quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Certa vez, numa tarde fria, quando escutei sua voz ao telefone desesperada, pedindo ajuda, clamando por um pouca de atenção para fugir do tédio e do desespero, ali, naquele instante te amei, e jurei que acontecesse o que acontecesse jamais estaria sozinha no mundo. Jurei, como jurei em cima do evangelho, que suportaria tudo, que me ausentaria de qualquer coisa, que abriria mãos dos meus planos, para ali ficar junto de ti, quando você precisasse. Marcamos um encontro, você disse que me pegava às cinco horas, em frente a minha casa, eu sorri concordando, você não pode ver. O relógio marcava, 16h50min, quando você estacionou o carro. Pude perceber no seu olhar, que outrora brilhava tanto, que às coisas não iam bem. Nada disse apenas te abraçei, apenas beijei tua testa, assim como um pai beijo o filho. Num desespero, você começou a chorar, me abraçou, dizendo não suportar mais o tédio, era uma angústia presente, nada preenchia esse vazio. Tentei falar alguma coisa, mas você parecia não ouvir, o desespero era maior que qualquer coisa. Esperei você recuperar a fala, diminuir o pranto, pedi para você tocar o carro em direção a algum bar, mas que não fosse perto, o quanto distante for, para termos tempo de fugir um pouco da rotina. Você partiu com o carro, parecia estar perdida, os carros passavam apressados, você pediu para que eu ligasse o carro, solicitando que eu falasse algo, que aquele silêncio atordoava ainda mais. Procurei dentro de mim, algo que te ajudaria, mas a procura não foi das melhores. Tentei dizer, que todos os seres tem seus sofrimentos, que a angústia era uma forma, para conseguir forças para driblar as adversidades da vida. Você deu, um sorriso, fiquei feliz, você ainda sorrindo disse que eu era maravilhoso, com a minha poesia vagabunda, que não sabia como, mas que sempre caia na minha lábia. Eu dando sorriso, disse que ainda bem que conseguia; arrancar alguma coisa de você de bom. Pois há tempos, você era um poço de infelicidades. Enquanto ela dirigia meu olhar se perdia naquela paisagem cinza, se perdia no meio dos carros, das pessoas, um mundo de pensamentos trilhava aqui dentro. Pude reparar que apesar de toda essa angústia você ainda continuava a mesma menina bela, de quando conheci. Mesmo sem o brilho no olhar, ainda tinha luz neles, e neles eu poderia viver tranqüilamente. Você olhava pelo o retrovisor, me olhava, via que eu à fitava com os olhos, querendo algo à mais. Depois de longos 40 minutos, chegamos ao Bar, o bar era o mesmo, sempre íamos ali, cerveja barata, com uns tira gostos maravilhosos. O bar estava lotado, com poucas mesas disponíveis, escolhemos uma na parte do canto do bar, aonde parecia que dava para conversar sem precisar gritar. Puxei a cadeira para que você sentasse, você sorriu, era capaz de fazer qualquer coisa para te fazer feliz. Sorri novamente, solicitando que ela pedisse para o garçom, sua bebida. Ela com um breve aceno de mãos solicitando o atendimento do garçom, pediu uma vodka com suco de laranja, e uma cerveja e dois copos. Eu sorri, era impressionante o quanto a minha felicidade era grande ao lado dela, sem que ao menos eu conseguisse disfarçar. Perguntou-me se ainda eu continuava com os mesmos gostos, eu disse que sim, que a minha bebida era duas: cerveja e uma boa cachaça. Ela sorriu me dizendo o quanto eu era simples, e butequeiro. Eu agradeci, sorrindo ainda mais. A noite passava tranqüilamente, apesar da grande quantidade de gente ali presente, dava para conversar sossegado. Ela começou a dizer - colocando para fora o que afligia, o quanto sentia saudades da família, naquela imensa cidade, não tinha conseguido se adaptar ainda. Dizia que o tempo passava, e não conquistava nada, não conseguia concluir o curso de letras na universidade, que gostaria de mudar de curso, de área, mas que era vã. Não conseguia se libertar das garras dos más pensamentos. Que a idade ia chegando e ela ainda não tinha conquistado nada, eu sorri, dizendo para ela se acalmar, pois a maioria dos jovens ainda não conquistaram o que gostaria. Disse também, que sempre, procuramos algo maior, que a vida é assim, que sempre colocamos obstáculos no meio dela. Que não contentamos com que alcançamos. Que era espírito dessa sociedade materialista. Ela pareceu concordar fez um gesto com a cabeça querendo dizer que sim. Enquanto discutíamos, ali sobre política, cultura, cinema, literatura, poesia, teatro, pude lhe dizer o carinho que sentia por ela, ela também fez que sim, que me adorava, que ultimamente ela podia contar comigo a qualquer hora. E a imensa saudade que sentia, de quando de porre, nos beijamos pela primeira vez. Disse isso a ela, ela sorriu, dizendo nunca ter me esquecido, e nunca ter esquecido aquela noite tão linda, tão iluminada. Eu confessei a ela, os meus sentimentos, disse o quanto era triste vê-la assim, caída pelos cantos, tristonha, sofrendo. Ela num gesto de delicadeza apertou a minha mão, e pediu para eu dar um gole na cerveja, sem entender fiz o que ela pediu, depois de saborear o gosto adocicado da cerveja, ela pediu para que eu fechasse os olhos, sem perceber o que ali acontecia, fechei os olhos, pude sentir pelo o teu perfume o rosto dela se aproximando do meu, então quando abri, os lindos lábios dela já estava grudados aos meus. O beijo durou alguns segundos, o suficiente, para arrancar alguns sorrisos. Ficamos ali, naquele romance de abril, sem perceber o quanto dependíamos um do outro. Ela ainda sorrindo, pediu a conta para o mesmo garçom que fez o pedido, dizendo que a conta era por conta dela, eu fiz que não, que pagaria, ela reclamou dizendo que não permitiria. Ainda sorrindo em direção ao caixa, me disse ao pé do meu ouvido, que me levaria para o infinito naquela noite, que eu poderia esperar tudo naquela noite, eu sorri concordando.

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