quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VACILÃO

Isaías era um sujeito que não me descia, vai ver por causa do nome, ninguém pode ser gente boa com este nome, além do mais é bíblico. Isaías fazia questão de papear comigo - puxava assunto, falava do futebol, de política, de mulheres, de religião, eu nem ai, apenas querendo saborear uma cerveja e pensar na vida, aliás devo aqui confessar, que não sou muito de conversa fiada ou o assunto vale à pena ou cale a boca. Isaías dizia que sempre ganhava no bicho, chegava no buteco e pagava uma rodada de cerveja para todos ali presente, alegando que acertou a milhar, e gritava deu viado na cabeça, alguns zombavam dizendo:

- viado?

O assunto continuava, uns querendo puxar o saco, lhe agradecia tamanha gentileza, eu nunca aceitei nada do camarada, meu santo não batia com o dele. Isaías se dizia também, cristão, ou melhor evangélico, vivia pregando uns papos que aqui era o purgatório, que outra vida melhor viria. Nunca cai no papo, alegando que eu tinha minhas crenças, e preferia acreditar num copo de cerveja, no que naquele papo idiota. Por uns tempos o malandro me deixou na minha, quando chegava no buteco com apenas um aceno de mão me cumprimentava, eu lhe retribuia com um balanço de cabeça. Dizia sempre para o Baixo dono da espelunca que não ia com a cara daquele camarada, que era ele chegar e o meu humor mudar, baixo eterno malandro, dizia, que gostava nele, apenas o quanto ele gastava no bar, apenas isso. Se dizia o eterno conquistador da mulherada, que nenhuma mulher passava em branco na sua, que era chavecar e a mulher ir na dele. Para variar nunca acreditei na dele, e imaginei o tipo de mulher que caia no papo dele. Numa noite dessas qualquer, noite de buteco vazio, sem movimento, apenas as moscas para encher o espaço, chegou um traveco, o nome dele era Alexandra, todos ali conhecia a fama do traveco, sentava num canto dele ou dela sei lá, pedia sua cachaça com limão e uma brahma gelada, acendia um cigarro e lá ficava, todos o respeitava, pois malandro que é malandro, não atravessa na de ninguém. Isaías cabra conhecedor da vida, das mulheres, afinal de tudo, se aproximou querendo bater um papo. O pessoal que estava lá presente, olhou de lado, dando um riso singelo. Pediu mais uma cerveja e um copo, e ficou lá de papo com o traveco, por sinal o mais veio que vi na minha vida. O baixo, alertou, vai dar merda! Isaías dava risada, o traveco também, os dois riam, ninguém entendia nada do riso e da alegria deles, mas todos de ouvidos atentos para saber o rumo do papo. Quando num gesto de rebeldia, o traveco se levantou, para o espanto de todos, e falou:

- Fila da puta, você me respeita, seu merda. Olha que eu pico a mão na tua cara.

O buteco ficou silencioso, todos prestando atenção. Quando o traveco, brabo, gritou:

- Põe esta piroca pra fora, põe! Eu quero ver se é grande, ou se é uma minhoca.

Isaías parecia não acreditar, ficou vermelho, todos ali dava risada, gritando:

- Põe a piroca pra fora, Isaías, vamos ver!

O traveco já injuriado, de quebra lançou:

- Você é um merda, devia é enfiar a minha piroca no teu cú, seu fila da puta, tá com cara que você gosta é disso.

O buteco veio abaixo, eu gargalhava, todos começaram à gritar:

- Põe nele, põe nele.

O traveco abriu a carteira colocou uma nota em cima do balcão, e foi rebolando em direção a rua. Isaías um tremendo vacilão, ficou com aquela cara de babaca, parado, olhando todos ali zombando da cara dele.

É meus caros, buteco é assim, vacilou o bicho pega, ou melhor põe a cabeçinha.

Até.

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