terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NOITE FRIA

Texto que escrevi tempos atrás.

Parto rumo ao buteco, no céu escuro vejo uma, talvez duas estrelas. A garoa que cai do céu fazendo a noite mais fria. Acendo um cigarro o vento frio bate no meu rosto revelando o frio e o vazio que pairou dentro de mim. A solidão é minha companheira, partimos juntos eu e ela rumo ao buteco. A fumaça do meu cigarro escreve no ar o nome dela, me revelando que ainda não posso e não consigo esquecer o adeus da despedida. Despedida que nem sei ao menos se chegou acontecer. Sigo caminhado na rua vazia, alguns cães vem ao meu encontro fazendo companhia. Seguem-me até eu entrar na espelunca - aguardam do lado de fora como se quisessem dizer: beba, pois é o que tens a fazer, aproveite que na volta voltaremos contigo. Sento naquela cadeira ao lado do freezer cervejeiro. Peço uma cerveja e um copo. Ofereço o primeiro gole aos deuses que peço para abrirem o meu caminho me tirando essa revolta que invade o meu ser. Sinto que estou mais angustiado, a música que toca não é ideal para o momento, mais mesmo assim segue embalando a minha saudade e minha solidão. Poucos freqüentadores ali se fazem presentes. Alguns vem me comprimentar, dizem algumas palavras algo que eu não consigo entender, ou não faço entender, os meus pensamentos estão em outro lugar. Pego-me a lembrar de suas carícias, de seus beijos apaixonados, suas juras dizendo que eu seria o homem de sua vida. Um samba vem na minha cabeça - para aliviar o meu sofrimento e minha angústia, pois como diria o poeta: o samba existe para não deixar ninguém triste. Peço mais uma cerveja e aproveito e peço também um conhaque que é para espantar de vez o tédio. Um bêbado insiste em querer minha atenção penso que talvez ele esteja no mesmo degrau que eu, penso que iremos cair juntos. Ficamos ali um perto do outro separados pela a fumaça incessante de nossos cigarros. A tosse seca nos atrapalha, impede de colocar para fora o que nos entristece. Começo a reparar no ambiente, sinto aquela melodia novamente, um outro bêbado me oferece um gole de sua bebida, digo que não, o mesmo insiste dizendo que é a bebida dos deuses. Meus pensamentos se perde nos labirintos da vida, olho na direção do portão procurando os cães que me acompanharam até ali. Não os vejo, acho que o frio daquela noite escura fizeram eles se esquecerem de mim e procurar algum canto para se esquentar. Continuo ali sentado a bebida começa a fazer efeito, sinto o meu olhar perdido, sinto um leve sorriso saido do meu rosto, por um breve instante esqueço das minhas tristezas pensando que a vida é assim mesmo. Pago minha conta, me despeço de todos prometendo novamente esta ali amanha. Sigo novamente rumo a minha casa, rumo que nem sei se seria o certo, venho meio cambaleando e sorrindo, o samba se faz presente novamente, por um momento apenas esqueço que tudo isso não vale a pena, abro o portão, a porta, apago o cigarro jogando na garagem. O meu cão me olha com um olhar de amparo, entro em casa, sinto um vazio, penso que o melhor seria dormir, para tentar esquecer aquela noite que talvez tenha sido a mais fria do ano, fora e dentro de mim.

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