sábado, 27 de março de 2010

É tarde, no céu algumas estrelas se fazem presentes. Essa solidão que me entreguei, esse vazio que mergulhei, sem querer estar presente. Butecos que de uns tempos pra cá foram os meus lares, o meu reduto, a minha paz. O suspiro derradeiro. O estar emocionado, o se alegrar mesmo estando triste. Se foi. Hoje entregue as turbilhões que a vida me trouxe, me entreguei. Não quero sair, evito lugares tumultuados, quero a paz, quero a solidão, quero a mim mesmo. O meu silêncio o meu vazio.  Tudo isso, essa fase, essa solidão boa, esse estar  ausente, vem acompanhado de uma sensação de entrega, o tanto que já me entreguei, o tanto que me dividi, o quase nada que somei. Os caminhos que percorri, os que desisti no meio, os que sonhei, os corpos que sonhei nos quais jamais tocarei, nas mulheres que tanto amei e elas se foram. Deixaram muitas coisas, e um tanto levaram de mim, essa troca, essa doação, sinto imensas saudades delas nessa noite, sentado neste quarto escuto. O velho cinzeiro de vidro, um amontoado de guimbas apagadas, o velho copo americano, a velha vitrola tocando um disco triste, é a minha melhor companhia. Silêncio o meu pranto, conforme o suspiro derradeiro, espero como quem espera no leito de morte, a vida passa, já não faz tanto sentido assim, se ela passa ou se ela fica, se ela me leva ou se ela me deixa. Pois este eterno vagar que me encontro, não tem dia, nem hora pra acabar, e viver ou morrer já não faz tanta diferença assim.

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