domingo, 3 de janeiro de 2010

Começo de ano, algumas luzes ainda estão acessas nas casas. Posso ver a esperança brilhando ali, naquela pequena luz vermelha na janela. Meus passos embriagados se perdem no zigue-zague nas ruas, a solidão, o vazio, a praça, os cães, a poesia, o porre. A minha velha voz rouca, pigarreada, grita no quatro cantos teu corpo, tua presença, tua luz. Sinto o cheiro da chuva caindo é o mesmo cheiro do teu corpo nu. O imenso calar da madrugada, meu pranto, minhas dores, tudo se perde nisso tudo. No dia seguinte é o mesmo levantar, parecendo que tudo voltou ao antes, na cama ainda vazia cheirando bebida, olho para o lado e o teu vazio ali esta presente. O desespero reina, perco as horas, perco a vontade, nesse mundo imundo de meu deus, neste pequeno cubículo, tudo se perde. A mesma melancolia, o mesmo desespero, por vez penso em acabar com tudo isso - mas vem a falta de coragem, vem, sopra uma voz no meu inconsciente dizendo que tudo vai passar, que este desespero é momentâneo. Sinto o estar sozinho nisso tudo, nessa cidade, nessa vida. O vai -e -vem das pessoas me deixa aflito, caminho entre elas procurando teu rosto no meio delas, por vezes acredito que acharei, mas sinto que também é impossível. O dia passa, a tarde chega, é o mesmo processo, a angústia ainda maior, o mesmo cinza no céu, e a mesma fala crua aqui dentro, o mesmo sonho, a mesma poesia, o mesmo sofrimento, aqui dentro. A velha música toca no peito, o que me salva é o samba, assim penso, não pirei por causa dele. Saca uma cachaça de rolha, abro, coloco uma dose no pequeno copo sobre a mesa, penso que será mais uma no dia de hoje. Aos poucos me vem, essa paz, esse alento, que no dia seguinte vai-se embora assim que eu acordar. Tudo é estranho, não vejo mais você, não vejo mais as marcas no chão da sala, não vejo mais o teu corpo nu debaixo do chuveiro, não escuto mais o meu gemer na tua orelha, e isso é tudo oco, meu corpo agora se encontra oco. Padecer eternamente, o coração ferido talvez possa ainda encontrar uma esperança naquela pequena luz na janela, ou naquele pequeno ser que virá em breve neste mundo, naquele pequenos olhinhos a contemplar-me, a aprender o be-a-bá. A me chamar de pai, o querer estar presente, e assim tudo fará sentindo, tudo se contemplará. Tudo se completa de algum jeito, se completa.

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