segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A TARDE CAIA

A tarde caia, no céu um crepúsculo que fazia tempo que não via. Resolvo sair um pouco, passear, caminhar. Distrair a mente tão fustigada nos últimos tempos. Apesar de ser começo de semana, mas precisamente segunda-feira, era pra estar tudo bem, final de semana aproveitado ao máximo, reunião com os amigos, pescaria, buteco - tudo era pra estar bem, mas não esta. A mesma agonia de outrora que me persegue, que não me deixa um instante. Um turbilhão de pensamentos, me toma o tempo, me pego pensando em coisas que não tem cabimento, que já passou, que não voltará. Um refúgio é o que preciso, longe desta metrópole cinza - longe do caos, um silêncio profundo aonde eu possa me encontrar com "eu" perdido numa esquina qualquer. Caminho lentamente, sem direção, sem rumo. Reparo no meu bairro em sua transformação, o tanto que ele mudou de alguns anos pra cá. Passo em frente de alguns botecos que meu pai freqüentava, me recordo das tardes passadas ali em sua companhia - tomando tubaína, comendo doce de amendoim. Meus olhos ficam marejados, me emociono. Essa lembrança que me trás tanta felicidade, reparo que os bares não mudaram nada - a transformação aconteceu apenas comigo. O movimento dos carros aumentam, pessoas passam apressadas, em direção aos seus lares, querendo o lar, a tranquilidade que apenas o lar dá. Decido caminhar mais um pouco, a escola que estudei é a mesma, o silêncio ali é catedral, revelando que as crianças já se foram, deixando aquilo tudo quieto. Caminho, apenas caminho, o calor é incessante, não sei bem qual é a temperatura atual - mas acredito que passa dos 30. Vou em direção a praça, que foi feita recentemente, para ali naquela esquina debaixo de uma imensa árvore, que recordo dela, acedo um cigarro, continuo a caminhada. Começo a cantarolar algumas canções que tranqüilizam minha alma, me recordo do Chico Buarque dizendo que a caminhada para ele, é estar consigo mesmo, colocando os pensamentos em dia. A praça para meu espanto, devido ao intenso calor que faz neste começo de noite, encontra-se lotada, centenas de crianças ali brincam, se diverte. Alguns adultos fazem caminhada em torno da praça - em busca de saúde e bem estar, algo que não tenho ultima-mente. Alguns idosos jogam bocha, reparo nos palpites que uns dão para o outro. Me sento no banco, para descansar um pouco, reparo naquela cena, crianças, jovens, idosos, todos convivendo pacificamente, querendo apenas o bem estar. Penso porque o mundo não pode ser melhor - pois nele existe crianças, para alegrar, para nos mostrar o quanto a vida é simples, e quanto um sorriso é belo. Mas uma vez a música se faz presente, me lembro da canção de Gil, domingo no parque - cantarolo alguns versos. Me perco ali, a multidão ao meu redor parece ausente, me perco em pensamentos, sem me dar conta, o céu lindo vai embora, se torna escuro, prenuncio de chuva. Algumas mães mais preocupadas recolhem seus filhos, dizendo que vai chover, que é hora de jantar e tomar banho. Reparo nas crianças com cara de choro, indo embora, de mãos dadas com os pais. Lembranças vem à tona, me recordo das poucas vezes que sai com o meu pai, das poucas vezes que ele me via na praça, sempre muito ausente, não me via brincar de jogar bola, não me ensinou a andar de bicicleta, coisas que geralmente os pais fazem. Gotas de chuva começa a cair, junto com um vento forte, a praça começa esvaziar rapidamente, os idosos param o jogo se despedem e rumam para seus lares, o pessoal da caminhada também. Apenas alguns casais de jovens ali namoram e paqueram parece não se importar, parece que a paixão é o que vale no momento. Continuo ali sentado, sem vontade de ir para lugar nenhum, apenas a contemplar ao meu redor - como tudo muda, e como mudamos com o passar do tempo. A chuva aumenta, junto com o vento, todos ali saem correndo atrás de alguma cobertura para se esconderem da chuva, me levanto, calmamente, a chuva encharca minha roupa, meu óculos parece um para brisa de carro, me impossibilitando de ver alguma coisa. O maço de cigarro molhado no meu bolso, meu par de sandálias deslizando nas ruas de minha infância, ruas sem passado, ruas sem glória. Caminho em direção ao meu lar, molhado de chuva até os ossos, em busca da purificação e da paz, que talvez eu encontrarei quem saiba quando eu chegar em casa, quem sabe, quem sabe...

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