sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SOLIDÃO NOTURNA

Sempre que posso, conto aqui algumas histórias que muitas vezes vejo e escuto, ou fruto de minha imaginação. Da aonde vem não importa, são pequenos pedaços, são pequenas metáforas que trago até aqui. Hoje não será diferente. Como disse por aqui algumas vezes, o drama humano é o mesmo, a carência, as riquezas, a pobreza, o caráter, a dignidade, a fraqueza, o silêncio, a solidão. Nesta noite de natal, data excelente para se fazer um levantamento da vida, o que de certo fez, e o que poderia ter feito. É claro, que muitas são às vezes que não acertamos, que erramos, isso faz parte, pois somos humanos. O mais importante é tentar, não importa se erramos, vale tentar. Vale tentar ser melhor, vale a pena ser feliz, vale a pena amar, vale a pena ter esperança, vale a pena manter a chama sempre acessa. Assim temos a certeza de que aqui na terra, faremos um lugar mais digno para se viver. Porque digo isso? Digo ou melhor escrevo, pois muitas vezes estive reparando ao meu redor, vi muitas luzes apagadas, vi muitas pessoas se entregando, vi muitas pessoas se matando. E não é por isso que estamos por aqui. Ontem numa das minhas andanças, depois da ceia natalina junto com a família, caminhando pelas ruas do meu bairro, este lugar esquecido por muitos, reparei nas casas, reparei nas ruas, reparei na solidão, reparei no barulho. Época que todos passam juntos, assim propagado pela mídia, pela televisão. Mas não esquecemos que nem todos são assim, tem família por perto. Ontem, um fato que me chamou bastante atenção, foi um senhor sentado ao fundo do buteco sozinho. A solidão daquele homem me comoveu, não sei explicar, mas algo nele me comoveu. Pedi a minha cerveja, o buteco estava lotado - música no volume alto, todos ali presentes parecia não reparar naquele canto o senhor escondido parecendo não estar ali presente. O tempo que ali estive, fiquei reparando em sua fisionomia. Parecia um tanto solitário, um tanto chateado. Na sua mesa, algumas garrafas vazias, alguns copos. Me pareceu que ele já tinha bebido todas. Quando falava alguma coisa era para pedir outra. Reparei que ele prestava atenção nas músicas, que cantarolava algumas delas. O alento para sua alma ferida. Enquanto no meu canto reparava tudo aquilo, alguns jovens casais bebendo suas bebidas, se beijando, se amassando festejando a arte do encontro, aquele senhor sentado ali, parecia ausente de tudo. Olhei na sua fisionomia tentando reconhecer ele de algum lugar, de algum buteco, mas não apareceu na minha lembrança. Então perguntei para o dono do bar, se ele aquele senhor era do bairro, se freqüentava ali. O bigode disse que sim, que passava todas as noites por ali, mas que não sabia nada sobre ele, nem o nome. Sentava sempre no mesmo lugar, na mesma mesa, suas bebidas era as mesmas. Também não conversava com ninguém, que só saia dali, quando fechava as portas, muitas vezes raiando o dia. Tentei mais me contive, de se aproximar para puxar um papo, para saber algo a respeito do malandro. Me contive, não tive coragem. Fiquei apenas imaginando a solidão daquele homem neste mundo, milhares presente, milhares de conversas ao seu lado, e ele perdido talvez numa lembrança de outrora. Me levantei caminhei em direção da rua, acendi um cigarro, reparei na rua, aquele silêncio interrompido apenas por alguns jovens que caminhavam. Pensei no menino jesus, em Deus, na santa ceia. Nos milhares por ai que vivem no descaso, debaixo de pontes, dormindo debaixo das coberturas. Nas crianças que morrem a todo momento na grande cidade. Por um momento senti que ia chorar, meus olhos marejaram, pedi a saideira, sentei na calçada, e pus-me a repensar nos valores que temos que ter, o ser humano que temos que ser, a luz que jamais pode se apagar, na esperança que temos que ter.

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