sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Olhar perdido na imensidão. Sem a certeza do que esperar do amanha - sem esperar que à vida possa mudar algo, assim ele pensava. Avistava da janela do apartamento, a cidade silenciada, nem um barulho aparentemente. As casas e apartamentos apagados, anunciando a calmaria e o descanso para um novo amanhecer. Pensava no que se passava dentro daquelas casas, daqueles apartamentos, gostava de ficar imaginando se ali naquelas moradias, moravam casais, jovens, senhoras aposentadas, familias completas, ou gente igual a ele, só perdido pelo o mundo. No céu algumas estrelas fariam companhia até o sol nascer, ele não tinha nada a perder, apenas lamentar, o erro que causou tudo aquilo. Cervejas e guimbas espalhadas pelo o chão, o olhar embriagado, se perdia no meio daquela cidade, que ele mal conhecia. Enquanto num quanto qualquer ela se encontraria talvez só, ou talvez acompanhada. Preferia acreditar que ela passava por tudo aquilo que ele passava também. Rompeu o silêncio da madrugada e de seus pensamentos impertinentes, colocou o disco que ele tanto gostava, que um velho de barba branca colocava sua melancolia e tristeza para fora - misturado ao sabor da boêmia. Na vitrola ele podia ouvir: eu bebo um pouquinho para ter argumentos... Cantarolava, dizendo, que aquela música nunca seria apagada de seu imaginário, lamentava que as coisas tinha tomado novos rumos, outros olhares. Mas isso não vinha ao caso, queria apagar tudo aquilo da cabeça, mas tudo que ele olhava lá estava ela, zombando do tempo perdido, rindo da profundeza que ele se encontrava e não sairia tão cedo. No fundo acreditava que dores são e serão sempre passageiras. Que a paixão não mata, apenas fere o peito daquele que se entrega em busca do amor. Caminhou pelo o apartamento reparando no espaço vazio, sem brilho, sem o perfume dela. Lembrou de outrora, quando sua presença iluminava aquilo tudo, quando seu perfume deixava um aroma de paz espalhado pela casa. Lembrava quando ela sai nua do banho e caminhava pela casa, deixando suas pegadas no taco de madeira da sala. Reparava no canto dela, o quanto gostava da sua comida, dos seus temperos, agora tudo aquilo perdeu a graça por onde ele olhava, tudo estava vazio e sem alma. Tudo se transformou. Sentou por um instante na velha poltrona envelhecida que comprou num brechó. Seus pensamentos ausentes dele, parecia perdido, parecia esquecido, por um momento olhou para o telefone no canto da sala, decidiu que gostaria de escutar a voz dela, apenas um alô já seria capaz de relembrar tudo que viveu, mas mudou de idéia. Preferiria assim trancado na solidão, trancado na tristeza, na melancolia. Afinal tudo parecia mais vazio que ele naquela cidade, naquele noite, naquela madrugada vazia.

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