domingo, 20 de dezembro de 2009

TEMPO DE FESTA

É tempo de festa, todos celebram a época, curtem o tempo que virá para farrear, para viajar, para festejar um novo ano que vem pela frente. Confesso que não penso em nada disso, aliás devo e farei uma confissão aqui, neste humilde espaço. Nunca passei um natal e um ano novo fora da minha cidade, nunca joguei flores no mar, nunca pedi nada para o papai noel. Hoje voltando do supermercado fui remetido para o passado - ao meu tempo de menino. Criado com muito esforço pela minha mãe e pelo o meu pai ( embora minha mãe não concorde), meu pai foi importante. Era tempos difíceis, meu pai trabalhava em dois empregos, quase não parava em casa, minha mãe também trabalhava fora. O dinheiro era suado, quase não dava para o orçamento. Tirava alimentação, a prestação do terreno, o material da construção, as roupas minha e do meu irmão, e pronto o dinheiro chegava ao fim. Porque conto isso? Conto porque hoje estive no mercado, estive reparando nos milhares presentes, comprando tudo pela frente, para fazer aquele banquete, que a época pede. Me lembrei do passado - o quanto eu esperava ansioso pelo natal. E conseqüentemente pelo banquete. Mas o banquete era modesto, o de sempre, um velho peru, uma maionese, uma farofa, alguns litros de refrigerante e pronto, a santa ceia estava pronta. Ficava na rua o dia inteiro contando os minutos para sentar na mesa e devorar aquilo tudo, enquanto empinava pipas, corria, girava palha de aço com fogo, me lembrava da ceia. Nunca tive um natal maravilhoso, como disse, era tempo de aflição. Meu pai, era ausente, bebia além da conta, quando chegava em casa, minha mãe quebrava o pau, e logo vinha a brigaria. Vizinhos entrava no meio do fuzuê, enquanto eu e meu irmão chorava no meio deles tentando conter a briga. Por muitas vezes, sai de casa, com o rosto vermelho do choro, para esquecer tudo aquilo e passar um natal maravilhoso, acreditando que o ano que vinha pela frente seria diferente, mas era vã essa idéia. Me refugiava na rua, ia na casa dos vizinhos, mas tudo aquilo era banal. Apesar de ser criança, ter menos de 10 anos de idade, eu me recordo de tudo. Minha mãe tentava, se lamentava que tudo aquilo tivesse acontecido. Muitas vezes, sentávamos a mesa, mal a comida descia. Conforme disse, me lembrei disso. Fui até o mercado para comprar o peru, confesso que o que mais gosto nessa época é o peru. Não levei. Sai do mercado de mãos vazias, não foi pelo o preço, e sim pelas lembranças que me veio na mente. Olhos marejados lamentando tudo que passei na vida, tudo que a minha família passou, a ausência do meu pai ( hoje mais presente). Para mim o natal perdeu o sentido, mesmo com a família reunida em volta da mesa, o banquete, perdeu a graça. Não esqueci o meu tempo de menino, o quanto sofri, sempre almejei paz na minha vida, mas o tempo de sofrimento não me deixa. Prometi para mim mesmo, que se fosse me dado a sorte de constituir uma família, ela não passaria jamais pelo o que passei. Abri uma cerveja reparei da minha varanda o vazio daquela rua e me vi ali naquela lembrança de outrora - correndo, empinando pipa, rodando palha de aço, querendo esquecer os adultos e seus conflitos. Querendo buscar o sentido nisso tudo, querendo entender o que é viver e seu sentido.

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