quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Todos sabem que buteco é lugar de bater papo, sem papo o buteco não existe. E foi pensando assim, que na noite de ontem estive na espelunca em busca de papo. E o que não faltou foi papo e discussão. Comentavam as desgraças recentes, seja elas aqui em São Paulo bem próximas a mim, ou tanto distante no Haiti. Confesso que não era esse o papo que esperava, não fui capaz de por pra fora minha opinião, pois perante a dor prefiro me calar. Minhas errantes palavras não servem de consolo, para aqueles milhares de desabrigados. Minha embriaguez não me permite, preferi o silêncio, fiquei calado no mesmo canto ali no balcão. Mas como buteco é a mistura do sagrado com o profano, a mistura da alegria e da dor, pude reparar que o meu drama particular não é nem de longe um drama perto do drama destes seres humanos. Quieto ali, desejando paz entre os seres, desejando neste ano que mal começou, que a paz, as felicidades, desejadas por todos nós na passagem do ano, possa realmente entrar em cena. Que a esperança possa reinar dentro dos lares e bares - e que a puta dor que todos sentem, possa enfim sair e dar lugar ao amor, a felicidade tão em falta nos dias de hoje. E que tanta desgraça possa um dia dar uma trégua para quem sabe vivermos sem a dor, a dor da falta, a dor da perda, a dor, apenas essa dor.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Enquanto o pranto existir, enquanto o meu peito arder em feridas e a saudade de você aumentar, só o meu velho e querido samba para dar alento. Na madrugada silenciosa e chuvosa, é em você que penso.
Pra mim boteco não pode tocar música. Explico. Nem sempre é possível agradar todos, uns gostam de forró, outros música sertaneja, outros rock, outros reggae, outros moda de viola, outros pagode, outros samba (inclusive este que vos escreve). Cansei é fato de ouvir música ruim em buteco, por isso sou contra música dentro de buteco. Outra razão não se pode conversar dentro de um buteco, pois o som alto incomoda. E por vezes, deixei o buteco na primeira cerveja, pedi a contra e fui-me embora, por causa das músicas, por não concordar. Mas sempre tem ex-cessão é fato. Outro dia, cansada da rotina, resolvi dar um pulo no buteco. Tinha é fato junto com meu amigo Pedro, expressado o gosto por Benito di Paula. Cantamos é verdade algumas música do malandro. Para minha surpresa não esperava é fato, que o Baixinho dono da espelunca, resolvesse comprar um cd do Benito para escutar. É claro, que o Baixo não tinha escutado o som do camarada ainda, devido a nossa dica cultural, o malandro comprou e gostou do que comprou. Para nossa alegria, o cd tocava todos os dias, tocava sei lá quantas vezes, para um amante da música do malandro, eu adorava. Mas como defendo a tese que buteco que se preze não toca música, tive que me render, e adorei, mas para aqueles que não curtem o som, foi um tremendo auê. E a discussão pegou fogo, eu que defenderei a música brasileira como a melhor do mundo, não aceito que um brasileiro que se preze, fala mal do camarada. O jeito foi pedir a saideira, e voltar chorando de emoção, mas uma noite que o buteco nos comove.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O meu cantar, o meu pulsar, o meu jeito de mudar, e tentar do jeito que for, ser um tanto melhor. Meu lado cantador, tentando esquecer de algum jeito as dores, suplicar ao céu, o alento de que no fundo seremos um dia, seres melhores. Meu coração gritando calado nas madrugadas, meu peito ardendo em chamas querendo soltar o grito de alerta, o amor agitando, pulsando. Nada se pode fazer, quando o peito clama por coisas melhores. Clama por ti menina morena, que a passar com seu gingado, com o perfume que tu roubaste sem querer das flores do jardim próximo. Querendo a busca o encontro com ti, morena. Pelo o menos se tu soubesse que quando passa o meu peito se enche de graça, mas tu não é de Ipanema, minha querida morena. Talvez você seja de Angola, ou até mesmo herdeira da senzala. Quando tu passa, assim com graça, vestida de um jeito simples, como todas as mulheres devias ser, com o ar sonhador, fazendo os homens suplicarem o teu amor, o teu gesto, o teu rebolado. Menina morena, quando passares por mim amanha, repara no meu pobre olhar, a viajar no teu gingado. Menina morena, espero talvez um dia poder lhe dizer, tudo que esperei aqui escrever, mas minha alma cansada não consegue achar as palavras para preencher esta pagina branca. Meu ser tão fatigado, tão desesperado, fingi que lhe esquece querendo lhe amar. Amanha menina morena, quando você vier pela minha calçada, lança um olhar, para que nele possa navegar da esperança de quem sabe, encontrar a paz, encontrar você minha pequena sereia.

domingo, 17 de janeiro de 2010

É você sempre terá razão, mesmo estando errada terás razão. Mesmo eu querendo seguir o meu caminho embriagando pelas esquinas, olhar perdido na solidão noturna, você terá razão. Não deu confesso que não deu, tentei de todas as formas e jeito mudar meus hábitos, mas o meu politicamente correto está em falta. Você tão acostumada com os garotos sarados, encontrou um falso boêmio, um falso malandro. Encontrou um menino, sim, menino, que lhe beija com o cheiro de conhaque na boca - com o cheiro dos cigarros fumados na roupa. Fazer o que se você não quer. Então segues teu caminho só assim serás feliz, com um novo amor, para suprir o que o meu não foi capaz, só assim serás feliz novamente.

sábado, 16 de janeiro de 2010

É verdade que me chamam de velho, mas não me importo, explico. Nunca fui e talvez nunca serei um da moda. Sempre corri daquilo que o pessoal curtia na época, na mesma idade que a minha. Me recusava a ir em casa noturna, nunca fui um paquerador sempre ficava na minha. Sempre fiz às coisas na época errada. Confesso que nunca fui tão certinho ( minha mãe que pode falar). E assim sou eu, abro mão de casa noturna - prefiro o buteco, o papo, a esquina. Dei é fato essa volta toda para chegar num assunto que quero aqui dizer. O meu gosto por música sempre foi bom, sempre gostei de música. De uns anos pra cá virei um amante confesso da música brasileira. Ganhei por causa disso um apelido ( velho). Todos acham que a música brasileira das antigas é coisa de velho. Sendo assim, fui procurar no passado, dado a dica do meu querido seu Leonso, o malandro no auge dos setenta anos de vida ou mais, me indicou um programa na rádio capital AM, intitulado Hora da Saudade. O programa é bacana, só toca músicas antigas tais como: Lupicinio Rodrigues, Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Noel Rosa, Nelson Gonçalves, Pixinguinha. E o melhor de tudo isso é que gostei. Todos os dias antes de pegar no sono ligo o rádio na estação me delicio com as canções. Nasci em 1984, depois de uns bons anos depois dessa época, mas confesso que gostaria muito de ter vivido aquela época. Em tempos atuais, que os adolescentes se deliciam com as músicas se é que se pode chamar aquilo de música. Eu fujo delas como o diabo foge da cruz. Por isso que quase todos me chamam de velho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Confesso que sempre tive a sorte, assim posso dizer de ter convívio com os mais velhos. É um puta prazer para mim, que sou um menino perto deles. Aprendo pra cacete com eles. Chico é um malandro que tenho o prazer, de quando em vez dividir algumas ampolas com o malandro. Chico é da idade do meu pai - ou melhor o malandro bebia com ele, e afirma que o meu velho, enxugava o freezer e a prateleira. Curioso quis saber o que o meu pai tomava, o malandro foi categórico. Bebia tudo que via pela frente, mas sempre na dele, sem arrumar confusão com ninguém. É um prazer ter este convívio e saber que os anos passaram, mudaram as pessoas, mas o espelho é o mesmo. Meu já faz alguns que parou de beber, disse que já bebeu o que tinha de beber, hoje não vê com bons olhos a bebida, mas não impede que eu honre teu nome pelos bares. Chico conforme disse, tomou caminho diferente, se perdeu na cachaça. Chico tem uma estória bonita. Era casado com Helena, morena bonita, vivia prazerosa-mente bem. Mas por causa da bebida, se separaram. De lá pra cá a vida do malandro acabou. Vive pelos os bares, quando um fecha parte para outro. Bebe litros e litros de cachaça. Numa dessas noites, que os deuses não concedem o velho Chico abriu o jogo. Confessou que jamais esqueceu a mulher, que foi tua grande paixão e assim será até o termino de sua vida. Disse que errou, mas que não se arrepende, pois a vida é assim. Como ela não tem rascunho, vive com acertos e erros. Na hora contive o choro, pois também sou assim, um amante da boêmia, e acima dela das mulheres. Mesmo elas rasgando o meu peito, sofrendo a dor da saudade. Confesso que tenho muito em comum com o velho Chico lhe disse isso, ele zombou, soltou um riso, e disse que da vida nada sei. A noite passou sem que eu se desse conta, ele relembrou estórias do meu velho, relembrou suas paixões também. E assim passou mais uma noite, que os deuses me deram o prazer de viver.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

ANITA 79 ANOS

Hoje dando continuação, falando sobre Minas Gerais, quero aqui, mesmo que a distância, erguer meu copo americano cheio de cerveja, em homenagem a minha querida e doce vó Anita, que amanha completará 79 anos. Doce de pessoa, de fala simples e calma, dona do olhar mais calmo e sereno que vi em toda minha vida. Cozinheira perfeita dona de o melhor mingau de couve do mundo. Quero como disse mesmo a distância, sofrendo a dor da saudade, sentido o cheiro que pairá amanha no céu de Minas - o pernil assado, couve, angu, no jantar que acontecerá, não estarei presente fisicamente, mas acredito que numa espécie de pensamento lá estarei. E desejando felicidades enormes para ela, toda felicidade do mundo, e o mas breve possível estarei ai.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

GERAIS, GERAIS

Com os olhos cheio d'água, me despeço de mim, para encontrar você na saudade. Saudade que arrebenta as fibras do peito, meu coração tão fatigado, cansado de outrora se acaba. Com um resquício de aguardente na boca, assim me lembro de ti, minha Gerais. Recebi a pouco tempo atrás um telefonema de minha avó Anita, direto das bandas das gerais. Olhos marejados, voz trêmula, respondi que irei em breve irei, passar uns dias na roça. Sua voz cansada no auto de seus oitenta anos, disse que tudo bem, que me aguardaria. Senti mesmo que a distância, mesmo que telefone, o sabor de seu céu e de suas estrelas. Senti uma saudade absurda de você minha Gerais. Pude escutar aqui, o som do vento batendo na cana de açucar, senti o queimar das lenhas no fogão de lenha. Senti as prosas sentado na beira do mesmo fogão. Senti a luz que no meio daquela escuridão toda. O velho gosto da cachaça, é o alento nesta noite, aonde sozinho, busco o meu lugar, mesmo que perdido nas lembranças, é por você Gerais, que o meu peito arde, é por você que tento a todo instante ser um ser mais simples e honesto. Um dia minha Gerais, irei morar ai, na beira daquela montanha, naquela casinha simples, com um fogão de lenha, com a simplicidade que sempre busquei na minha curta vida de menino sonhador. No meio de sua poesia, espero os dias se acabarem e a morte vir me buscar, assim minha Gerais, terei a certeza, que serei enterrado na terra que sempre sonhei, assim você terás em seu solo, o meu ser para nunca mais separar-te de mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As palavras e os sentimentos são os mesmo de outrora. Nunca e jamais me esquecerei da sua voz denunciando o prato, falando dos teus ais, naquela madrugada jurei amor a ti. Nunca me esquecerei no minuto, na escolha que fiz em lhe dizer tudo aquilo que jamais ousei dizer para outra pessoa. Naquele momento rabisquei teu rosto com a fumaça do meu cigarro, naquele momento, sentado na madrugada vazia e chuvosa, jurei que um dia, nem que durasse anos, iria te ver. Naquele momento, depois das falas, depois de tentar conter o teu pranto, o silêncio se fez presente, como um pássaro cantando no meio da natureza, silenciei, era hora de ouvir a voz de dentro. Aquele instante você não pode ver, nem se quer sonhar, que naquele dia em diante, eu lhe amaria da minha maneira, do meu jeito. Naquele instante em que tudo ficou maravilhoso, rabisquei os meus versos, pobres versos endereçado para ti. Ouvir tudo voz, no meio dos labirintos que a vida nos trás, tentei te imaginar do outro lado da linha. Queria que aquilo tudo saiste de você, e novamente voltasse a brilhar o teu riso tão costumeiro de outrora - que as dores deixasse você livre, para sonhar e navegar pelos mares da vida. Você se lembra? Hoje ausente, hoje distante de você, me recordo do que disse, também do que faltou lhe dizer. A oportunidade que tive não soube aproveitar, meu ser desesperado perdido naquilo tudo, não soube dizer. Silenciei meus versos que ensaiei para lhe dizer, bebi meu velho conhaque, naveguei pelos mares de teu olhar. Você não percebeu. Ouvi naquele momento o pulsar do teu coração, ouvi naquele instante breve e passageiro que naquele dia pra frente não lhe esquecerei. A madrugada passava, perdido nos meus ais, eu buscava de alguma maneira lhe dizer, mas foi em vão. Guardo aqui numa das gavetas do meu coração, as linhas, as falas, os momentos. Mas tudo isso, se perdeu, hoje sentado aqui em frente ao computador resolvi talvez botar algumas coisas que tanto ensaiei um dia lhe dizer. Talvez você não acreditará nisso tudo ou também quem sabe zombará. Mas quero que além disso tudo, você perceba nelas e talvez acredito que essas linhas são sinceras. Talvez naquele lugar distante, o mais longe possível eu possa te enxergar de lá, quem sabe, talvez lhe dizer, que jamais lhe esqueci, naquele momento até hoje. Apenas, apenas...

sábado, 9 de janeiro de 2010

O MAR

É verdade que minhas origens vem das Gerais, como todos já devem estar sabendo. Me considero um ser da roça, mas perdido na cidade, no meio do caos urbano. Mas uma outra paixão desperta aqui dentro de mim, o mar. Sempre tive o fascínio pelo o mar. Isso se deve por minha família vir de Minas Gerais, e como quase todos os mineiros, quanto tem um tempo na rotina vão para o mar, não sou diferente. Confesso que faz pouco tempo que estive navegando nele, e também pescando. Um fato que considero curioso é que também sou um amante da boa música brasileira, curioso porque, não escutava nos tempos de adolescência música brasileira. E sim o rock. Me recordo da primeira audição do disco canções praieiras de Dorival Caymmi. Um baque muito grande para mim. Não passava pela minha cabeça como nunca tinha parado para escutar aquilo antes. De lá pra cá, como se quisesse de alguma forma, querer recuperar o tempo perdido, escuto Caymmi, diariamente. Sua relação com a Bahia, com o mar, com os pescadores, música que retrato a ambiente do povo, dos jangadeiros, sua enorme relação com o mar. Agora no momento que escrevo essas mal traçadas linhas, escutando O bem do mar, meus olhos marejam. Não esqueci sua morte, que para mim jamais morreu, pois sua arte, sua música, seu povo, sua Bahia está nas suas canções. O mar de Caymmi, é mais belo, é o meu mar. Aquele que muitas vezes é malvado, e tantas vezes calmo, silencioso. Conforme disse sou um amante do mar, nele navego mesmo muitas vezes estando na areia apenas contemplando sua beleza, sua poesia. Nesta noite calorenta, jogo flores mesmo que a distância para Iemanjá. Abro a primeira do dia, e adormeço ouvido o som do mar.

SAUDADE D'OCÊ

Verdes paisagens, no alto tuas montanhas e tuas casas ali escondida nos teus pés. Das chaminés cheiro de lenha queimada, no fogão de lenha a comida caseira. Na moldura a imagem de Cristo pendurada no velho prego. Pendura na parede que parece um armário a velha caneca prateada para se beber a velha cachaça de outrora. Estradas escondidas, estreitas, que cortam os pastos. A melodia suave do vento passando levemente feito a vida. O cantar dos pássaros, seus caboclos levantando com o cantar. A manha chega, com ela a esperança de mais um dia simples - sem muito esperar, pois a rotina se repete. O dia passa calmamente, sem perceber, o som da natureza, paz no coração. A noite o luar se faz presente, estrelas milhares dela ao céu. Iluminam os cantadores e tuas violas na noite enluarada, poetas, cantadores, afastam as maldades da cidade grande. Cantam para as morenas, o cantar simples e puro. A viola de pinho 12 cordas, som levemente trás paz para o coração. Mas uma vez a velha cachaça como companheira. O luar das gerais, teus poetas, tuas falas. De repente a noite se vai, sem perceber, sem nos-dar conta. A viola cansada, os poetas embriagados, hora de voltar para a velha cama, a mesma cama simples, a mesma cama de amores noturnos, a mesma cama companheira aonde se sonha os sonhos mais bonitos. Pois em breve será um novo dia, um novo amanhecer. Pois será um novo dia, na minha querida Gerais.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Entre

Sobre a vida que se perde a todo instante. Feito o amor que se perde e renova-se outra vez. Feito a ferida que cicatriza e outras tantas que não. Entre o espaço de tempo o beijo, entre a saudade e o presente. Entre a paz e o vazio, entre o ter e o ser, entre existir e desistir, entre o sonhar e o acordar, entre o porre e a ressaca, entre a bituca e o cinzeiro, entre o peito e o rei, entre o mar, entre as ondas neste imenso azul, feito o céu ao avesso, navego me esqueço. Entre o desmanchar e o manchar, entre estar e estar ausente, entre passar e não ver, entre tuas pernas outro ser fazer. Outra vez a busca da rima, outra vez a poesia, outra vez a escrita, o alento na esquina, outra vez o rebolado da morena, dentro da noite foraz o desfalecer você nua. Entre tanto que dizer sem saber como. Entre o espaço do telefone e a tua voz a distância. Entre a madrugada que silência e aumenta o pranto. Entre a barba para fazer, entre os cabelos que cai, e as noites mal dormida. Entre as tosses, o pulsar do coração vazio. Tua alma na areia, rabisco o meu nome, na tua pele rabisco as cicatrizes feito tatuagem. Teu o teu meu. Tua, apenas tua, tua... Tuas pernas entre as minhas, teu ventre pulsando, cigarros apagados no cinzeiro feito amor de outrora. O tricô que bordas com linhas perdidas. A poesia que se busca, o sussurro da tua voz ao meu ouvido, o ter. O bordado ao avesso, o avesso de mim bordado nessa escrita. A plenitude que se sonha aos dias, o que aparece de mim o que deus tesse com o sofrimento. Entre jogar palavras, este encontrar teu corpo e me perder a todo instante, é esse ensinamento que você me passa todos os momentos, é esse ter é esse avesso do ser ou até mesmo do ter, o que não conheço desconheço. É o brotar, é jogar perfume no ar, às vezes como disse te encontro perdido em pensamento é esse querer distante. É apenas não saber o que escrever para afastar os desenganos, é querer esquecer os assombros é querer estar contigo sem saber que se ama, é esse não decifrar o que é, é esse insinuar sem saber aonde vai e que porto vai chegar. É esse teu norte que se afasta cada vez mais do sudeste. E perdido feito essas linhas sem rima, sem nexo, a vida se encontra num corpo de mulher, é esse ouvir, é esse estar, que procuro incessantemente o teu ser, para quem sabe o amor não dissolver assim, sem dor, ou até mesmo o fim, feito este texto que não acaba, ou até mesmo a morte para por um ponto final.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Só dói quando eu rio

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

É verdade que ando me comovendo com qualquer coisa. Que os meus olhos marejam facilmente. Cães abandonados nas ruas tomando chuva, mendigos bebendo todas às 9:00 da manha, crianças pedindo dinheiro nos semáforos da vida que sempre estão no vermelho. Me honro posso dizer de enxergar este mundo com a sensibilidade necessária, enxergar os dramas e os desespero dos homens e mulheres que passam na minha vida ou ao meu redor. Mas é claro que quando eu bebo isso tudo muda, ou melhor aumenta. Alguns amigos próximos querendo meter o dedo na minha vida, me perguntam com suas perguntas ferinas o porque de beber todos os dias, porque eu não saio dos butecos, o porque. É fato todos sabem que todos tem um vício e o meu atual é tomar minhas biritas, para ter argumento e ver o mundo melhor, assim respondo. Nunca sou compreendido pois sei o bem e o mal que tudo isso faz. Sempre prezo por pessoas boas ao meu redor, tenho poucos amigos, mas bastante conhecidos aqui no bairro, pois sei que ter 3 amigos vale mais que 100 colegas. Pois estando na companhia neles me sinto feliz, seja bebendo, seja simplesmente jogando conversa fora, pois acredito que tendo amigos é mais fácil viver o mundo. Hoje lamento a saudade de alguns amigos que passaram na minha vida - e que o tempo sem querer nos afastou. Claro que cada qual busca o teu ideal de vida e teus sonhos, nessa busca se separa de pessoas queridas. Hoje no momento que pensei em escrever este texto - comecei a lembrar das pessoas que passaram na minha vida e que sumiram, o que diriam eles sobre mim, sobre o Rodrigo que me tornei. Não tenho nada na vida e nem busco ter tudo, tenho a bondade, o amor e pessoas que amo ao meu lado, isso eu tenho a certeza que é o que vale mais nessa vida. O que me deixa furioso é a hipocrisia das pessoas que acreditam que podem julgas as pessoas, o mundo, mas são hipócritas não podem. Se julgam os santos, vão na missa, doam dinheiro para as tais igrejas, mas não procuram ser pessoas melhores. Fato que lamento profundamente. Pois nesse começo de ano o que desejo realmente é que as pessoas tenham olhos de ver, mas não se meter, não julgar. Ter a luz da esperança no peito e assim poder mudar algo. É fato que este meu peito tão fatigado, uma raiz que foi brotada no meu coração, a luz que nele habita anda fraca, mas jamais deixará de iluminar. Pois então assim meus caros amigos, quando me virem na esquina celebrando a arte do encontro, bebendo um pouquinho apenas para ter argumento, não me julguem, não precisa sair contando para todos que o meu lar é o butequim. Pois no fundo mesmo num desespero que passará, sei o que estou fazendo, a lucidez mesmo estando embriagado tantas vezes, ela nunca me deixa, e assim meus caros, estou sendo feliz do meu jeito, da minha maneira. Assim estou enxergando o mundo melhor, assim triste a sorrir vou levando a vida, conforme o sambista cantava, pois assim meus caros, vou escrevendo para as garotas que amo, assim meus caros vou pagando minhas contas sem pedir um tostão para ninguém. E lembre-se quando eu estiver num canto caído, o samba corre e me socorre. Minha alma surgirá do fundo dos poços que tanto mergulhei e de lá sai. Então meus caros, toquem tua vida, corram atrás dos seus sonhos, pois a vida não para, e nem dá carona.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Bundão - O Chato

Como um bom filho a casa torna, eu voltei. Depois de passar alguns dias distante, ausente daquela espelunca como um filho volta para mãe. A minha ausência não citarei aqui, não citarei o que me levou a tomar algumas providências de abandono à minha espelunca do coração. Cheguei por lá reparando em tudo e pude é fato perceber que nada mudou. Para a minha alegria nada mudou. O baixo na dele, sem puxar papo comigo, tive é certo alguns contra-tempos com o malandro, mas não cabe aqui citar, pois malandro que é malandro, resolve no papo. Superando tudo o que se passou, já que passei cerca da metade do ano passado naquela espelunca, o que deixou minha conta bancária negativa ( se é que já foi positiva algum dia). Todos os freqüentadores de butecos sabem que em todos os butecos do Brasil haverá um chato de balcão. Aquele que pede uma pinga e demora cerca de duas horas para pedir outra, enquanto fica torrando a paciência dos ali presentes. Para a minha surpresa nem isso mudou, lá tem um bêbado de plantão e o nome dele é Raimundo. O maior chato daquela espelunca. Para alguns que o chamam de Bundão, devido a sua covardia, Raimudo é aquele cabra que toma pinga por que é barata, não é porque gosta. Pois o que presenciei ali dentro daquela espelunca revela o quanto o malandro é chato e além de tudo mão de vaca. Raimundo nasceu no Rio Grande do Norte, como milhares que tentam a vida na sonhada São Paulo, aqui chegou e nunca mais rastou o pé daqui. Raimundo é um sujeito que não tenho apreço nenhum, sinto é fato dizer, mas é aqueles seres humanos que não me causam nada, sua presença ali, é como não estivesse. O malandro como aqui disse, é pão duro, aquele que não ousa jamais colocar uma cerveja na mesa do amigo, que não ousa pagar o churrasco ou participar da (vaquinha). E além de tudo é um chato. Hoje conforme disse aqui, estive na espelunca e pude re-ver aquele ser. O malandro não mudou nada, nem um pouco. Continua sempre na mesmice. Hoje bebendo sua cachaça encostado no balcão reclamando dos jogadores de sinuca - pude presenciar a pior cena presenciada por mim. O cabra que diga de passagem não é digno de pegar num taco de sinuca, e chamar algum caboclo para disputar uma nega de três, já que chamei-o aqui de bundão, explico. Raimundo mão de vaca, só joga com aqueles que ele acha que tem chance de ganhar. Assim foi comigo - o malandro achou, apenas achou que teria chance de ganhar para surpresa dele, perdeu feio. Hoje jogando com o seu Roque, malandro, jogador do bom, deu 4 bolas para eles. Para que vocês entendem melhor, seu Roque jogou apenas com 1 bola na mesa, enquanto o cabra que não honra as cuecas jogou com 5. Conforme vocês podem imaginar quem levou a melhor foi o seu Roque, para minha imensa alegria. A nega de 3 era valendo 3 cervejas. O que me deixou alegre. O malandro perdeu feio, não deu para o cheiro e ainda questionando, reclamando, pagou chorando as 3 cervejas. O que quase me fez desistir de tomar as mesmas 3 na companhia do velho e malandro seu Roque, cabra matuto, malandro dos bons, sabedor. Enquanto saboreávamos a cerveja Raimundo ( bundão) questionava do outro lado. Não dando ouvidos para tanta besteira fiquei até poucos minutos ali naquela espelunca. Saboreando a vida, contemplando o futuro e tendo ainda a certeza que o butequim é o meu lugar, que ali mesmo que ausento, ali estará o meu ser, o meu peito, a minha sobra. Sentada no canto direito daquele balcão conforme disse saboreando a vida na presença dos amigos e dos sonhos e tendo a certeza que dentro de buteco o que vale é a palavra, é o gesto, é a camaradagem, o resto é resto.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Começo de ano, algumas luzes ainda estão acessas nas casas. Posso ver a esperança brilhando ali, naquela pequena luz vermelha na janela. Meus passos embriagados se perdem no zigue-zague nas ruas, a solidão, o vazio, a praça, os cães, a poesia, o porre. A minha velha voz rouca, pigarreada, grita no quatro cantos teu corpo, tua presença, tua luz. Sinto o cheiro da chuva caindo é o mesmo cheiro do teu corpo nu. O imenso calar da madrugada, meu pranto, minhas dores, tudo se perde nisso tudo. No dia seguinte é o mesmo levantar, parecendo que tudo voltou ao antes, na cama ainda vazia cheirando bebida, olho para o lado e o teu vazio ali esta presente. O desespero reina, perco as horas, perco a vontade, nesse mundo imundo de meu deus, neste pequeno cubículo, tudo se perde. A mesma melancolia, o mesmo desespero, por vez penso em acabar com tudo isso - mas vem a falta de coragem, vem, sopra uma voz no meu inconsciente dizendo que tudo vai passar, que este desespero é momentâneo. Sinto o estar sozinho nisso tudo, nessa cidade, nessa vida. O vai -e -vem das pessoas me deixa aflito, caminho entre elas procurando teu rosto no meio delas, por vezes acredito que acharei, mas sinto que também é impossível. O dia passa, a tarde chega, é o mesmo processo, a angústia ainda maior, o mesmo cinza no céu, e a mesma fala crua aqui dentro, o mesmo sonho, a mesma poesia, o mesmo sofrimento, aqui dentro. A velha música toca no peito, o que me salva é o samba, assim penso, não pirei por causa dele. Saca uma cachaça de rolha, abro, coloco uma dose no pequeno copo sobre a mesa, penso que será mais uma no dia de hoje. Aos poucos me vem, essa paz, esse alento, que no dia seguinte vai-se embora assim que eu acordar. Tudo é estranho, não vejo mais você, não vejo mais as marcas no chão da sala, não vejo mais o teu corpo nu debaixo do chuveiro, não escuto mais o meu gemer na tua orelha, e isso é tudo oco, meu corpo agora se encontra oco. Padecer eternamente, o coração ferido talvez possa ainda encontrar uma esperança naquela pequena luz na janela, ou naquele pequeno ser que virá em breve neste mundo, naquele pequenos olhinhos a contemplar-me, a aprender o be-a-bá. A me chamar de pai, o querer estar presente, e assim tudo fará sentindo, tudo se contemplará. Tudo se completa de algum jeito, se completa.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Teu olhar se perdia no horizonte. Olhar que outrora brilhava, me impulsionava. Havia naquele olhar algo terno, algo de paz, um brilho que mostrava os caminhos da vida. Fico a buscar no meu imaginário, guardado lá fundo, teu olhar de outrora. Mas a lembrança é pequena, já não enxergo mais. Me recordo daquelas tardes quando você sentava na sua cadeira de madeira, ao lado do fogão de lenha, enquanto esperava a comida ficar pronta. O bule de café na mesa, xícaras penduradas nos preguinhos. Aquela paz, aquele remanso, aquela calmaria. Hoje reviro no meu inconsciente atrás de alguma espécie de memória, que me traga a calmaria, que me ensine o caminho. Tudo é em vão. Depois de tua partida, a casa ficou vazia. Já não encontrava nela, o mesmo prazer de antigamente, já não encontrava você lá naquela cadeira, com aquela voz mansa e terna. A solidão tomou conta daquele lugar, aos poucos perdeu o brilho. Tudo ficou cinza. Aos poucos suas lembranças também. Prometi não mais pisar naquele lugar, prometi assim minha querida, viver como uma espécie de lembrança. Buscar assim sempre que eu quiser, mesmo que nem sempre conseguindo, nossas conversas, teu jeito terno, esse teu olhar, tua comida, teu abraço, no passado. Mesmo você ausente deste mundo, na medida do possível eu também, sempre buscarei você aqui dentro, aqui dentro de mim, aonde você jamais morrerá, aonde você se tornou encantada. Nesse sertão que é aqui dentro de mim, você ainda é água que me mata a sede.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Acendo um cigarro molhado de chuva. O silêncio da madrugada misturado com algumas doses de cachaça me embriaga, em calma. Caminho lentamente pelas ruas, lembro que é a primeira madrugada do ano, e tudo se repete. Reparo que ao meu lado, dos solitários companheiros me acompanham, dois cachorros, molhados de chuva. Seguem os meus passos, paro, eles param, prossigo eles prosseguem. Me comovo com tudo isso. Dobro a esquina, eles param debaixo da cobertura de um butequim, como querendo dizer: Aqui é o meu lar. Solto um sorriso, continuo a caminhada. A solidão da vida noturna me acompanha, essa boêmia que me matará um dia. Pego-me a pensar no ano que começa, uma saudade absurda, meus olhos marejadas. Cantarolo um velho samba, lembro da minha terra, do meu povo, penso na esperança, não é essa esperança momentânea contida num copo de bebida, e sim aquela esperança que não podemos perder jamais, de amar este povo, de amar esses butecos, de amar o samba, de amar, simplesmente amar, a cada amanhecer, amar. Mesmo que no velho travesseiro de outrora, ainda cheirando o velho cheiro de conhaque, e a saudade daquela mulher que tanto fascina, lhe roubar os sentindos, apenas digo neste madrugada que mal enxergo as teclas do computador e nem que rumo toma este texto, simplesmente ame.