava e ficava a imaginar, nos comentários, ditos pelos tais freqüentadores. Chico era um camarada gente boa, na dele, quase não puxava assunto com ninguém. Trabalhava a noite de segurança numa boate em moema - alguns diziam, que era casa noturna, outros diziam que era um puteiro que o cabra trabalhava. Os cochichos era os mesmos, mas é um corno mesmo! não esta nem ai! a mulher dele dando para outro e ele nem ai! Como a casa do malandro, era colada no buteco, por vezes avistei a morena sentada na varanda, ou até mesmo cozinhando a janta para o marido. Como as minhas idas para o buteco, era noturna, nunca avistei ninguém entrando naquela casa. O pessoal comentava, você viu o moleque que entrou ai ontem? deve estar comendo também! Você viu aquele policial que parou o carro ai ontem? é ele, ele come também. Como disse não dava muitos ouvidos para os fuxicos, apesar de gostar de ouvir essas estórias do cotidiano brasileiro. Numa dessas idas minhas ao buteco, pude reparar que a morena amava o malandro, sentia o cheiro de sua comida, o carinho para o esposo. Comentava no buteco, e todos iam contra à minha idéia. Alegando que eu não sabia nada da vida mesmo, que era um cabaço. Concordei, pois a maré para o meu lado não anda das melhores. Ontem, quando resolvi, dar uma passada no buteco para matar a saudade, e tomar a primeira da semana, logo na entrada avistei no balcão sentado o Chico. Usava uma camisa listrada, e um par de sandálias. O ambiente não era o mesmo de sempre, o seu semblante, estava estranho, parecia que ele estava em outro mundo. Os freqüentadores e conhecedores dá história, diziam, é hoje, é hoje, que o bicho pega. Todos queriam que o malandro, pegasse a nega pelo o pescoço, espancasse até a morte. Pois vadia era assim que se tratava no murro. Chico parecia possuído, parecia querer matar um mesmo. Sentei como sempre, na outra ponta do balcão, pedi à minha cerveja de lei, e uma dose de domec. E fui logo querendo saber do baixo, se era verdade, essa estória, que o malandro estava ali, para esmagar a mulher no murro. Dono de buteco, tudo sabe, foi logo desviando do assunto - alegando que não sabia de nada, que o malandro devia estar de folga, que aproveitava para tomar umas antes da janta ficar pronta. O clima era de ansiedade, todos queriam ver o fim dá estória. Até eu, que não tinha nada a ver, queria saber o que pegaria. Se o malandro espancaria aquela morena. Na minha cabeça apenas, a imaginação a se perder, no corpo da morena, no vestido florido colado no corpo dela, do suor correndo pelo o pescoço, passando por entre seus belos par de seios. Isso sim, eu pensava. Quando dei por menos, o Chico, pediu para o baixo anotar na caderneta o que ele tinha consumido, que iria embora. Levantou pigarreando, deu um cuspe na lixeira, e foi se embora. O pessoal dizia, é a hora! é a hora! Alguns mais ousados foram até o portão dar uma espiada, olharam para dentro, e ninguém viu nada. Um silêncio tremendo dentro da casa - não tinha ar de briga. Quando dentro do buteco, ouviu o coro, cornooooooooooooo! eu lascava a mão na cara dela! é uma vadia! Apenas dei um sorriso irônico, pedi mais um conhaque, lamentando a curiosidade alheia, pois cada um manda na sua calçada. Não ouvi briga nenhuma, nem um barulho vinha da casa. Quando resolvi falar, o malandro deve estar fazendo um sexo gostoso, dando uns tapas na bunda da morena, quando vocês trouxas estão aqui, sozinhos, morrendo de inveja, querendo bater uma punheta para aquele rabão e aquele par de peitos. Corno é vocês! Olha que suas mulheres estão em casa sozinhas, quem sabe não tem um malandro lá aproveitando e jantando fora.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO

Prometi que não beberia, pelo o menos hoje, mas foi em vão, explico. Há tempos que não sentava na frente da televisão para ver um filme, quanto menos entrar numa locadora de filmes. Troço que confesso, sentia saudades. Aproveitei a leve chuva que cai, que molha a minha terra da garoa, me comove, que emociona, para ver um filme. Todos sabem, ou devem saber por aqui, que sou é fato um amante do cinema, também ando ausente é fato, mas jamais esqueci a sétima arte. Apanhei o guarda chuva da gaveta, e dei um pulo até a locadora, sem saber das novidades do mundo do cinema, aproveitei para dar uma olhada e escolher um filme bom. A bola da vez foi: O menino no pijama listrado, do diretor Mark Herman. Tinha este nome em mente, já que a história é baseado no livro de John Boyne. Leia abaixo uma pequena sinopse do filme.

Bruno tem nove anos e da janela de sua nova residência ele pode ver uma cerca, e, para além dela, centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com um frio na barriga. Em uma de suas andanças conhece Samuel,um garoto do outro lado da cerca que curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. O menino do pijama listrado é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável.

A história se passa nos tempos da Segunda Guerra Mundial e retrata o relacionamento entre entre um menino alemão e um menino prisioneiro judeu. É uma bela e comovente história mas que ao meu ver, carece de originalidade. O seu desfecho me lembrou muito o final do filme Hair. Agora eu estou curiosa para ver o filme, pois o livro é tão ligeiro e simples que fiquei pensando como ele pode ter rendido um longa-metragem... De qualquer maneira, gostei de conhecer um pouco da vida de Bruno e Samuel.


Fazia tempos que um filme não me comovia tanto, que eu não chorava em frente a televisão, e como chorei. Meus olhos estão marejados, a emoção é tamanha. Mas vocês meus fiéis leitores, devem estarem se perguntando aonde entra a bebida nisso tudo? Sim, à bebida, estou emocionado e nada melhor para refletir sobre o mundo que vivemos, que uma boa bebida bem gelada, para amolecer o peito daqueles que ainda não são amolecidos. E é isso, tremendamente emocionado, depois deste maravilhoso filme que já entrou para o seleto hall de filmes que gostei, uma cerveja bem gelada, para acompanhar as lágrimas neste dia chuvoso.

Quem não viu, que veja, mas com olhos de ver, o mais importante de tudo.

Até.
Assim como à minha poesia imunda, que vem, que brota do inconsciente suburbano, que me acompanha pelos lugares mais vagabundos, assim sou eu: um vagabundo. Minha poesia suja, assim como o copo americano no buteco da esquina, daquele catador de papel que pega os restos descartados por todos nós. A poesia que vaga pela noite, que acompanha o gari, que acompanha os viciados nas esquinas, nas bocas, nos morros. Poesia deste mundo caduco, poesia pobre, que me acompanhou. Peguei carona neste barco, e nele navego pelo o cais, pela escuridão desta cidade, que navego no rico rio de outrora chamado tietê. E aonde quer que eu vá, lá estará ela, à me acompanhar, à me guiar, seja no caos de minha mente, ou na paz do beijo dado, é minha fiel escudeira, assim como o cão que me guia. Assim caminhando nas ruas, levando garoa na cara, arrastando, para ninguém ver o meu drama, e o meu caos, vou seguindo, por vezes duvidando da direção tomada, por vezes também acreditando que o rumo é esse. Assim é, ninguém e nada mudará, enquanto eu caminhar neste mundo, enquanto eu acreditar nele, o sorriso da criança será a minha esperança, para que um dia talvez essa minha poesia suja, possa brotar uma flor, e quem sabe o nome dela não seja exatamente o teu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Hoje é sábado, por ser sábado pode tudo, e tudo pode.
Pode se ausentar do mundo, pode sentar naquele canto escuro e chorar,
pois hoje é sábado.

Pode sair de balada, como dizem os jovens,
pois hoje é sábado.

Pode ir ao cinema, porque hoje é sábado,
porque a rotina já foi cumprida, e afinal é o dia de descanso.

Pode tudo, pode tomar todas as cervejas,
pode transar dentro do carro,
pode cuspir o escarro,
pode tomar uns trago,
pois hoje é sábado.

Pode, claro que pode,
ninguém falará que não pode.

Afinal é sábado, dia de morrer e renascer no domingo.

Pois hoje ainda é sábado, e por ser sábado, tomarei uma ali na esquina,
menina.

Afinal é sábado e você não quer saber de mim.

Afinal amanha, será domingo. E não mais sábado.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ENTRE

Entre tantas palavras ditas,
a que sobrou foi adeus.

Entre teu corpo e o meu,
essa entrelinha,
o que sobrou foi a falta.

Entre o que ficou e o que se foi,
o que restou foi a saudade.

Entre o tempo que durou
e o tempo que faltou,
sobrou o espaço vazio.

Entre tuas pernas, o que permaneceu,
foi os meus carinhos,
e no ventre teu, queria um ninho.

Entre o encontro e a despedida,
ficou o silêncio, do não dito.

Entre a lua e o céu,
restou a noite,
e este amargor.

Entre as folhas, o que sobrou,
foi a pagina virada.

O que sobrou do jardim teu em mim,
foi os espinhos, que furam o meu peito.

Entre todo amor, a desilusão,
entre essa vontade de ficar, e ter de ir embora.

Lamentando, o momento breve.

Entre teu choro de angústia,
os meus lábios a calar o teu pranto.

Entre, tudo que foi,
entre tudo que restou,
foi tu que passou, e jamais, voltará.
Certa vez, numa tarde fria, quando escutei sua voz ao telefone desesperada, pedindo ajuda, clamando por um pouca de atenção para fugir do tédio e do desespero, ali, naquele instante te amei, e jurei que acontecesse o que acontecesse jamais estaria sozinha no mundo. Jurei, como jurei em cima do evangelho, que suportaria tudo, que me ausentaria de qualquer coisa, que abriria mãos dos meus planos, para ali ficar junto de ti, quando você precisasse. Marcamos um encontro, você disse que me pegava às cinco horas, em frente a minha casa, eu sorri concordando, você não pode ver. O relógio marcava, 16h50min, quando você estacionou o carro. Pude perceber no seu olhar, que outrora brilhava tanto, que às coisas não iam bem. Nada disse apenas te abraçei, apenas beijei tua testa, assim como um pai beijo o filho. Num desespero, você começou a chorar, me abraçou, dizendo não suportar mais o tédio, era uma angústia presente, nada preenchia esse vazio. Tentei falar alguma coisa, mas você parecia não ouvir, o desespero era maior que qualquer coisa. Esperei você recuperar a fala, diminuir o pranto, pedi para você tocar o carro em direção a algum bar, mas que não fosse perto, o quanto distante for, para termos tempo de fugir um pouco da rotina. Você partiu com o carro, parecia estar perdida, os carros passavam apressados, você pediu para que eu ligasse o carro, solicitando que eu falasse algo, que aquele silêncio atordoava ainda mais. Procurei dentro de mim, algo que te ajudaria, mas a procura não foi das melhores. Tentei dizer, que todos os seres tem seus sofrimentos, que a angústia era uma forma, para conseguir forças para driblar as adversidades da vida. Você deu, um sorriso, fiquei feliz, você ainda sorrindo disse que eu era maravilhoso, com a minha poesia vagabunda, que não sabia como, mas que sempre caia na minha lábia. Eu dando sorriso, disse que ainda bem que conseguia; arrancar alguma coisa de você de bom. Pois há tempos, você era um poço de infelicidades. Enquanto ela dirigia meu olhar se perdia naquela paisagem cinza, se perdia no meio dos carros, das pessoas, um mundo de pensamentos trilhava aqui dentro. Pude reparar que apesar de toda essa angústia você ainda continuava a mesma menina bela, de quando conheci. Mesmo sem o brilho no olhar, ainda tinha luz neles, e neles eu poderia viver tranqüilamente. Você olhava pelo o retrovisor, me olhava, via que eu à fitava com os olhos, querendo algo à mais. Depois de longos 40 minutos, chegamos ao Bar, o bar era o mesmo, sempre íamos ali, cerveja barata, com uns tira gostos maravilhosos. O bar estava lotado, com poucas mesas disponíveis, escolhemos uma na parte do canto do bar, aonde parecia que dava para conversar sem precisar gritar. Puxei a cadeira para que você sentasse, você sorriu, era capaz de fazer qualquer coisa para te fazer feliz. Sorri novamente, solicitando que ela pedisse para o garçom, sua bebida. Ela com um breve aceno de mãos solicitando o atendimento do garçom, pediu uma vodka com suco de laranja, e uma cerveja e dois copos. Eu sorri, era impressionante o quanto a minha felicidade era grande ao lado dela, sem que ao menos eu conseguisse disfarçar. Perguntou-me se ainda eu continuava com os mesmos gostos, eu disse que sim, que a minha bebida era duas: cerveja e uma boa cachaça. Ela sorriu me dizendo o quanto eu era simples, e butequeiro. Eu agradeci, sorrindo ainda mais. A noite passava tranqüilamente, apesar da grande quantidade de gente ali presente, dava para conversar sossegado. Ela começou a dizer - colocando para fora o que afligia, o quanto sentia saudades da família, naquela imensa cidade, não tinha conseguido se adaptar ainda. Dizia que o tempo passava, e não conquistava nada, não conseguia concluir o curso de letras na universidade, que gostaria de mudar de curso, de área, mas que era vã. Não conseguia se libertar das garras dos más pensamentos. Que a idade ia chegando e ela ainda não tinha conquistado nada, eu sorri, dizendo para ela se acalmar, pois a maioria dos jovens ainda não conquistaram o que gostaria. Disse também, que sempre, procuramos algo maior, que a vida é assim, que sempre colocamos obstáculos no meio dela. Que não contentamos com que alcançamos. Que era espírito dessa sociedade materialista. Ela pareceu concordar fez um gesto com a cabeça querendo dizer que sim. Enquanto discutíamos, ali sobre política, cultura, cinema, literatura, poesia, teatro, pude lhe dizer o carinho que sentia por ela, ela também fez que sim, que me adorava, que ultimamente ela podia contar comigo a qualquer hora. E a imensa saudade que sentia, de quando de porre, nos beijamos pela primeira vez. Disse isso a ela, ela sorriu, dizendo nunca ter me esquecido, e nunca ter esquecido aquela noite tão linda, tão iluminada. Eu confessei a ela, os meus sentimentos, disse o quanto era triste vê-la assim, caída pelos cantos, tristonha, sofrendo. Ela num gesto de delicadeza apertou a minha mão, e pediu para eu dar um gole na cerveja, sem entender fiz o que ela pediu, depois de saborear o gosto adocicado da cerveja, ela pediu para que eu fechasse os olhos, sem perceber o que ali acontecia, fechei os olhos, pude sentir pelo o teu perfume o rosto dela se aproximando do meu, então quando abri, os lindos lábios dela já estava grudados aos meus. O beijo durou alguns segundos, o suficiente, para arrancar alguns sorrisos. Ficamos ali, naquele romance de abril, sem perceber o quanto dependíamos um do outro. Ela ainda sorrindo, pediu a conta para o mesmo garçom que fez o pedido, dizendo que a conta era por conta dela, eu fiz que não, que pagaria, ela reclamou dizendo que não permitiria. Ainda sorrindo em direção ao caixa, me disse ao pé do meu ouvido, que me levaria para o infinito naquela noite, que eu poderia esperar tudo naquela noite, eu sorri concordando.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Essa é a verdade, a bebida me comove. Se tivesse que escrever na placa do meu túmulo escreveria algo assim:

- Rodrigo de Freitas Medina - 24-04-1984 - 10-12-2009 - Fiz por merecer.

Assim escreveria. Assim eu poderia ali deitado descansar a minha alma desta penúria que é viver. Acabo de voltar do buteco, de comemorar diga de passagem ao meu gosto, o dia do samba. Tremendamente emocionado, depois de algumas ampolas geladas, na temperatura ideal, volto para casa, satisfeito pronto para encarar mais um dia de rotina. Mas quero aqui dizer, e justificar o apelido dado por um grande amigo, parceiro de vida e copo, o apelido dado de poeta. Para mim é uma honra ser chamado assim, de poeta. Sempre quis ser, antes de tudo, desejei e desejo ser poeta. O buteco vazio, alguns amigos ali presente, apoiado no balcão, eu batucando, lembrando sambas de Cartola, Chico Buarque, João Bosco, devidamente apaixonado por você, isso, você que deve ler acredito essas linhas, é por você. Chego em casa, errando os passos, troço que fazia tempo que não acontecia, no meu velho e guerreiro computador, tocando a música de Aldir Blanc- Resposta ao Tempo, e quem me vem na cabeça? Isso, me vem você!

A batida do tempo, bate em minha face emocionado, e como sou uma criança que não soube adormecer, me despeço aqui, deste balcão imundo, deixando minhas bitucas pelo chão e o copo na mesa, cheirando a cigarro, vou dormir, pois a emoção é tremenda.
Hoje não poderia ser diferente, é dia do samba. Dia conquistado na raça, samba gênio da raça, não poderia passar em branco. O festejo requer uma comemoração simples, assim como de fato o samba é, simples e misterioso, triste e alegre. Dia de reunir os amigos, ir até um buteco imundo, celebrar a arte do encontro, batucar na mesa, bater latinha, cantar Noel Rosa, chorar com Cartola e Nelson Cavaquinho, silenciar com Paulinho da Viola, lembrar de Pixinguinha, todos os nomes, que levantaram à bandeira do samba, que nunca e jamais deixar a peteca cair. Mas não digo pois não é preciso, o recado está dado - a lua no céu iluminará os poetas e vadios.
Ninguém vai rir - é o que te disse. O momento não era o ideal, tinha ali naquele instante, estabelecido que não daria certo, que não adiantava procurar os erros, para tentar diminuir os acerto. O nosso amor nunca daria certo, nunca seria o ideal para nossas almas. Seria apenas, como diria o Milan Kundera - Risíveis Amores. Aquele apartamento naquele bairro calmo, silencioso, palco de nossas juras, de nossas entregas - não seria mais o mesmo. Você ali sentada no canto, perto do aparelho de som, rosto pálido, olhos marejados, naquele mundo tão seu. Meu olhar se perdia naquele ambiente, talvez procurando se perder da direção dos teus. Procura talvez, uma espécie de culpa, para jogar a desgraça, que aconteceu com as nossas vidas. Olhava o porta retrato naquele móvel de sala, nossos risos, você ali abraçada comigo, aquele riso, aquele olhar. Tudo tinha chegado ao fim, mas parecíamos não perceber, parecíamos querer entender que tudo na vida tinha um fim, e que todo fim era triste. Que tudo na vida deixa uma espécie de saudade. Você prometeu retirar seus pertences dali, alegando que aquele apartamento era amaldiçoado, que tinha energia negativa. Lhe disse que aquele apartamento, era teu, o aluguel estava no seu nome - que o visitante ali era eu, apesar de morar mais ali, do que em outro lugar. Disse que iria embora que voltaria no dia seguinte, para retirar os meus pertences. Que não queria encontrar com ela ali presente. Ela entendeu tudo, disse que não haveria problema, que estaria ausente o dia inteiro; que poderia tirar as coisas sem pressa. Separar os livros, os CDS, os DVDS, mas que deixasse aquele porta retrato ali naquele móvel, para que não se esquecesse que ali passou. Sem assunto, acendeu um cigarro, o último, ela ainda resmungando disse para diminuir, ele sem prometer nada disse que tentaria. Por um breve instante olhou para ela, avistou sua face triste, pegou suas as chaves no mesa, deu um adeus, bateu à porta em direção a rua.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NOITE FRIA

Texto que escrevi tempos atrás.

Parto rumo ao buteco, no céu escuro vejo uma, talvez duas estrelas. A garoa que cai do céu fazendo a noite mais fria. Acendo um cigarro o vento frio bate no meu rosto revelando o frio e o vazio que pairou dentro de mim. A solidão é minha companheira, partimos juntos eu e ela rumo ao buteco. A fumaça do meu cigarro escreve no ar o nome dela, me revelando que ainda não posso e não consigo esquecer o adeus da despedida. Despedida que nem sei ao menos se chegou acontecer. Sigo caminhado na rua vazia, alguns cães vem ao meu encontro fazendo companhia. Seguem-me até eu entrar na espelunca - aguardam do lado de fora como se quisessem dizer: beba, pois é o que tens a fazer, aproveite que na volta voltaremos contigo. Sento naquela cadeira ao lado do freezer cervejeiro. Peço uma cerveja e um copo. Ofereço o primeiro gole aos deuses que peço para abrirem o meu caminho me tirando essa revolta que invade o meu ser. Sinto que estou mais angustiado, a música que toca não é ideal para o momento, mais mesmo assim segue embalando a minha saudade e minha solidão. Poucos freqüentadores ali se fazem presentes. Alguns vem me comprimentar, dizem algumas palavras algo que eu não consigo entender, ou não faço entender, os meus pensamentos estão em outro lugar. Pego-me a lembrar de suas carícias, de seus beijos apaixonados, suas juras dizendo que eu seria o homem de sua vida. Um samba vem na minha cabeça - para aliviar o meu sofrimento e minha angústia, pois como diria o poeta: o samba existe para não deixar ninguém triste. Peço mais uma cerveja e aproveito e peço também um conhaque que é para espantar de vez o tédio. Um bêbado insiste em querer minha atenção penso que talvez ele esteja no mesmo degrau que eu, penso que iremos cair juntos. Ficamos ali um perto do outro separados pela a fumaça incessante de nossos cigarros. A tosse seca nos atrapalha, impede de colocar para fora o que nos entristece. Começo a reparar no ambiente, sinto aquela melodia novamente, um outro bêbado me oferece um gole de sua bebida, digo que não, o mesmo insiste dizendo que é a bebida dos deuses. Meus pensamentos se perde nos labirintos da vida, olho na direção do portão procurando os cães que me acompanharam até ali. Não os vejo, acho que o frio daquela noite escura fizeram eles se esquecerem de mim e procurar algum canto para se esquentar. Continuo ali sentado a bebida começa a fazer efeito, sinto o meu olhar perdido, sinto um leve sorriso saido do meu rosto, por um breve instante esqueço das minhas tristezas pensando que a vida é assim mesmo. Pago minha conta, me despeço de todos prometendo novamente esta ali amanha. Sigo novamente rumo a minha casa, rumo que nem sei se seria o certo, venho meio cambaleando e sorrindo, o samba se faz presente novamente, por um momento apenas esqueço que tudo isso não vale a pena, abro o portão, a porta, apago o cigarro jogando na garagem. O meu cão me olha com um olhar de amparo, entro em casa, sinto um vazio, penso que o melhor seria dormir, para tentar esquecer aquela noite que talvez tenha sido a mais fria do ano, fora e dentro de mim.
Quanto tempo faz que beijei tua face te prometendo um mundo de paixão? Quanto tempo faz, que não vejo o teu olhar embriagado se perdendo no meu? Quanto tempo faz, que você sente meus lábios grudados no teu cheirando a conhaque? Você tão moderna, tão atual, eu tão velho, tão boêmio, tão metido à poeta - a cachaceiro. Hoje te vi, e recordei tudo isso, meu coração vagabundo, criado nos botequins mais vagabundos - que você tanto odeia, senti, como não sentia antes, essa saudade absurda de você. Essa saudade de tua fala, ao pé do meu ouvido, de porre. Esse seus cabelos a cair na minha face enquanto te beijo. Este teu cheiro doce, esses teus peitos, sua pele macia, quanta saudade. Aonde é que você se meteu, aonde é que você se escondeu, me deixando perdido no mundo da saudade e das lembranças. Apareça, vamos tomar umas, vamos trocar juras, até o dia clarear, vamos sair por ai, nesta cidade cinza, a escutar o silêncio da madrugada vazia. Vamos pirar juntos, e esconder por um único instante esse mundo, vasto mundo.