quarta-feira, 23 de setembro de 2009

SEU LUIZ E DONA MARIA

O tempo não passa, enquanto existir saudade...

Fiquei sabendo dessa estória há poucos dias atrás, pelo o próprio seu Luiz. Seu Luiz me contou, ou melhor me confidenciou que desde da morte de Dona Maria, para ele a vida havia parado, havia desistido de viver depois da partida de Dona Maria. Eles foram casados 40 anos, tiveram 7 filhos, e uma quantidade enorme de netos. Por muitos anos Dona Maria, foi minha vizinha junto com o seu Luiz. Uma grande parte da minha infância foi passada em sua casa, na companhia de seus filhos. Me recordo de tantas estórias e lembranças ali vividas. Brincadeiras, sonhos, brigas, tudo isso. hoje um pouco mais crescido, um pouco mais esperto em relação à vida, posso compreender o que passa com o seu Luiz. Ali na sua casa, presenciei entre os dois cenas lindas, de companheirismo, de compaixão, de amor entre os dois. Dona Maria, sempre foi dona de casa, alegava que não precisava trabalhar, que sua vida era cuidar dos filhos, educar para um futuro melhor. Há poucos anos atrás, com o seu Luiz aposentado, depois de trabalhar arduamente 30 anos numa mesma empresa, conseguiu se aposentar, realizando seu velho sonho de terminar a vida ao lado da sua esposa numa cidade qualquer do interior paulista. Realizaram todos os sonhos, viajaram bastante, consertaram à casa que havia comprado, deixando assim a casa enorme para melhor aconchegar à todos. Como disse no começo deste relato, Dona Maria, partiu aos 59 anos de idade, de infarto fulminante. Deixando todos tristes e solitários. Fiquei sabendo de sua morte, quando realizava uma pequena viagem a minha querida Minas Gerais, sua morte, causou em mim um impacto muito grande. Ainda recordo da voz triste e calada, de minha mãe ao telefone, informando do seu falecimento. Sentei numa mesa de um buteco, pedi uma cachaça e uma cerveja e fiquei a-lembrar do passado. Quando voltei de lá, para cá, estava triste com sua partida, minha mãe me disse que todas suas amigas estavam partindo - que a morte era cruel. Tinha toda razão. Mas voltando ao papo que tive com seu Luiz, ele me disse que era um amor eterno que sentia pela dona Maria, que nesses 40 anos que havia vividos juntos, nunca houve nenhuma espécie de desrespeito por ambas as partes. Me contou também de todos os problemas que juntos enfrentaram, um na companhia do outro. Escrevo este texto, em dias tão individualistas, que casamentos duram no máximo 5 anos, é um belo exemplo de vida. Sua dor eu não sei medir, é uma dor que não passará, mesmo que o tempo passe, não mudará. Me contou que não consegue ficar na imensa casa sozinho, que olha para todo e qualquer canto, e lembra dos pitacos dado por ela na construção da casa, dos pitacos, nas arrumações. Que olha para os móveis, para os equipamentos eletrônicos, e vê o vazio, deixado por ela. O silêncio de uma casa vazia, é maior que um silêncio numa catedral, é um silêncio que fere, que causa sofrimento e dor. Me disse, que a vida, não é nada demais, que a todo instante se cai e nem sempre se levanta. Disse também que foi o baque maior que levou nesses 63 anos de vida, que nem a morte dos seus pais doeu tanto com a morte da esposa. Disse que a cura para os males, estava no bate-papo que tinha com os amigos, que sentava no buteco, mesmo tendo parado de beber há anos, era ali no bate-papo com os amigos que tirava o alento para seguir em frente. Disse também que adorava conversar comigo, que apesar da minha pouca idade, era um bom sabedor das coisas da vida, que tenho um papo bom. Seu Luíz, com essa dor dele, me convenceu a parar e pensar no que realmente vale na vida, eu que diga de passagem nunca fui um cara materialista, nunca liguei para coisas materiais, ouvir seu lamento me deixou realmente abatido e triste. Pude perceber o que realmente importa nessa curta passagem por essa terra, importa é o amor, é fazer o bem, é ser uma pessoa melhor, é escrever mesmo sabendo que não importa mais uma estória, é escrever um poema para a pessoa que ama, é tocar uma canção, é dançar junto a valsa da vida, é amar os defeitos, é sonhar com a plenitude, é escutar do silêncio do companheiro o conforto, é encontrar nos olhos da pessoa amada a estrada para seguir em frente, mesmo que em enfrente não signifique mais nada.

Sem comentários:

Enviar um comentário