segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

TUDO ACABA EM SAMBA

Ontem acordei no meio da madrugada assustado. Não sei bem o que aconteceu. Era escuro ainda. Olhei para o relógio marcava 5h35 da manha. Revirei na cama de um lado para o outro, na expectativa de voltar a dormir e nada. Se passou alguns minutos levantei. Fui ao banheiro escovei os dentes, vesti uma camisa, apanhei na mesa a carteira e o maço de cigarro, resolvi caminhar um pouco. A primeira parada foi a padaria do seu Zé, português que há anos mantém ali uma das mais belas padaria que conheço. Pedi dois pães com manteiga na chapa e para acompanhar um belo pingado. Enquanto Manoel preparava, dei um pulo até a banca de jornal comprei o Estadão ( há alguns anos não leio jornal). Voltei para a padaria, peguei a pequena travessa com os pães, o copo americano me sentei numa mesa isolada. Fiquei ali durante quase uma hora lendo as matérias ( demorei mais no esporte e no caderno de cultura), confesso que o restante não me interessa muito ( cansado disso tudo).

Depois do café um pulo até a praça, completei duas voltas na pisa de corrida, lentamente caminhei, cigarro nos lábios, reparando na bela manha que ali nascia, na certeza que o meu tempo era curto demais, mas que a simplicidade de pequenas coisas e gestos sempre me chamou atenção. O domingo ainda começava a nascer.

Voltei para casa, uma parada em frente a TV para delírio de minha mãe que odeia o programa Viola minha viola na TV Cultura. Simplicidade da viola, simplicidade das senhoras belas ali batendo palma, simplicidade da bela Inesita, que há anos toca o programa ( uma revolucionária) que se diga.

Voltei para a cama, tirei um cochilo levemente, apenas para descansar a mente. Hora de comprar os ingredientes faltantes para o almoço. O mercado como sempre lotado, milhares de pessoas indo e vindo, caminhando apressadamente pelos  corredores lotados, um passando por cima do outro. Ingredientes comprados, hora de voltar ao lar. A garrafa de vinho chileno na temperatura ideal pronta para ser devorada. Prato principal uma lasanha de abobrinha italiana, para acompanhar arroz integral e legumes, salada de alface e tomate e suco do Uva. Prato natural.

Enquanto os preparativos iam ganhando forma e cheiro nas mãos sempre talentosas de cozinheira que melhor conheço Dona Rosa, me sento na cadeira de balanço para planejar o que faria na tarde de domingo.

A fumaça do cigarro me dizia que há tempos não ia no cinema, que não ira na região central, que não comprava livros, que não tomava uma cerveja na Rua Augusta. Pronto o passeio estava escolhido.

Hora do almoço, comida maravilhosamente bela, cheirando no horizonte. Comi digamos que bem, nada de exageros ( já que me encontro numa bela dieta). Hora de uma pausa, hora do cochilo novamente. Me levanto, já é quase duas horas da tarde, hora de um rapído banho para refrescar, calço a velha sandália de couro, uma calça de sarja e uma bela camisa xadrez. Aceno um pequeno adeus para minha mãe, que me pergunta aonde vou, digo: ao cinema!

Uma breve pausa no ponto de ônibus, enquanto o ônibus não vem o melhor a fazer é acender um cigarro, já que a viagem não será das curtas. No caminho reparando na paisagem, nas ruas desertas de um domingo a tarde, na paz que a vida trás, nos compromissos diárias, nas contas para pagar, hora de esquecer as preocupações. A viagem segue rapidamente o céu azul escuro me diz que virá mais um daqueles vendavais.

Faltava alguns minutos e o diluvio se anunciava. Enquanto o ônibus subia a ladeira da Brigadeiro Luís Antonio o vendaval veio. Chovia aquela chuva torrencial, pronto ferrou o meu passeio pensei. Ferrou mesmo! Não daria para caminhar até o cinema, nada de cerveja, nada de livros. O ônibus cruzou avenida Paulista não desci. Fui descer em frente ao cemitério da Consolação. A chuva misturado ao vento caia, a cobertura do ponto de ônibus não era o melhor abrigo. O vento ajudava a espalhar a chuva, enquanto esperava o ônibus de volta, me molhei todo. A espera durou alguns minutos. Entrei no ônibus como um cachorro molhado, lamentando tudo aquilo, disse para mim: que merda!

Hora de voltar ao lar. Mas como no Brasil tudo acaba em samba, a surpresa tarda mas não falha. Desci no terminal hora de pegar mais uma condução para chegar em casa. Entrei, me sentei ao fundo da lotação. Parecia não acreditar naquilo, quando escuto uma voz gritando meu nome, era o cobrador da lotação. Acenando com a mão uma leve saudação. Me levanto vou até ele, cumprimento. De quebra ele me fala do samba que acontecendo perto da minha casa ( samba que já sabia que iria acontecer), mas não sabia o lugar. Digo para ele que seria uma bela ida, já que meu role tia ido água abaixo. Se passaram cerca de meia hora para que chegavámos ao lugar do samba. Pronto ele fala desci aqui, aqui... o samba é logo ali naquela esquina. Cheguei por lá uma bela surpresa, numa praça da periferia de São Paulo o samba mostrava sua cara, crianças, cachorros, bebuns, todos ali curtindo a bela tarde quase noite de domingo. Um amigo logo me viu, agradeceu a minha ida, logo me presenteou com uma lata de cerveja, pronto o domingo estava garantido como disse: tudo acaba em samba...

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